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Com enfoques diferentes, duas mostras apresentam um painel simbólico de como o golpe de estado é representado pela sétima arte

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Influência da ditadura no cinema brasileiro é destaque no FestBrasília

Criado em 23/09/14 15h32 e atualizado em 02/01/15 12h47
Por Tássia Martins Edição: Thaísa Oliveira - Fonte:Campus Online*

Ditadura Militar no FestBrasília
Com enfoques diferentes, duas mostras apresentam um painel simbólico de como o golpe de estado é representado pela sétima arte (Ilustração: Gabriela Mutti/Campus Online)

Há 50 anos, um golpe militar abalaria a história do país. Muitas dessas mudanças foram retratadas no cinema brasileiro, tanto em filmes produzidos na época, como em outros feitos após a abertura política. A 47ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro propõe um debate acerca desse período histórico por meio de 12 filmes presentes em duas de suas mostras: Reflexos do Golpe e Luta na Tela.

Com enfoques diferentes, apresentam um painel simbólico de como o golpe de estado é representado no cinema. Segundo Joel Pizzini, cineasta e curador das mostras, esse espaço do festival expõe como os autores de cinema recriaram essa experiência, muitas vezes traumática, através da arte.

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Reflexos do Golpe tem caráter histórico. A mostra reúne seis clássicos que ficaram no imaginário do público e recebe esse nome por trazer obras que, participando ou não do Cinema Novo, foram produzidos por influência da ditadura militar. “Os realizadores ainda estavam vivenciando aquilo. Eram, de algum modo, protagonistas dessa história”, comenta Joel Pizzini.

Essa vertente do festival também contribuiu recuperando filmes que estavam fora do circuito, principalmente por problemas de restauração. Foram produzidas novas cópias em alta definição e em tecnologias atuais, como blu-ray. Isso permitiu que o público assistisse filmes que tiveram função social e caráter revelador sobre o Brasil, proporcionando um debate sob novos estímulos.

Os filmes apresentados pelo festival são: Macunaíma (1969), Bye bye Brasil (1979), Eles não usam black-tie (1981), Iracema – uma transa amazônica (1974), O amuleto de Ogum (1974) e O caso dos irmãos Naves (1967). Nenhum deles participa do movimento conhecido como Cinema Marginal. Segundo Joel Pizzini, um painel mais amplo abrangeria essas produções, que também refletem a ditadura com um olhar ligado à contracultura. Segundo o curador, “O critério de escolha foram os filmes que tematizavam de uma forma mais explícita essa questão dos reflexos. Tínhamos que escolher os mais emblemáticos que tinham cópias disponíveis. Vários que ficaram de fora que mereceriam estar na mostra”, comenta o curador.

Já Luta na Tela atualiza o debate exibindo filmes produzidos após o golpe. Novos autores trabalham a memória desse período com linguagem contemporânea e tratamento mais atual. “A linguagem foi incorporando de elementos de cinema de gênero até recursos de videoclipe, tentando aproximar uma temática mais clássica do universo de um público que desconhece a sua história”, explica Pizzini.

Ele acrescenta também: “Nós ainda temos dificuldades em retratar essa memória recente. Mas têm surgido filmes. O Luta na Tela mostra justamente essa tendência mais contemporânea de jovens realizadores que procuram enfrentar esse tema, que ainda é muito complexo.” Os filmes apresentados que desejam atualizar essas questões, já um pouco mais distantes das novas gerações, são: Cabra cega (2005), Dossiê Jango (2013), Hoje (2011), Ação entre amigos (1998), O ano em que meus pais saíram de férias (2006) e Quase dois irmãos (2004).

Joel acredita que é muito oportuno discutir a ditadura no festival, não só pelos 50 anos do golpe, mas também pelo momento crucial da política que vivemos. Principalmente considerando o desafio de se produzir cinema político hoje em dia, uma vez que o mundo tem configuração mais complexa. Segundo ele, o cinema político, hoje, requer pesquisas muito mais profundas para representar essa realidade e tratamentos psicológicos mais elaborados para que os filmes não se tornem datados. “O cineasta hoje precisa ter uma formação muito sólida pra conseguir dar conta dessa realidade intrincada, com relações de força. Encontrar o equilíbrio entre tratar conteúdos densos marcantes de uma forma libertária. O filme tem que ser libertário, senão ele não atravessa o tempo”, completa.

Expor para guardar
Além de filmes produzidos durante e após a ditadura, outras iniciativas documentam o período e refletem sobre a sua ação na sociedade. Memória da Censura no Cinema Brasileiro é um projeto que reúne mais de 14 mil documentos – entre processos de censura, material de imprensa e relatórios do Departamento Estadual de Ordem Política e Social (DEOPS) – de 444 filmes brasileiros. Coordenado pela pesquisadora Leonor Souza Pinto, a ideia propõe “expor para melhor guardar”. Segundo Leonor, “Conhecer sua história e reconhecer os danos causados é o caminho para impedir que se repita”.

Idealizado em 2000, um dos objetivos da pesquisadora é democratizar o acesso a esta documentação e validar seu caráter de domínio público. Hoje, todos os documentos se encontram digitalizados e reunidos no site www.memoriacinebr.com.br. O projeto tem pretensões de expandir o acervo e tratar também da publicidade censurada na época. Interessados em apoiar a pesquisa podem ajudar financeiramente através do site.

Edição: Thaísa Oliveira - Campus Online*
Supervisão: Ana Elisa Santana

*O Portal EBC e o Campus Online - jornal laboratório de jornalismo da Universidade de Brasília - estão fazendo a cobertura do 47º FestBrasília em parceria, por meio do canal Colaborativo. Clique aqui para ler todas as reportagens da parceria.

 

Creative Commons - CC BY 3.0

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