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Glauber Rocha é homenageado na abertura do Festival de Cinema de Brasília

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Crítico se emociona em exibição de Deus e o Diabo na Terra do Sol

Criado em 17/09/14 07h45 e atualizado em 17/09/14 14h51
Por Leandro Melito Fonte:Portal EBC

Glauber Rocha é homenageado na abertura do Festival de Cinema de Brasília
Glauber Rocha é homenageado na abertura do Festival de Cinema de Brasília (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

Brasília - Após a exibição da cópia restaurada de Deus e o Diabo na Terra do Sol, na abertura do 47º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, o crítico de cinema Jean-Claude Bernardet comentou emocionado o valor da obra do cineasta baiano Glauber Rocha, cinquenta anos depois de seu lançamento. "Não estou emocionado por causa do drama, sim porque você vendo isso meio século depois e pensando no contexto cinematográfico da época, como se contava histórias, como se montava, tudo bem organizadinho, tudo bem explicadinho, de repente vem uma coisa que nunca tinha sido vista. É uma obra tão gigantesca que não ficou presa ao seu momento, é muito forte", disse em entrevista ao Portal EBC.

Apesar de destacar a força da obra, Bernardet faz uma observação em relação ao formato da janela utilizado na exibição dessa terça-feira (16) no Cine Brasília. "Eu estranhei a janela, não me lembro que o Deus e o Diabo tivesse uma janela tão quadrada, acho que as vezes o espaço fica bastante modificado em relação à memória que eu tenho do filme. Agora, talvez seja minha memória, mas eu acredito que não, outras pessoas também estão percebendo que esse não é o espaço do filme", comenta.

Novo contexto

Deus e o Diabo foi exibido pela primeira vez no dia 17 de março de 1964 em uma sessão privada, quatro dias depois do Comício da Central do Brasil realizado pelo então presidente João Goulart, que seria retirado do poder por meio de um Golpe Militar dali a duas semanas. Assim como o discurso de João Goulart feito em praça pública, o filme de Glauber trata a questão da reforma agrária, que estava no centro das discussões no país naquele ano. Para Bernardet, o filme mantém sua força no contexto atual. "O filme saiu completamente do seu contexto, da reforma agrária, das agitações anos 60, do Cinema Novo e aí ele se ergue como uma obra absolutamente extraordinária. A tragédia grega quando vista hoje também não está mais no seu contexto. São obras tão poderosas que podem ser reatualizadas por outros momentos históricos, outros públicos", ressalta.

Confira também a programação das atividades do 47º FestBrasília:

Mostra competitiva - 17 a 22 de setembro

Mostras paralelas - 17 a 22 de setembro

Seminários - de 17 a 23 de setembro

Oficinas - de 17 a 23 de setembro
 

Inovação

O filme conta a saga do Manoel (Geraldo Del Rey), pobre e explorado, que depois de assassinar seu patrão passa a peregrinar pelo sertão com sua mulher Rosa (Yoná Magalhães) em busca do mar prometido pelo beato Sebastião. Após a morte de Sebastião, assassinado por Rosa, o casal volta a peregrinar até encontrar um novo líder, o cangaceiro Corisco, remanescente do bando de Virgulino Ferreira, o Lampião, que acabara de ser assassinado. Indicado à Palma de Ouro no Festival de Cannes em 1964, o filme teve idas e vindas com a censura brasileira, recém instaurada no país, e foi liberado sem cortes no dia 16 de julho, com a classificação de impróprio para menores de 18 anos.

Filmado em 1963, Deus e o Diabo apresenta uma grande inovação estética em relação ao filme anterior de Glauber, Barravento, finalizado em 1962. "É prodigioso a transformação que o Glauber operou, porque ele opera uma transformação do espaço, dos atores, da dramaturgia, dos personagens, dos diálogos, da montagem. É uma coisa fantástica", avalia Bernardet. "Foi um passo muito grande, um outro momento em relação ao Barravento", ressalta a atriz Heleza Ignez, que conheceu Glauber na Universidade Federal da Bahia, atuou em seu primeiro filme "A Grande Feira" e chegou a se casar com o diretor, com quem teve uma filha, Paloma Rocha. 

Helena considera que a formação teatral de Glauber foi fundamental para as inovações que o diretor implementou no filme de 1964.  "Hoje, vendo Deus e o Diabo eu vi o menino Glauber, que era meu colega em Salvador, vejo Brecht [Bertold Brecht, poeta e dramaturgo alemão (1898-1956)] saltando no cinema brasileiro, acredito que sem essa formação brechtiana de Glauber jamais sairia esse filme, que estava inclusive muito além do cinema da época". A atriz considera que a grande força de Deus e o Diano está na utilização dos espaços, dos atores e da música. "Claro que a história co filme é completamente louca e glauberiana, mas não é a grande força. A grande força é como ele colocou isso em cena nesses espaços, com essa utilização extraordinária da música", destaca.

Confira fotos da cerimônia de abertura do Festival:
 

Creative Commons - CC BY 3.0

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