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Jovens de comunidade com obras do PAC reclamam espaços de lazer

Criado em 04/03/15 20h27 e atualizado em 04/03/15 20h30
Por Flávia Villela - Repórter da Agência Brasil Edição:Stênio Ribeiro Fonte:Agência Brasil

Uma das comunidades beneficiadas pelos Programas de Aceleração do Crescimento (PAC) 1 e 2, a Favela do Mandela, no Complexo de Manguinhos, zona norte do Rio de Janeiro, foi palco hoje (4) de um protesto organizado por jovens e adolescentes, com o apoio do Movimento Rio de Paz, filiado ao Departamento de Informação Pública da Organização das Nações Unidas (ONU). Eles reclamaram da falta de espaços de lazer e da poluição do rio que margeia a comunidade.

Os investimentos da primeira etapa do PAC, de mais de R$ 570 milhões, não chegaram à localidade. A única opção de lazer das milhares de crianças e adolescentes da região é o Rio Jacaré, que carrega em suas águas cerca de 3,5 milhões de coliformes fecais por 100 mililitros, entre outros elementos nocivos à saúde humana, segundo dados do Instituto Estadual do Ambiente (Inea).

Trabalhador da construção civil, o jovem Cleiton dos Santos, 22 anos, nada no rio desde criança, à revelia da mãe. “Para mim, a melhor coisa que tem é pular no rio. Mas acho que é mais fácil ver esse rio secar do que ser limpo”, comentou ele pouco antes dar um salto mortal no Jacaré. O único campinho improvisado que havia foi ocupado pelos contêineres da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), inaugurada em janeiro de 2013. Para usar a única quadra construída pela sub-prefeitura é preciso pagar R$ 2 aos “administradores” do espaço. “A gente acordava de manhãzinha, o sol fresquinho, dava aquela corrida para esquentar o sangue, mas agora não tem mais isso, ficamos olhando quem tem dinheiro jogar”, comentou.

O presidente do Rio de Paz, Antônio Carlos Costa, lamentou que às vésperas das Olimpíadas pouco tenha sido investido na limpeza dos rios da cidade. “Não é possível que crianças nesta cidade vivam em situação tão sub-humana. Esta cidade está realizando uma competição esportiva bilionária, que deve deixar um legado para essas crianças”, disse ele, que desenvolve trabalhos sociais com a comunidade desde 2009.

“As crianças acordam e não têm praticamente o que fazer. É um mar de crianças, e não há espaço para a prática de esportes. Eles não têm o que fazer, e resta, como opção, lançar-se neste rio imundo, que inclusive deságua na Baía de Guanabara, onde ocorrerão as competições de Iatismo das Olimpíadas”, alertou.

Grávida de oito meses, a dona de casa Valquíria dos Santos Abreu, 26 anos, disse que os quatro filhos saem da escola e passam o restante do dia na rua. “Eles brincam correndo para cima e para baixo, parquinho não tem não. De vez em quando eles colocam umas cordas nas árvores e ficam balançando”, contou.

Pelas ruelas da comunidade o que mais se vê são crianças e lixo. Ao longo do rio, pilhas de escombros de casas demolidas. A presidenta da Associação dos Moradores do Mandela 1, Jaqueline de Paula, 42 anos, informou que a Companhia de Limpeza Urbana (Comlurb) faz coleta diária na comunidade, mas as montanhas de lixo e entulho duram meses, atraindo insetos e ratos. “Os moradores reclamam que os ratos vivem invadindo as casas. Queria muito que o prefeito [Eduardo Paes] viesse aqui. Acho que ele nem imagina a situação em que estamos”. Jaqueline estima que atualmente cerca de 12 mil pessoas vivem ali. Até o fechamento da matéria, a Comlurb não havia se pronunciado a respeito dos entulhos deixados na comunidade.

Segundo estimativa do governo do estado, cerca de 35 mil pessoas vivem no Complexo de Manguinho, em uma área de mais de 870 mil metros quadrados (m²), ocupada principalmente por barracos e casas precárias. A primeira fase do PAC, segundo o governo do Rio, foi responsável por  uma praça de mais de 35 mil m², um parque aquático com piscinas, ginásio com quadra poliesportiva e vestiários, uma biblioteca parque, um Centro de Referência da Juventude, escolas e unidades de saúde.

A Empresa de Obras Públicas (Emop) que responde pelas obras do PAC no estado, explicou que as obras da região fazem parte do PAC 2 Jacarezinho, que está em fase de projeto e orçamento em análise pela Caxa Econômica Federal. A assessoria da Emop disse que aguarda liberação de verbas do governo federal para iniciar a tramitação dos processos licitatórios. As obras contemplam infraestrutura na região, abertura de vias, iluminação pública, abastecimento de água, esgotamento sanitário, construção de equipamentos públicos, reforma de praças e áreas de lazer, entre outras ações, além da construção de mais 2.240 novas unidades habitacionais.

No site do PAC 2, referente a Manguinhos, constam gastos de mais de R$ 38 milhões em obras de urbanização e R$ 593 milhões em saneamento integrado e urbanização, ainda em execução, e de R$ 96 milhões em saneamento integrado e urbanização, já concluídos.

Editor Stênio Ribeiro
Creative Commons - CC BY 3.0

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