one pixel track analytics scorecard

Digite sua busca e aperte enter


Mímica ajuda a entender papel do corpo no teatro

Imagem:

Compartilhar:

Mímica ajuda a entender papel do corpo no teatro

Criado em 15/07/12 11h21 e atualizado em 15/07/12 11h29
Por Agência USP de Notícias

Mímica (2)
Cecília Rippol e Aline Sampin apresentam número de contorcionismo com mímicas (Foto: Guilherme Lima/TV Brasil/Creative Commons)

A mímica não é a arte do silêncio, mas, sim, a dramaturgia do corpo. É isto o que afirma Eduardo Tessari Coutinho, ator, pesquisador e professor do Departamento de Artes Cênicas (CAC) da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP. Docente da USP desde 1990, ele introduziu o ensino da mímica na graduação em Artes Cênicas e hoje desenvolve a pesquisa O texto corporal do ator em cena, sobre dramaturgia corporal, a partir dos princípios da mímica.

“Dramaturgia corporal é a escrita que o ator faz com seu próprio corpo em cena”, explica Coutinho, que argumenta que a voz faz parte do corpo, e que, por isso, a mímica não deve ser entendida apenas como a arte do silêncio. Qualquer espetáculo, mesmo falado, pode contar com esse elemento combinado a tantos outros. A construção da cena depende da dramaturgia de cada ator, independentemente do estilo e estética do espetáculo.

É este o aspecto da mímica estudado por Coutinho: sua inserção no todo. “Na pesquisa não faço a dissociação entre texto e corpo. Isto é, a dramaturgia do ator puxa esses elementos. Há horas em que o que conta é o movimento, em outras é o que se fala, ou os próprios elementos da encenação”, conta ele.

A mímica e seus componentes sempre estiveram presentes na história do teatro. Coutinho explica que o mimo (o ator que se utiliza de técnicas da mímica) marcou épocas como a Antiguidade Greco-romana e a Idade Média. E não necessariamente eles faziam um teatro mudo. Mas, sim, utilizavam o corpo para que todo o público aglomerado à sua volta entendesse o espetáculo, uma vez que não contavam com aparelhos sonoros que permitissem que as falas chegassem aos ouvidos de todos.

Na formação do ator, no entanto, a participação da mímica ainda é bastante questionada, segundo o professor. Ainda assim, diz ele, é possível perceber a presença da dramaturgia corporal na formação de alguns grupos e atores, embora ela seja pouco valorizada.

Pesquisa
Os esforços dos estudos de Coutinho são voltados especialmente para o desenvolvimento de procedimentos que auxiliem o ator a ter melhor compreensão de sua posição em cena e daquilo que ele expressa. O pesquisador explica que “é importante que o ator entenda que qualquer mínimo detalhe pode alterar completamente a comunicação daquilo que ele criou enquanto artista”, dando a ele maior independência em cena.

A pesquisa de Coutinho acontece em cena e baseia-se, predominantemente, em dados empíricos. “Desenvolvo elementos teóricos, mas só entendo se funcionam ou não quando estou no palco. O processo é fechado quando vou para a cena”, conta. A partir dessas experiências, que representam estímulos aos atores – entre os quais o próprio pesquisador –, são selecionados aspectos que tenham qualidade de pesquisa e o professor passa a trabalhar com isto.
 

Mímica (1)
Mímica é usada em campanha de conscientização de pedestres nas ruas de São Paulo (Dê Preferência à Vida/ Creative Commons)

Para auxiliá-lo em seu trabalho, o docente conta com um grupo que tem cerca de sete outros atores, que se engajam conforme cada proposta de pesquisa. Coutinho costuma assumir o papel de diretor, mas também pode ser visto em cena. “O diretor não é quem concebe o espetáculo propriamente dito, mas é quem aplica todos os procedimentos nos atores e pode observá-los. Depois, quando estou em cena, tento aplicar em mim aquilo que vejo”, diz.

O trabalho de Coutinho conta com algumas ramificações, entre elas estudos de improvisação. Apesar de não ser o foco principal do projeto de pesquisa, a improvisação, a que o artista chama também de “jogo”, acopla-se a ela por ser um dos instrumentos utilizados na atuação.

Além de espetáculos encenados pelo próprio grupo, Coutinho conta que busca aplicar a pesquisa em outras peças para as quais é convidado e até mesmo em projetos de cultura e extensão que ajuda a desenvolver na área da saúde. “O corpo expressivo potente está presente em todos os lugares. É um instrumento do ator, mas tem uma aplicação mais ampla do que apenas no teatro”, explica.

Inserção
Desde 2010, o grupo tem participado de uma série de festivais de teatro na América Latina, nos quais, além de discutirem atuação, apresentam peças, fazem intervenções e promovem algumas oficinas voltadas para a dramaturgia corporal.

Coutinho conta que, além do reconhecimento internacional, um dos aspectos mais interessantes da integração do grupo a estes festivais é a repercussão dada a seu trabalho, por se diferenciar do teatro produzido por outros grupos latinos. “O teatro da América Latina é predominantemente formado por grupos independentes, muitos deles políticos. Eles têm na palavra, que é de protesto, o seu centro de trabalho. Então eles ficam muito intrigados com a possibilidade de ficar uma hora em cena sem usar a palavra para se expressar”, relata.

Esta diferenciação promove uma imensa troca de experiências. O professor comenta que as atividades em que seu grupo envolve-se contribuem para complementar o trabalho dos grupos latinos, mostrando-lhes como o corpo pode falar no lugar da palavra. “Eles percebem que é possível ter um discurso na ação. Complementar ou com o mesmo grau de importância que o discurso verbal.”

Creative Commons - CC BY 3.0

Dê sua opinião sobre a qualidade do conteúdo que você acessou.

Para registrar sua opinião, copie o link ou o título do conteúdo e clique na barra de manifestação.

Você será direcionado para o "Fale com a Ouvidoria" da EBC e poderá nos ajudar a melhorar nossos serviços, sugerindo, denunciando, reclamando, solicitando e, também, elogiando.

Fazer uma Denúncia Fazer uma Reclamação Fazer uma Elogio Fazer uma Sugestão Fazer uma Solicitação Fazer uma Simplifique

Deixe seu comentário