one pixel track analytics scorecard

Digite sua busca e aperte enter


Manifestação em frente ao Consulado Mexicano no Rio. Estudantes se reuniram para protestar e exigir que o governo do México investigue os responsáveis pelo desaparecimento de 43 estudantes

Imagem:

Compartilhar:

Impunidade gera medo e faz com que parentes de vítimas prefiram o silêncio

Criado em 21/11/14 14h21
Por Leandra Felipe Edição:Lílian Beraldo Fonte:Agência Brasil

Apenas três em cada 100 crimes cometidos no México em 2013 foram julgados. No país, a média de crimes que não entraram na estatística oficial chegou a 93,8% - um aumento de 18% em relação ao ano anterior. Os números fazem parte da Pesquisa Nacional sobre Vitimização e Percepção de Segurança Pública (Envipe – sigla em espanhol), divulgada em outubro pelo governo do país.

No estado de Guerrero, onde a Agência Brasil esteve no início de novembro, a maioria das pessoas entrevistadas se esquiva de falar sobre o que acontece na região. O estado é o local que mais registra crimes não denunciados, 96,7%.

Foi com relutância que a viúva de um guarda de trânsito assassinado há três anos conversou com a reportagem. Moradora da cidade de Taxco, a comerciante prefere não falar do passado e pediu para não ter a identidade revelada.

Leia também no Portal EBC:

Entenda o caso dos 43 estudantes mexicanos desaparecidos em Iguala

Desaparecimento forçado sinaliza crise humanitária no México, dizem especialistas

Impunidade gera medo e faz com que parentes de vítimas prefiram o silêncio

Funcionária de um supermercado, ela diz que teve de se reinventar, após perder o companheiro de 22 anos, com quem teve três filhas. “Antes eu era dona de casa e só cuidava das minhas filhas. De repente virei a provedora da família”, diz a comerciante, que reconstruiu a vida do ponto de vista financeiro, mas não esconde as marcas que a morte brutal deixou em sua história.

“De como o mataram eu não falo, não consigo. Sempre que alguém me pergunta, eu quero chorar”, desabafa.

Amigo da vítima, um guarda de trânsito da região – que só aceita conceder entrevista sob anonimato – conta que o marido da comerciante foi morto depois de ter apreendido, em 2011, uma moto com drogas.

“Os caras dos cartéis de droga ficaram bravos e o levaram para o morro”, diz, apontando para as montanhas que cercam a cidade.

Ele foi torturado e assassinado. O corpo foi encontrado cerca de uma semana depois, mas o caso nunca foi esclarecido e os envolvidos não foram punidos.

“Se você é honesto aqui, você sofre muita pressão. Meu amigo só fez o trabalho dele e pagou com a própria vida”, comenta o guarda de trânsito que também já sofreu ameaças ao longo de 53 anos de profissão.

Na região, também há denúncias de detenções arbitrárias, para ocultar os verdadeiros responsáveis pelos crimes.

É o caso do episódio envolvendo uma das irmãs do taxista Zenon Contreras, 41 anos.  Margarita Contreras, 39 anos, é policial e estava de plantão no Museu Ferrocarril, em Iguala, no dia do desaparecimento dos jovens. Segundo o taxista, ela permaneceu no local até as 8h do dia 27 de setembro.

Dias depois do desaparecimento dos jovens em Iguala, entretanto, a procuradoria do Estado ordenou a detenção de alguns policiais sob acusação de envolvimento no episódio. Margarita foi apontada por uma “testemunha anônima” como um dos policiais que estava no local.

A família já apresentou provas de que ela esteve, durante todo o plantão, no museu – local diferente e distante de onde os estudantes foram raptados, no norte de Iguala.

"Ela não estava no lugar e detestava violência. O governo do estado não quis aceitar os testemunhos a favor dela, inclusive o da diretora do museu", diz o taxista. Ele conta que o caso de Margarita não é único e que há outros policiais detidos que não estão envolvidos no sumiço dos estudantes.

“Nós sofremos muito com isso, minha irmã é honrada, honesta e estava fazendo um curso para ser paramédica, porque queria deixar a polícia. A gente vê que quem deveria estar preso não está", critica.

A Anistia Internacional no México confirma a existência de casos envolvendo erros cometidos pela Justiça e por integrantes da polícia.

“Identificamos detenções arbitrárias em diversos crimes e, muitas vezes, casos de prisão de pessoas que não tinham a ver com os delitos cometidos”, afirma Chasel Colorado, coordenadora de incidência da Anistia Internacional no país.

Ela acrescenta que, em muitos casos, não são resguardados o direito da presunção de inocência dos acusados e o devido processo legal.

Diretor do Comitê de Familiares e Amigos de Sequestrados, Desaparecidos e Assassinados do Estado de Guerrero, Javier Monroy diz que há registros de mais de 600 desaparecidos e 2 mil assassinatos desde 2007, ano em que o comitê iniciou as atividades.

Para ele, o mais grave com relação aos dois crimes é a forma como a sociedade mexicana justifica essas ações transformando vítimas em corresponsáveis. “Aqui, no México, há uma máxima sobre desaparecimento ou assassinato que fala que, se aconteceu alguma coisa ruim com uma pessoa, é porque ela estava fazendo alguma coisa errada”, comenta. “Isso reproduz impunidade”, lamenta.

Editora: Lílian Beraldo

Creative Commons - CC BY 3.0

Dê sua opinião sobre a qualidade do conteúdo que você acessou.

Para registrar sua opinião, copie o link ou o título do conteúdo e clique na barra de manifestação.

Você será direcionado para o "Fale com a Ouvidoria" da EBC e poderá nos ajudar a melhorar nossos serviços, sugerindo, denunciando, reclamando, solicitando e, também, elogiando.

Fazer uma Denúncia Fazer uma Reclamação Fazer uma Elogio Fazer uma Sugestão Fazer uma Solicitação Fazer uma Simplifique

Deixe seu comentário