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Entrevistados cadeirantes (Cesar Scodro, Luciana de Souza e Maria Antonia Ferreira)

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Vivendo com a deficiência física

Criado em 08/12/12 16h35 e atualizado em 08/12/12 17h54
Por Luanda Lima Fonte:EBC

Maria Antonia Ferreira
“O fato de você ser cadeirante não impede o seu ir e vir. É um direito de todos”, diz Maria Antonia

Segundo dados do Censo 2010, 7% da população, ou 13 milhões de indivíduos, convivem com alguma deficiência motora. A porcentagem total de pessoas com deficiência no país, 24%, corresponde a quase um quarto da população, mais de 45 milhões de brasileiros. Apesar de serem números grandes demais para serem ignorados, muitas vezes é isso o que acontece. Grande parte das pessoas com deficiência ainda se sente invisível, tanto para as autoridades quanto para o restante da sociedade. No cotidiano dos portadores de necessidades especiais, infraestrutura urbana hostil, incompreensão e desrespeito a seus direitos são habituais. A repórter Luanda Lima, do Portal EBC, conversou com Maria Antonia Ferreira, Cesar Scodro e Luciana de Souza. Os três, que passam por reabilitação motora no hospital Sarah-Brasília, falaram sobre seu dia-a-dia.

“As pessoas olham como se você tivesse uma doença transmissível”, diz Maria Antonia Ferreira, de 33 anos, que vive em Jaraguá do Sul (SC) e ficou tetraplégica após um acidente automobilístico no ano passado. Após o acidente, ela parou de trabalhar, mas continua levando uma vida ativa, apesar do preconceito. “Eu saio muito. Vou ao shopping, ao cinema, frequento a casa de algumas pessoas, mas vejo uma grande dificuldade quando saio na rua. Parece que você é um ser de outro planeta”, conta.

“Já ouvi um policial dizendo que se eu não tinha condições de sair de casa, deveria ficar lá”, relata. “Para muitas pessoas que dependem de transporte público, é o caos. Muitas vezes, os motoristas de ônibus dizem que o acesso para deficientes está quebrado e que devemos esperar o próximo, mas é só para não precisar parar e nos ajudar a subir”, diz. Maria Antonia relata ainda que, ao sair de carro com o marido, já flagrou uma viatura policial parada na vaga para deficientes. Os obstáculos não param por aí. “Muitos bancos não estão adaptados para receber um deficiente, não há banheiros e muitos supermercados têm um monte de degraus. A acessibilidade ainda é muito limitada”, lamenta. “O fato de você ser cadeirante não impede o seu ir e vir. É um direito de todos”.

Mesmo com os entraves, Maria Antonia, que tem planos de cursar Direito na universidade, não perde o ânimo. Pelo contrário. “Faço muitas coisas e, a cada dia, tento fazer mais. Se puder, também vou ajudar outras pessoas”. E completa: “Não é só a questão do deficiente em uma cadeira de rodas. Existem os idosos e os deficientes visuais, por exemplo. Se nós cumprimos com os nossos deveres, temos que ser ouvidos e respeitados ao cobrar nossos direitos”.

Cesar Scodro
"Levo uma vida praticamente normal, dentro das limitações”, diz Cesar

Cesar Scodro sofreu um acidente aos 14 anos e usa a cadeira de rodas desde então. Hoje, aos 38, vive em São Marcos (RS). “Precisei parar de estudar, pois não havia um colégio adaptado. Em casa, havia escadas e as portas eram estreitas, então eu dependia de alguém que pudesse me carregar”. Com o passar do tempo, as coisas começaram a melhorar. “Voltei a estudar, me formei em Administração na faculdade, fiz pós-graduação e hoje trabalho. Vivo numa casa térrea e adaptada. Levo uma vida praticamente normal, dentro das limitações”, diz.

Sobre o mercado de trabalho, Cesar critica o padrão seguido para a oferta de vagas para deficientes. “É importante que as empresas estejam adaptadas, mas muitas só oferecem vagas especiais porque são obrigadas por lei e não porque não existe discriminação ou pelo reconhecimento da capacidade do deficiente. A maioria das vagas é para operações básicas. Para pessoas com nível superior, elas não existem”, afirma.

Cesar se candidatou a vereador nas últimas eleições, mas diz que muitos prédios públicos de sua cidade não têm acesso para deficientes. “Quando fui dar minha primeira entrevista em uma rádio municipal, me deparei com dois lances de escada para chegar ao elevador”. Sobre a falta de estruturas acessíveis, relata ainda: “As calçadas não são feitas para que um cadeirante possa circular e as rampas nas esquinas estão fora do padrão.

Apesar de notar um aumento da conscientização pública desde a época de seu acidente, Cesar acredita que ainda há muito para melhorar. “Uma vez, eu estava em um shopping center e havia várias vagas livres para deficientes. Parei em uma e estava montando minha cadeira de rodas, quando chegou uma moça e estacionou ao lado. Ela, que não era deficiente, saiu do carro e veio me dar explicações: ‘Olha só, tudo lotado nas vagas para gente normal. Só tem vaga livre para deficiente e idoso. Nem precisa de tantas”, conta ele, que fotografou o carro da mulher e publicou a imagem em seu perfil no Facebook como forma de denúncia.

Luciana de Souza
“A falta de conscientização é muito grande”, afirma Luciana (Luanda Lima/Creative Commons)

“Como eu posso ir ao cinema se ele não é adaptado?”, pergunta Luciana de Souza, que mora em Cianorte (PR) e tem 24 anos. Ela é cadeirante desde os 18 anos, devido às sequelas da mielomeningocele, doença do sistema nervoso que ocorre ainda durante a gestação, quando estruturas da coluna não se fecham adequadamente.

“A falta de conscientização é muito grande”, afirma Luciana. Para ela, as limitações estão por toda parte. “Em uma agência bancária na minha cidade, esquecem que nem sempre o deficiente vai dirigir e que ele pode estar no banco do carona. Ao lado da vaga de deficiente, há uma lixeira, um poste e uma árvore antes da rampa”.

Antes de passar no vestibular para Jornalismo, Luciana trabalhava recentemente como caixa em uma loja. “Existem cotas para deficientes físicos em uma empresa, mas ela deve estar adaptada para recebê-los. Aí há um conflito, pois às vezes há apenas a contratação do deficiente, mas não a adaptação do ambiente para que ele esteja ali”, conta. “Na minha cidade, a maioria das pessoas está dentro de casa e muitos não sabem sobre os seus direitos”, relata a jovem, que integra uma associação de deficientes em sua cidade. Para ela, a mobilização e a difusão de informações são o caminho para alcançar uma maior inclusão das pessoas com deficiência na sociedade.

 

Creative Commons - CC BY 3.0

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