one pixel track analytics scorecard

Digite sua busca e aperte enter


Mutirão de saúde indígena

Imagem:

Compartilhar:

Estudo do idioma pirahã desafiou teoria consagrada da linguística

Criado em 11/12/14 11h55 e atualizado em 07/07/16 14h30
Por Vitor Abdala Edição:Lílian Beraldo Fonte:Agência Brasil

Mutirão de saúde indígena
 (Daniel Mello/Agência Brasil)

O idioma pirahã, falado por cerca de 400 indígenas que vivem às margens do Rio Maici, no sul do Amazonas, talvez fosse apenas mais uma das dezenas de línguas brasileiras ameaçadas pela extinção não fosse pelo estudo de um linguista americano. As pesquisas conduzidas por Daniel Everett, entre o final da década de 1970 e o início deste século, levaram-no a questionar um conceito consagrado no mundo da linguistica: o da gramática universal, do também norte-americano Noam Chomsky.

Everett chegou aos pirahã como missionário cristão do Instituto de Linguística Summer (SIL). Seu objetivo era decifrar a língua desse povo que, até então, tinha pouco contato com os “homens brancos”, para convertê-los ao cristianismo. A convivência com esses indígenas levou Everett a questionar sua fé, abandonar o trabalho de missionário e virar ateu.

Leia também:

Brasil pode perder 30% de línguas indígenas em 15 anos

Os resultados da pesquisa de Everett, hoje reitor do Centro de Artes e Ciências da Universidade de Bentley, em Massachusetts (EUA), ganharam o mundo há cerca de dez anos, quando ele usou a língua pirahã para questionar os preceitos da gramática universal, de que as estruturas básicas da linguagem nascem com o ser humano sem ser aprendidas.

A teoria de Everett é que a gramática pirahã não contém um conceito básico da “gramática universal”: a possibilidade de “recursividade”, ou seja, inserir frases dentro de outras frases indefinidamente como no exemplo “João disse que Maria disse que Pedro disse que Joana comprou uma casa”.

“Quando você escuta um discurso ou uma história pirahã, você não encontra recursividade em orações individuais. Eles até têm recursividade cognitiva, mas eles não tem recursividade na sintaxe”, explica.

Na hipótese de Everett, a gramática não é algo biológico, mas uma ferramenta aprendida culturalmente, com base nas necessidades de cada sociedade. “A linguagem é um processo de resolver o problema da comunicação e cada cultura tem respostas diferentes. Não vejo nenhuma necessidade de propor uma gramática inata”, diz. A teoria de Everett encontrou várias críticas no ambiente acadêmico, inclusive do próprio Noam Chomsky.

Mas as singularidades do pirahã não param por aí. No idioma, não há palavras para cores ou números. Os objetos são contados em palavras como “poucos” ou “muitos”. “Os pirahã não têm números simplesmente pela sua falta de utilidade nas aldeias. Eles não precisam dos números. Pessoas dizem que números são inatos, mas eles mostram que o ser humano não é tão previsível”, conta Everett.

Os pirahã também são capazes de formar frases inteiras apenas com assobios, um recurso usado durante as caçadas, para evitar afugentar os animais. “Os assobios fazem parte da língua pirahã. É como se eles estivessem mudando de canal. Quando eles assobiam, é simplesmente os tons, alongamento de sílabas e acentuações que você encontraria na fala comum. Não é uma língua diferente, é apenas uma parte especial da língua”, conta.

Segundo Everett, independentemente da polêmica envolvendo seu questionamento à teoria de Chomsky, aprender a língua pirahã e conviver com aquele povo foi uma experiência que mudou sua vida. “Eu aprendi muito com os pirahã, através das palavras deles, a apreciar o mundo em que eu vivo”, diz.

Editora: Lílian Beraldo

Creative Commons - CC BY 3.0

Dê sua opinião sobre a qualidade do conteúdo que você acessou.

Para registrar sua opinião, copie o link ou o título do conteúdo e clique na barra de manifestação.

Você será direcionado para o "Fale com a Ouvidoria" da EBC e poderá nos ajudar a melhorar nossos serviços, sugerindo, denunciando, reclamando, solicitando e, também, elogiando.

Fazer uma Denúncia Fazer uma Reclamação Fazer uma Elogio Fazer uma Sugestão Fazer uma Solicitação Fazer uma Simplifique

Deixe seu comentário