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Allen Ginsberg em 1979: leitura de seu poema Howl (Uivo) marcou o início da geração beatnik

Imagem: Michiel Hendryckx / Wikimedia Commons

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Poema que inspirou contracultura torna-se sexagenário

Criado em 09/10/15 17h26 e atualizado em 09/10/15 18h06
Por Leandro Melito - Portal EBC

Na última quarta-feira (7), a primeira leitura do poema Howl (Uivo) do norte-americano Allen Ginsberg (1926-1997) completou 60 anos. Além de ser a obra mais conhecida do autor, "Uivo" lançou as sementes da geração beatnik, movimento literário, estético e comportamental que questionou valores da época e inspirou a contracultura que viria nas décadas seguintes.

Para o escritor brasileiro Cláudio Willer, a leitura do poema aconteceu no momento que os Estados Unidos estavam prontos para receber aquele tipo de manifestação.  “Eu diria que a sociedade estava querendo se abrir e Ginsberg e os outros falaram o que muita gente estava querendo ouvir. Então foi uma sincronia com um processo de modernização, daquela sociedade e de uma parte do mundo em que vivemos”.

Willer considera que o processo de criação dos beatniks, a forma como aliaram a maneira de escrever as mudanças comportamentais que propunham e vivenciavam é hoje uma fonte de material para o estudo de sua obra.

“Paralelamente a trazerem algo de novo, ou não tão novo mas revitalizado digamos, no plano da conduta pessoal e da expressão literária dessa conduta eles trouxeram muita coisa no plano da criação, o que tem alimentado uma biografia crítica importante, principalmente sobre Jack Kerouac”, aponta.

Outro expoente dessa geração de escritores, também presente na sessão de poesias em que Uivo foi lido pela primeira vez, Jack Kerouac (1922-1969), teve sua principal obra “On The Road” (Na Estrada) lançada em 1957 e adaptada para o cinema em 2012 pelo cineasta brasileiro Walter Salles.

Dificuldades

Publicado ano seguinte a sua leitura, o livro “Howl and another poems” (Uivo e outros poemas) chegou a ser retirado de venda sob acusação de conter material obsceno e provocativo, com referências à violência, homossexualidade, comunismo e lascívia. 

Após longos processos judiciais contra seus editores e vendedores,  voltou a ser vendido em 1957 e alcançou grande tiragem inédita para uma publicação de poesias, ultrapassando a marca de um milhão de exemplares.

Traduzido por Willer, Uivo teve sua primeira edição publicada no Brasil em 1982. Apesar da defasagem em relação ao lançamento dos EUA, o livro também encontrou resistência no mercado brasileiro. “Eu lembro que na década de 80 saia muita coisa e até mais recentemente dizendo que isso é subliteratura, categoricamente recusando o valor literário”, lembra o brasileiro.

Ao avaliar as publicações mais recentes sobre o tema como “Geração Beat” e “Os Rebeldes”, o autor considera que houve uma mudança  na crítica sobre a literatura beatnik mais voltada para o estudo literário das obras. “Houve uma formação de público e um público que já está atento para uma leitura mais literária, lendo as obras dos beats não mais com o impacto em um determinado momento da história mas com a escrita mesmo”, avalia.

Vinho e música

A primeira leitura de Uivo aconteceu em uma galeria de arte em São Francisco. Um dos sócios da galeria o pintor Wally Hedrick, pediu ao poeta veterano Kenneth Rexroth que indicasse jovens poetas para participarem da leitura. 

Localizada na Fillmore Street, a Six Gallery era uma antiga oficina de automóveis transformada em uma galeria voltada exposições de arte e performances. Ginsberg se incumbiu de convidar os outros poetas que participariam do evento: Philip Lamantia, Michael McClure, Gary Snider e Philip Whalen.

O convite para o evento foi assinado por Rexroth, com os seguintes dizeres.. Seis poemas na Six Gallery. Notável coleção de anjos, todos reunidos ao mesmo tempo, no mesmo lugar. Vinho, música, garotas dançando, poesia séria, satori grátis. Pequena coleta para vinho e folhetos. Evento charmoso.

Na ocasião Ginsberg morava em um bairro de São Francisco e estava hospedando o escritor Jack Kerouac. Na noite do evento, ambos pegaram um onibus e depois uma carona com Lawrence Ferlinghetti - editor responsável pela publicação de Uivo - até a galeria.

O evento começou por volta das 20h mas o ponto alto aconteceu por volta das 23h com Ginsberg, o penúltimo a ler. Ele nunca havia lido um poema em público e apresentou naquela noite a primeira parte de Uivo, escrita semanas antes.

Começou com a voz baixa, mas durante a leitura encontrou o ritmo, respirando fundo antes de cada frase e depois lendo cada uma em um só fôlego, incentivado pelo escritor Jack Kerouac com gritos ritmados de apoio.

As frases longas do poema são um encadeamento do versos curtos, “com estrutura semelhante ao hai-kai, três enunciados onde cada uma modifica o anterior”, observou Willer em um de seus textos sobre a obra. Nas primeiras versões, presentes na edição comentada do livro editada em 1986 por Barry Miles, é possível ver que os versos estavam originalmente em linhas separadas.

O evento projetou Ginsberg e seus colegas que se tornaram conhecidos como a geração beatnik.

Creative Commons - CC BY 3.0

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