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Povo Xerente coloca times masculino e feminino nas finais do futebol
Criado em 30/10/15 14h09
e atualizado em 30/10/15 14h37
Por Nathália Mendes
Fonte:Portal EBC
Entre os 60 times de 23 etnias brasileiras diferentes e oito seleções estrangeiras, um povo virou a sensação do campeonato de futebol dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas. “Donos da casa”, os tocantinenses Xerentes estão nas finais feminina e masculina – as mulheres enfrentam as canadenses e os homens pegam a Bolívia. As finais acontecem na noite desta sexta, no estádio Nilton Santos, em Palmas.
O time feminino chegou à decisão em um jogo cheio de reviravoltas no placar. Jogando no campo da Ulbra, as Tapirapés inauguraram a contagem no primeiro tempo e levaram a vantagem para o intervalo. No segundo tempo, as Xerentes viraram o jogo e permitiram o empate das jogadoras do povo do Mato Grosso. Foi só nos últimos minutos de jogo que as finalistas marcaram mais dois gols, dando números finais ao jogo – 4 a 2.
No mesmo horário, só que no estádio que recebe o torneio, os atletas Xerentes não tiveram dificuldade para confirmar a classificação: no clássico dos povos de Tocantins, goleada para cima dos Karajás por 4 a 0. “Todos os jogos foram difíceis. O diferencial é que a gente estava preparado. Atingimos o nosso objetivo de chegar na final e vamos brigar por este título”, afirma o volante Vanderlei Xerente, elegendo as partidas contra os pataxós e os kanelas como as mais duras do campeonato.
Pela frente, os xerentes terão a Bolívia, que surpreendeu o Paraguai na semifinal e quebrou uma invencibilidade de 11 jogos dos campeões da Copa América de Povos Indígenas ao vencê-los por 1 a 0. “Quem quer ser campeão não pode escolher adversário”, prega Felipe Xerente, que joga como zagueiro no time. Ele conta que a base do time é formada por jogadores de duas aldeias, escolhidos entre as 33 do estado: “Os xerentes são a atração dos campeonatos locais que a gente disputa”.
“Viemos treinando forte, fazendo um trabalho desde antes, e evoluindo a cada jogo. O mais importante é que tivemos humildade”, afirmou o capitão do time masculino, Leonardo Xerente, em entrevista à Fundação Municipal do Esporte e Lazer. Apesar da falta de estrutura, a preparação dos jogadores e jogadoras xerentes começou ainda no começo do ano, com início dos treinos no mês de março: “Treinamos e jogamos juntos desde o começo. É o mesmo time do primeiro jogo até a final, e, por isso, estamos entrosados”, revela Vanderlei.
Além do talento das atletas, a disposição do jovem time feminino também foi o diferencial para avançar à final: “Foi com muito esforço e muita persistência que nós chegamos até aqui. Eu não esperava. Agora temos um jogo duro pela frente, mas é uma honra para a gente poder jogar pelo nosso povo”, diz a atacante Nair Xerente, de 17 anos. “Nosso time tem boas jogadoras. A gente treinou bastante, fizemos amistosos para chegar bem”, completa Keiliane Smikadi, de 14 anos, que também joga no ataque.
A lateral Ivanilena Xerente diz que o favoritismo das canadenses não assusta o time: “Na hora, tudo pode acontecer”, acredita. Uma das coordenadoras da delegação, Vanessa Xerente acredita que os times jogarão por muito mais que os quatro mil indígenas que representam: “Vamos defender o nome do Tocantins e também do Brasil nessas finais”.
Com campanhas idênticas, as mulheres saem um pouco à frente dos homens por terem um melhor saldo de gols: elas balançaram as redes 21 vezes e sofreram cinco gols, contra 15 gols marcados pelo time masculino, que foi vazado apenas duas vezes.
Responsável por treinar os dois times, Dorabel de Souza não pretende perder o momento histórico – mesmo depois de ter sido internado nesta quinta-feira (29) com problemas no coração. De acordo com seu auxiliar técnico, Silvino Sinawe, o treinador ficou em observação no hospital após o mal-estar, mas passa bem e negocia uma autorização do médico para acompanhar os jogos de perto. Depois de levar os dois times à final do campeonato mundial, o maior desafio de Dorabel será controlar a emoção durante os 80 minutos de jogo de cada partida – isso se as decisões não forem para os pênaltis.
As campanhas
Feminino
Fase de grupos
Xerente 8 x 0 Terena
Xerente 4 x 1 Kaigang
Oitavas de final
Xerente 1 x 1 Kamayurá (nos pênaltis: Xerente 4 x 3 Kamayurá)
Quartas de final
Xerente 4 x 1 Xambioá Karajá
Semifinal
Xerente 4 x 2 Tapirapé
Números: quatro vitórias e um empate, com 21 gols marcados e cinco sofridos
Masculino
Primeira fase
Xerente 2 x 2 Pataxó
Xerente 7 x 0 Erikibaktsa
Oitavas de final
Xerente 1 x 0 Pataxó
Quartas de final
Xerente 1 x 0 Kanela
Semifinal
Xerente 4 x 0 Karajá
Números: quatro vitórias e um empate, com 15 gols marcados e dois sofridos
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