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Eduardo Escorel registrou o enterro do estudante Edson Luís no dia 29 de março de 1968. As imagens recuperadas depois de 40 anos podem virar documentário

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Professor de história defende criação de curtas-metragens para aproximar alunos

Criado em 27/12/13 15h31 e atualizado em 27/12/13 15h48
Por Vinícius Bopprê Fonte:Portal Porvir

Filme sobre morte de Edson Luís pode virar documentário
Wilson Falcão tem um canal no YouTube com filmes criados em parceria com seus alunos que contam acontecimentos históricos (Foto: Rafael Borges / Creative Commons)

“Boa tarde, professor, muito calor por aí?”, pergunto. “Calor demais, rapaz. Mas o calor é bom, principalmente o calor humano, que é o que a escola anda precisando. E muito”, responde o professor Wilson Falcão, ou SuperProfessor Wilson, educador da Escola de Referência Jornalista Trajano Chacon, no Recife, criador de um canal no YouTube – que leva seu apelido – com curtas-metragens criados em parceria com seus alunos. Nos vídeos, os estudantes discutem desde a morte do presidente Kennedy até o dia em que eles próprios não se prepararam para apresentar um trabalho em sala de aula.

Se “essa história toda de vídeo” é recente, a paixão de Falcão é de longa data. Quando criança, vivia numa cidade do agreste de Pernambuco, chamada Brejo da Madre de Deus, que fica a 190 km do Recife e tem, atualmente, cerca de 45 mil habitantes. Foi ali, no início da década de 1970, trabalhando como bilheteiro no cinema de seu pai, o Cinema Carlos Gomes, que “a coisa toda começou”. “Isso foi o que construiu minha vida, essa relação da infância com o encantamento do cinema. A vida de uma cidade inteira movimentada pelo cinema e pelos filmes que passavam na época”, conta o educador, que tem 50 anos e mais de 20 de escola pública.

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Mas em 1974, as sessões de domingo foram ficando vazias, o Cinema Carlos Gomes precisou fechar. A paixão do Wilson ruminou, ruminou e só veio desembocar outra vez em 2009, quando foi contratado para trabalhar numa escola em tempo integral e percebeu que os alunos não gostavam de passar todo aquele tempo estudando. “Vamos ficar na escola o dia inteiro por que é legal? Não é bem assim. Existia uma vontade de matar logo a aula, de fazer algo para acabar rápido. Por isso, pensamos em fazer alguma coisa que fizesse mais sentido, que trouxesse mais diálogo, que fosse mais divertido mesmo para os alunos”, explica.

Foi a partir desse desejo que o professor passou a criar seus próprios curtas-metragens. Junto dos alunos, é claro. “Aqui ninguém faz nada sozinho, não. Eu faço de tudo para integrar, boto a gurizada toda para trabalhar junto, cada um com uma câmera, celular, ajudando no cenário”, diz. E essa mistura toda vai além de unir professores e alunos de uma mesma sala. Quando Wilson resolve criar um novo vídeo, ele envolve alunos de várias turmas diferentes, geralmente de diferentes anos do ensino médio.

Assim aconteceu, por exemplo, com o vídeo Kennedy Tá no Céu, em que os alunos do 2o e do 3o do ensino médio ficam deitados no chão, sobre um tapete vermelho, olhando para um céu feito por eles mesmos – com um tecido branco e uma lâmpada na parte de trás – e dando depoimentos daquilo que aprenderam sobre a morte do Kennedy e o contexto da época. Assista abaixo:



Num outro curta, chamado Ninguém Estudou, o professor aproveita a própria falha dos alunos para criar. Depois de chegarem na escola sem o preparo adequado para a apresentação do trabalho, Wilson não deu zero para todo mundo e uma bronca. Ele reuniu todos os alunos para discutirem o tema do trabalho num vídeo e, para sua surpresa e dos próprios estudantes, todos sabiam mais do que o esperado. A sinopse, disponível na descrição do curta, foi criada pelo aluno Bruno Henrique: “Os alunos não estudaram para fazer o trabalho que o professor passou, mas tiveram a ideia de apresentar o trabalho de forma diferente. O professor teve uma ideia brilhante! Filmou e mostrou para os próprios alunos que eles tinham conhecimento do assunto. Houve a aula, a apresentação e até mais: um bate-papo.”

Educação Integral
Wilson acredita que é por meio dessa proximidade com os alunos, adquirida com conversas, bate-papos e, principalmente, com a amizade, que se chega de fato a educação integral, que significa não só tempo integral em sala de aula, mas o aprendizado em todas as áreas, tanto cognitivas, quanto não-cognitivas, como a criatividade, a empatia e o trabalho em grupo. “Nessas reuniões tão enfadonhas, em que ficamos preenchendo um monte de coisa, a gente acha que está programando e não está, eu ficava me questionando. Não era bem isso que eu queria que meu trabalho tivesse”, explica o professor que, apesar de não ter uma definição acadêmica para educação integral, diz que pode falar sobre isso por sua própria vivência. “A escola tem que conhecer o que está fora dos muros, tem que se abrir, beber de outras fontes, o aluno não precisa ir só para a sala de aula para aprender.”

Para o professor, a escola deveria ser um espaço de diálogo entre outras instituições culturais da cidade. “Estamos falando de seres humanos e você precisa ter mais calor humano, mais proximidade. Eu chego e pergunto para os meus alunos como foi o dia deles, pergunto de futebol, não chego perguntando se ele fez a tarefa. Geralmente, primeiro vem a cobrança, para depois vir a amizade, o carinho. O carinho precisa vir primeiro.”

Criatividade e autonomia
Escrever corretamente, se preparar para o vestibular e tirar boas notas são coisas fundamentais, mas as leituras que o mundo oferece hoje vão muito além disso, defende Wilson. Por isso, um dos principais componentes de uma educação integral está justamente na autonomia que cada aluno adquire para compreender o mundo à sua maneira. “Quando trabalhamos com cinema, o que acontece, amedronta, de um jeito positivo, até nós mesmos. Aquela coisa da autonomia que o aluno conquista, que melhora inclusive a sua capacidade de escrever, de se expressar, de trabalhar em grupo, de dialogar”, conta.

Se os resultados são fáceis de detectar, o professor diz que não tem uma receita pronta para alcançá-los, mas que pode dar umas dicas de acordo com sua própria vivência. Ele explica que, entre as primeiras questões que precisam ser resolvidas está a leitura da turma para que o professor saiba por onde começar. O próximo passo é decidir o espaço em que a atividade vai ser aplicada, que precisa ser ampla, confortável, que permita usar a criatividade. “Mas não se prenda a nada disso, não. Tudo pode ser modificado, extrapolado.”

E pode mesmo, inclusive o conteúdo. “Você pode usar o conteúdo que está ali no currículo mas precisamos abranger a perspectiva da humização”, defende. Por isso, estudar a morte do presidente Kennedy, independentemente de estar ou não no vestibular é fundamental porque o mundo precisa de pessoas “bacanas, inteligentes, instruídas, que saibam conversar sobre tudo um pouco”.

Cinéfilo, o SuperProfessor Wilson afirma que não há como fugir: “O cinema precisa ser usado pela multiplicidade daquilo que ele significa e pela humanização da escola que passa por essas vertentes da cultura”, e completa que a arte não serve só para o aprendizado, não, mas para fazer a vida ter um pouco mais de sentido.

“Precisamos disso para dialogar sobre tudo, sobre o que é bonito, para deixarmos essa cultura do autômato, do robô, daquilo que é pronto, apesar de ser revestido com o novo. O cinema deve estar presente em nossas vidas pela capacidade de mostrar, de exercitar o olho. Por tudo isso, o cinema em si já é uma escola.”

Creative Commons - CC BY 3.0

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