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Sem opção para educar os filhos, alguns moradores querem mudar de cidade

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Sem opção para educar os filhos, alguns querem mudar de cidade no Pará

Criado em 28/08/12 12h57 e atualizado em 28/08/12 14h49
Por Ana Aranha Fonte:Agência Brasil

Escola no Pará - 6
Sem opção para educar os filhos, alguns moradores querem mudar de cidade (Foto: Agência Pública)

As falhas na educação paraense são tantas que há quem planeje mudar de cidade antes dos filhos crescerem. É o caso dos pais de Wellen Vitória Pacheco, que está na 3a série. Em junho desse ano, eles se deram conta que a filha ainda não sabe ler todas as letras do alfabeto. A mãe, Silvia Pantoja Pacheco, foi conversar com a professora. “Ela disse que está ensinando conforme o padrão”, conta. Silvia lembra da filha mais velha, que hoje trabalha com contabilidade na cidade de Osasco, em São Paulo, e já sabia ler e escrever na 3a série. Eles moravam em outra cidade e a filha estudava em escola particular. Em Anajás não há essa opção.

Os pais pedem para Wellen pegar o caderno, que está cheio de textos longos. A letra é bonita, mas a menina não consegue ler o que está escrito no seu caderno.“E o que a professora faz enquanto vocês copiam da lousa, filha?” , pergunta a mãe. Wellen imita uma pessoa mexendo no celular.

O professor Antônio Paixão, que dá aula na rede municipal de Anajás, já está financiando um apartamento em Belém para enviar os filhos de 7 e 10 anos para estudar na capital assim que der. Como membro do conselho municipal da educação, ele acompanha as contratações para a área, e diz que um dos problemas da educação é a nomeação de professores e funcionários por motivos “políticos”. Em uma única reunião realizada em março desse ano, conta, o conselho aprovou a contratação de 117 novos funcionários para a educação – número significativo em uma rede que tem 487 professores. “É cabide de emprego”, ele diz.

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Enquanto a folha de pagamento incha, falta recursos para áreas críticas. Em Anajás, muitos barqueiros, responsáveis pelo transporte escolar, ganham R$ 450 por mês – valor que deve cobrir o salário e aluguel do barco. Quando o barco quebra, nem sempre os barqueiros podem consertá-lo na mesma semana ou mês, período em que os  alunos ficam sem ir à escola.

Enquanto isso, quatro lanchas enviadas pelo Ministério da Educação estão paradas. Segundo o diretor de ensino do município, elas não podem ser usadas para transporte escolar pois consomem muita gasolina. Mesma desculpa apresentada pelo secretário de educação de Portel, Paulo Hélio, para justificar o não-uso do transporte bancado pelo MEC.

Ali, as crianças se queixam das condições dos barcos, e dizem passar medo no caminho para a escola. “O barco é velho, tem tábua solta, entra muita água. Tenho medo de alagar”, diz Alice Maia Libório, 9 anos. “Tem vez que tá tão cheio que não dá pra sentar, a gente vai de pé, segurando firme”.

Alice ficou impressionada ao ver, esse ano, colegas caindo do barco em movimento. “Teve um meninozinho que caiu, aí parou e puxaram ele. Ele sentou molhado na sala”.

Mas o secretário Paulo Hélio prefere responsabilizar os alunos pela falta de segurança no transporte escolar. “Já vi menino deitado no toldo do barco, sem obedecer as regras. E tem aluno que se joga na água”.

O prefeito Pedro Barbosa faz coro, dizendo que os relatos dos alunos não passam de “invencionices”. “Esses meninos nasceram e se criaram dentro desses barcos. Se der problema, eles mesmo sabem consertar”.

Relembre as outras duas reportagens da série:
Um orgulho raro: o futuro da Amazônia
Corrupção prejudica a educação na Amazônia


A série “O Futuro da Amazônia” tem o apoio da Fundação Carlos Chagas

Creative Commons - CC BY 3.0

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