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Sofia queria guardar o tempo dentro de uma caixa

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Conheça a história "Caixinha de guardar o tempo"

Criado em 05/08/13 11h48 e atualizado em 05/08/13 14h22
Por Penélope Martins Fonte:Toda Hora Tem História

Caixinha de guardar o tempo
Sofia queria guardar o tempo dentro de uma caixa ( Alexandre Rampazo)

“…tempo, tempo, tempo, tempo, vou lhe fazer um pedido…”

Sofia percebeu o tempo antes que o tempo lhe tivesse feito falta. Tinha todo o tempo para correr, brincar, ver tudo que poderia, fazer tudo que queria, bordar a infância em realidades e fantasias.

A saudade do tempo vivido se misturava aos dias que ainda viriam. Algumas vezes doía fundo no peito, quase não cabia dentro do coração: saudades do que já não existia no mundo, mas nunca deixaria de existir no desejo.

Saudades dos que já se foram, saudades dos que ainda não vieram… Sofrer de saudades constantes é mal percebido nos corações sensíveis à vida, às partilhas e aos descobrimentos.

Para dar conta de tanta saudade, Sofia inventou uma caixinha para guardar o tempo que melhor vivia e descobriu, nas lembranças guardadas, que era possível resgatar o tempo passado.

Lembro de um dia ter encontrado, dentro da minha bolsa, um pedacinho de lã. Era um restinho que minha avó havia cortado do novelo e que ficou lá, esquecido e guardado. As saudades apertaram. Deixei o fio de lã no mesmo lugar como um pedacinho de tempo. Assim colecionei o dia, como a pequena Sofia…

Bilhetes recebidos, retalhos, desenhos, conchinhas da praia, pedras, até mesmo a pluma de um pássaro encontrada no passeio. Lembranças para fazer valer os dias.

“… tempo, tempo, tempo, tempo, entro num acordo contigo…”

Sofia guardou o tempo e o tempo passou até para ela. Chegou o tempo de contar aos filhos o que ela sabia, o tempo de recontar aos netos algumas histórias, o tempo de ver brincar os bisnetos e aprender com eles.

Poesias, fotografias, rendas, flores secas, sonhos que nunca adormeciam.

Na caixinha de guardar o tempo, Sofia estendia sua mão com seu coração dentro dela; dos dias vividos, carinhos floresciam na caixinha.

“… por seres tão inventivo e pareceres contínuo, tempo, tempo, tempo, tempo és um dos deuses mais lindos…”

Sofia é personagem criada por Alessandra Roscoe, em seu livro Caixinha de guardar o tempo, numa prosinha poética que desenrola o fio da vida: o que usaremos para viver o tempo?

Alessandra consegue depositar uma dose generosa de afeto com a história envolvendo o leitor com palavras delicadamente escolhidas.

Na companhia de Alessandra, o ilustrador Alexandre Rampazo ganha simpatia dos nossos olhos das formas às cores. Uma rosa recebe o leitor na capa, oferta de uma mão miúda que sai de dentro da caixa. Outras cenas dignificam a poética do tempo: finos ponteiros de relógios imaginários, barquinhos que navegam nuvens feitas de sonhos e lembranças.

Numa edição primorosa, o livro Caixinha de guardar o tempo, escrito por Alessandra Roscoe e ilustrado por Alexandre Rampazo, da editora Biruta, de São Paulo, é daquelas histórias para ler e reler, recomendado para pais, filhos, avós, amigos e amigos dos amigos.

O tempo que estamos navegando é o tempo preciso de navegação imprecisa. Temos o dia de hoje para celebrar amores ou para semear dores. Sempre há uma escolha, mesmo quando parece não ter escolha alguma.

Haverá um tempo de deixar de ver o tempo. Até lá, possamos nós guardar nas nossas caixinhas o melhor dos nossos dias, como fez Sofia, como contou Alessandra, como imaginou Alexandre…

“ e quando eu tiver saído, para fora do teu círculo, tempo, tempo, tempo, tempo, não serei nem terás sido, tempo, tempo, tempo, tempo…” (Oração ao Tempo, canção de Caetano Veloso).

Creative Commons - CC BY 3.0

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