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Caiu no Enem: professores comentam redação e questões do 2º dia de provas

Criado em 25/10/15 22h07 e atualizado em 26/10/15 00h13
Por Portal EBC

No segundo dia do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) predominaram questões focadas na interpretação de textos nas provas de linguagem e na aplicação de conceitos na prova de matemática, de acordo com os professores que participaram do programa Caiu no Enem, transmitido neste domingo (25) pela Empresa Brasil de Comunicação (EBC) pela internet e pelas emissoras da rede pública de rádio.

A prova também apresentou uma proposta de redação com o tema "A persistência da violência conta a mulher na sociedade brasileira", que foi avaliado como bastante positivo pelos professores, indo ao encontro da opinião da maioria dos candidatos nas redes sociais. 

Com textos muito longos, as prova de linguagens podem ter complicado a vida do estudante que precisava administrar o tempo entre responder às 90 questões objetivas do dia e ainda elaborar a redação em 5 horas 30 minutos.

Matemática

Na opinião dos professores Gustavo Candeia e Domingão Fonteneles, a prova de matemática foi bastante complexa se comparada com as últimas provas do Enem.  

Para Candeia, a prova foi bastante inovadora em termos de conteúdo. "Caíram questões teóricas e funções trigonométricas que há muito tempo não caía", comenta. "Já funções e geometria são assuntos que a gente sempre espera que apareça no Enem". Na opinião dele, o nível de complexidade da prova vem crescendo nas últimas edições do exame, privilegiando o aluno que vem se dedicando aos estudos ao longo do ensino médio.

Fonteneles brincou ao dizer que "a matemática é a disciplina dos amores e temores". Segundo ele, a prova teve questões simples e outras mais complexas. Mas algumas questões exigiram fórmulas e muita habilidade com cálculos. "O aluno que não tem muita habilidade sem a calculadora, teve muita dificuldade em algumas questões."

Ele disse que duas questões que exigiam o cálculo do Mínimo Múltiplo Comum, o chamado MMC, lhe chamaram a atenção. "Cálculo de MMC não vinha aparecendo nas últimas provas do Enem."

Os dois professores avaliaram que a questão sobre logaritmo foi a mais difícil da prova. "Funções logaritmicas já tinham caído nas provas do Enem de 2011 e 2012, mas esse ano a questão foi bem rebuscada", aponta Candeia. "E isso foi uma surpresa não muito boa porque essa questão não teve relação com o dia a dia [do aluno], exigindo muitos cálculos", completou Fonteneles.

Língua portuguesa

Como já é tradição, o Enem trouxe trechos de poesias e textos dos mestres de literatura brasileira para ilustrar as perguntas sobre língua portuguesa. Manuel Bandeira, Raul Pompeia, Ferrreira Gullar, Olavo Billac, Cecília Meirelles estavam entre os autores que figuraram na prova. A professora Zaira Dirani destacou que houve predominância de autores modernistas e contemporâneos nas questões de língua portuguesa. "Apenas dois autores: Olavo Billac e Raul Pompeia são anteriores a esse período", explica ela.

Ela também ressaltou o grande número de questões focadas na interpretação de texto e funções da linguagem. "Gramática é cada vez menos exigida nas provas do Enem."

De acordo com o professor Marcelo Freire, a prova de língua portuguesa trabalha tradicionalmente com tipos e gêneros textuais. "A análise de letras de música exige do aluno conhecimento da leitura de gênero lírico e poético, mas, de alguma forma, é mais confortável para o aluno; ele se sente mais seguro", comenta, fazendo referência às questões que trouxeram trechos de canções de Luiz Gonzaga, Pixinguinha e Chico Buarque.

Notícias e atualidades também foram destaque no exame. O descarte correto de resíduos, a obesidade como fator de risco para outras doenças e até mesmo as adaptações da língua e a mudança no fluxo de informação mediante o avanço tecnológico foram alguns dos assuntos que caíram na prova.

Língua estrangeira

Ambas as provas de língua estrangeira, ingles e espanhol, focaram mais em questões de interpretação de texto do que em vocabulário. No entanto, os longos textos de espanhol e inglês fizeram os candidatos dispenderem muito tempo para ler a prova, segundo os professores Ricardo Tobé e André Goofy.

Tobé destacou que, na prova de espanhol, o risco de errar estava muito ligado ao não entendimento de vocábulos que não tinham muita relação com o português. Uma campanha de conscientização para respeitar os direitos das pessoas deficientes foi a única imagem a constar do teste, ao contrário de anos anteriores em que a prova era cheia de ilustrações.

A prova de inglês foi menos complexa que a de espanhol, na avaliação do professor Goofy. "Estamos notando que os textos de espanhol apresentados na prova são cada vez mais elaborados [na comparação com os de inglês]". Para ele, isso pode estar relacionado ao crescimento do número de candidatos que optam pela prova de espanhol, pela sua semelhança com o português, sem ter conhecimentos efetivos sobre a língua estrangeira.

Na prova de inglês, uma questão trouxe uma tirinha que brincava com os vários significados da palavra "season", exigindo um conhecimento um pouco mais aprofundado de vocabulário que pode significar "estação" ou "temporada". 

Redação

Quando o tema "A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira" foi divulgado pelo Ministério da Educação, por volta das 13h deste domingo (25), o assunto rapidamente viralizou nas redes sociais. De forma geral, candidatos e professores gostaram bastante do tema. Até mesmo o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, classificou a escolha do tema como excelente e disse ser inquestionável a persistência deste problema social no país.

Na opinião dos professores Zaira Dirani e Marcelo Freire, o tema foi bastante pertinente como proposta de redação e também como contribuição para a discussão de um problema que a sociedade enfrenta."Como é que tendo já a Lei Maria da Penha, temos números de violência contra a mulher como os apresentados na prova?", questionou Freire, que lembrou a atualidade do assunto, com a sanção da Lei do Feminicídio em março deste ano e o fato da redação ser sempre focada em um problema social.

Uma outra característica da prova, apontada pela professora Zaira, é de que a questão da violência da mulher se apresenta também como uma situação do dia a dia. "Nós vivemos em uma sociedade patriarcal, onde as mulheres são consideradas como minoria, vivem agressões domésticas, recebem menos [no trabalho]. Então, foi um tema muito ligado ao cotidiano dos candidatos. Muitos deles, inclusive, vivenciam essa situação em casa", afirma.

Sobre a elaboração da redação propriamente dita, um ponto importante que o candidato precisava ter em mente era que a redação não era sobre a violência contra a mulher em geral, mas sobre a persistência dessa situação. "O aluno tinha que focar na palavra 'persistência'. Esse era o diferencial do tema." Segundo Marcelo, era preciso entender, com base nos textos de apoio, que alguns passos foram dados no combate à violência contra a mulher, mas que ainda havia muito a se avançar nessa causa.

O aluno também não deveria focar no feminismo. Para o professor, o feminismo poderia ser usado como um dos argumentos no desenvolvimento da redação, mas não ser o tema central. Confundir feminicídio com feminismo também seria um erro crasso. "A Lei do Feminicídio é uma conquista da sociedade brasileira que diminui a tolerância nos crimes contra mulheres. Já o feminismo é uma corrente de lutas em prol dos direitos das mulheres", frisou ele.

A professora Zaira lembrou também que no desenvolvimento da dissertação argumentativa o candidato não deve concordar ou discordar do tema, mas argumentar sobre o tema proposto. "Sem contar que a prova poderia ser anulada caso o candidato acabasse por expor alguma ideia que ferisse os direitos humanos", disse.

Argumentos com base no senso comum, do tipo "briga de mulher não se mete a colher", deveriam ser completamente evitados, dizem os professores. "O candidato se viu diante de dados. A situação apresentada [na proposta de redação] é concreta, não se pode negá-la", disse Marcelo. "O que o aluno precisava ter se perguntado era: se eu já tenho a lei da Maria da Penha por que [a necessidade de termos] outra lei, a do feminicídio?", apontou.

E uma das possíveis soluções que o estudante poderia ter apresentado ao problema ,na opinião de Zaira, era a intensificação de campanhas educativas. "Eu acredito muito na educação. Então, ações educativas e de conscientização nas comunidades poderia ser uma das soluções propostas [na redação]", conta ela.

Confira o quarto bloco do programa, com conteúdo exclusivo para web:

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