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O toque é o principal canal de comunicação entre os pais e os bebês

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Paternidade Ativa: leia o depoimento de três homens que decidiram fazer mais pelos filhos

Criado em 06/09/13 11h56 e atualizado em 06/09/13 12h42
Por Cientista que virou mãe

Três homens, David Mattos, Thiago Queiroz e Lauro Kociuba, que descobriram na paternidade mais do que a capacidade de gerar filhos. Não relutaram em faltar ao trabalho para acompanhar a esposa nos exames gestacionais, participaram ativamente do trabalho de parto e não sentem nenhum constrangimento de sair por aí carregando as crias no sling. Levando a sério o lema "Não basta ser pai, tem que participar", eles descobriram que essa é uma tarefa mais do que obrigatória e cheia de recompensas.

A pedido do blog Cientista que Virou Mãe, eles contaram como o nascimento dos filhos mexeu com a própria forma de encarar a vida: 

David Mattos
(Priscila Rezende)

David Mattos
Na parede da esquerda o relógio apontava 12:30. Priscilla estava ajoelhada dentro da banheira, com os cotovelos apoiados na borda. Eu estava também dentro da banheira, atrás dela. Perguntei para o Pablo, nosso obstetra, se ele faria outro exame de toque, ele me respondeu com a calma de quem sabia que estava tudo bem: “Pra quê?”. Perguntei se já estava chegando a hora, ele disse para eu colocar a minha mão lá embaixo quando viesse a próxima contração, ver se eu sentiria algo parecido com um cotovelinho. Toquei e disse que sim, senti um cotovelinho: “Esse cotovelinho é a cabecinha”.

Meu coração, que já estava bastante agitado, acelerou ainda mais.Na contração seguinte, vi a cabecinha começando a sair, a testa já do lado de fora. Poucos minutos depois a cabecinha inteira saiu. Ela parecia serena, abriu os olhinhos ainda dentro da água e me olhou. Não viu nada provavelmente, mas nos olhamos pela primeira vez, só eu e ela.

Fiquei aflito, a contração passou e ela de olhos abertos embaixo da água me olhando, não sei se aquilo durou segundos, minutos, só sei que durou uma eternidade. Veio a contração seguinte e então a minha filha saiu do aconchego do útero materno para o meu colo de pai de primeira viagem. O obstetra se juntou a nós e me ajudou a retirar as duas circulares de cordão que envolviam o pescocinho dela.

Diz a parábola bíblica que um mirrado David derrubou o gigante Golias. Naquele momento, às 12:45 do dia 07 de junho deste ano, me senti pequeno como o David bíblico, e aquela menina com pouco mais de três quilos parecia o gigante Golias nos meus braços. Enorme. Os maiores 49 centímetros de toda a história da humanidade. Ela se agigantava e eu me apequenava diante daquela experiência tão intensa e bonita que eu estava vivenciando.

Não houve uma pedra na parábola que escrevíamos naquele momento, houve amor em estado bruto, uma enchurrada de sentimentos. Todo o sentimento! Todo o sentimento era a música que tocava no CD que gravamos especialmente para aquela ocasião. E isso também não havia como ser diferente, quem melhor do que o Chico Buarque, profundo entendedor da alma feminina, para cantar no momento em que recebia nos meus braços a mulher mais importante da minha vida?

Poderia falar de tudo o que aprendi nestes quase 3 meses de vida da minha filha, da habilidade adquirida para trocar fraldas, a perícia no banho de balde, a precisão em identificar o significado de cada chorinho, mas estas são questões operacionais, coisas que qualquer homem – mesmo que não seja pai – pode aprender com um bocadinho de dedicação. Mas o aprendizado que aquela menina me deu – e dá a cada segundo – é bem mais profundo do que o jeito certo de embalar na hora do sono.

Do homem que eu era antes do dia 03 de outubro de 2012, quando nos descobrimos grávidos, muito pouco restou. Aliás, do mundo que eu vivia, pouco restou. Tudo se transformou junto com toda aquela evolução fantástica que acontecia dentro da barriga da minha esposa. Uma transformação profunda e irrevogável. A sensação é de que tudo o que eu havia vivido nos 33 anos anteriores àquele momento teve o único objetivo de me preparar para aquela criança.

Vale ressaltar que antes de casar com a Priscilla, eu jamais cogitaria um parto natural. No distorcido entendimento que eu tinha do nascimento, parto normal nos dias de hoje só acontecia se a mulher não tivesse tempo de chegar ao hospital e acabasse tendo o filho dentro do carro ou no acostamento. Na minha limitada percepção, a cesárea era o elixir do sofrimento feminino.

Foi a grandeza da minha mulher baixinha, que pacientemente me ensinou o significado da humanização. Aprendemos juntos. E a cada novo aprendizado eu me sentia envergonhado pela ignorância de semanas atrás, mas também motivado em fazer da minha transformação pessoal o terreno que nossa filha precisaria para nascer e crescer numa família diferente, consciente das escolhas e, a partir de então, engajada com veemência na causa da humanização do parto. Decidimos fazer do nosso aprendizado um exemplo.

Minha esposa é oito anos mais nova do que eu, mas de uma maturidade admirável. Assumiu a maternidade com um protagonismo lindo, e pedi à ela sua mão, não para contribuir no seu empoderamento, mas para nos empoderarmos juntos.

Tudo ganhou novo significado. Trabalhava como gerente comercial em uma grande empresa, líder de equipes, bom salário, status e aquela coisa toda. Dentro de mim a certeza de que a partir daquele momento eu deveria me desdobrar para que nada faltasse à ela, fazer o que fosse preciso, mas a minha filha teria tudo o que precisasse para ser feliz. E nisso, me dei conta de que tudo o que ela precisa não tem a menor relação com dinheiro, posse ou posição social. E meu trabalho perdeu o sentido. Depois de mais de dez anos liderando equipes comerciais, eu sentia cada vez mais forte que aquele mercado, aquela rotina, conflitava com os valores que foram semeados em mim pela Priscilla, e agora brotavam na filha que esperávamos.

Virei piada dos colegas de trabalho, pois nunca usei a frase: “minha esposa está grávida”, sempre disse: “NÓS estamos grávidos!”. Nunca usei a frase: “o obstetra da minha esposa”, sempre disse: “O NOSSO obstetra!”. Comprei briga com meu chefe quando ele me perguntou se a minha sogra não poderia levar a Priscilla ao pré-natal, para que eu não precisasse me ausentar uma vez por mês. Eu disse que não, que não era minha sogra quem estava grávida, éramos eu e minha esposa que estávamos. E estive presente em todos os pré-natais que fizemos. E a cada nova consulta, mais aprendizado, mais dúvidas, mais coragem, mais medo e maior a sensação de que meu mundo anterior se desfazia no compasso dos batimentos acelerados do coraçãozinho da nossa filha.

Mudei meu jeito de dirigir. Mudei meus hábitos. Mudei nossa alimentação. Mudei de emprego.

Achei que numa empresa menor eu teria mais liberdade para fazer vingar aquele novo homem em quem eu me transformava, mas não foi assim. Gerar lucro econômico e financeiro para outras empresas não fazia mais sentido. Eu precisava realizar no trabalho que nos sustentaria algo que tivesse relação com aquilo que vivíamos.

Na véspera do nascimento da nossa filha, fui demitido. Ao mesmo tempo em que aquilo me atingiu como uma rasteira, só pensava em como impactaria na nossa vida, na nossa filha que chegaria a qualquer momento. Chegou no dia seguinte. A bolsa rompeu, tomamos banho juntos para nos prepararmos para a maternidade. Ligamos para nossa Doula, para o obstetra e fomos.

A coragem com que a Priscilla encarou o trabalho de parto, totalmente decidida a enfrentá-lo sem qualquer intervenção, me encheu de coragem também. Tive ali a inspiração que eu precisava para mudar radicalmente aquilo que já não me satisfazia há meses. E foi então que decidi empreender em algo totalmente relacionado à crianças e com forte vínculo com a humanização do parto. Mesmo ganhando menos, mas hoje eu vejo minha filha crescer todos os dias, e não apenas naqueles miseráveis 5 dias previstos na desumana lei brasileira.

Graças a essa transformação eu presenciei a primeira vez que nossa filha sustentou sozinha sua cabecinha. Presenciei a primeira vez que ela levou a mãozinha propositalmente aos olhos e os esfregou cheia de sono. Presenciei o primeiro sorriso espontâneo. Presenciei a primeira gargalhada. Descobri que música ela gosta. Aprendi, cozinhando para elas, quais temperos alteram mais o sabor do leite, qual provoca prisão de ventre, quais ajudam a tornar mais tranquila a amamentação. Foi estando em casa que eu descobri que ela gosta do colo de um jeito durante o dia, e de outro durante a noite. Foi estando presente que pude me tornar o responsável pelos passeios da manhã, e assim a Priscilla pode aproveitar para descansar tendo a cama toda só pra ela.

Não há contracheque no mundo que valha mais que estas descobertas e aprendizados. Tanto quanto não custam nada, valem uma fortuna. A fortuna de uma vida. A fortuna de três vidas. A fortuna das nossas vidas!

Meu nome é David, muito prazer. Mas pode me chamar de pai da Clara, esta é a nova e definitiva função que consta agora no meu crachá.

Thiago Queiroz
Olá, eu sou Thiago Queiroz, do Paizinho,Vírgula! Sou um monte de coisa, mas praticante, só marido e pai mesmo. Adorei receber o convite para participar da conversa sobre o pai enquanto homem, ou pelo menos sobre como eu me sinto enquanto homem, após ser pai. Ficou confuso? Pois é, a coisa é confusa mesmo.

Thiago Queiroz
(Blog Cientista que virou mãe)

Eu nunca entendi o universo masculino como essa coisa truculenta e ogra, do cara que arrota e peida. Não sou o "típico" homem: odeio futebol, adoro fofocar, não curto ficar em rodinhas de macho tomando cerveja e olhando mulheres na rua. Há quem diga, inclusive, que eu escapei de ser gay por um triz e que os papéis lá em casa são invertidos: minha esposa mata as baratas enquanto eu fujo. Ela pede a caneca de chope enquanto eu peço a caipirinha de morango coada com adoçante.

Talvez essa minha sensibilidade aflorada tenha feito com que eu fosse um pai mais sensível, sei lá. Mas tudo isso que eu faço hoje não coloca minha masculinidade em cheque, só reforça o fato de que tem que ser muito macho para se garantir e dizer que ama seu filho e sua esposa. Não é qualquer homem que assume isso e coloca a família em prioridade. Eu me sinto muito homem, principalmente quando visto o meu filho na minha famosa kepina de sapos e saio por aí, com a minha esposa do lado. Ou quando eu mesmo dou conta do meu filho quando ele chora. Ou até mesmo quando eu falo para o pessoal do trabalho que eu não vou para o bar, porque quero chegar logo em casa para curtir o meu filho e a minha esposa.

Mas acho, sim, que a sociedade em geral não está pronta ainda para esse homem que se importa e participa ativamente na criação dos filhos. Não, acho que a maioria dos pais que estão por aí ainda vivem a imagem do pai ogro, distante, que não dá beijo no filho menino, que age como mero provedor de recursos da casa. Se você está se identificando com esse tipo de descrição, cara, você está ultrapassado.

Como eu costumo dizer, eu não peguei meu crachá de pai para ser ajudante. Eu sou pai.

Lauro Kociuba
Como pai recente que sou (o pequeno Ulisses está com 2 meses), estou há pouco tempo frequentando redes sociais, grupos de discussão, blogs e sites relacionados à gestação, maternidade, criação e afins. 

Lauro Kociuba
(Blog Cientista que virou mãe)

É fantástico ver a revolução que se arma atualmente, da renovação e revitalização do parto humanizado, da quebra de barreiras antigas referentes à cesárea e a tantos outros mitos que minavam a criação humanizada de nossos filhos. As mulheres estão amamentando com orgulho usando o termo "Leite Materno a Livre Demanda" como deve ser; o carinho com o filho tem sido visto mais como uma necessidade do que um problema; não é mais errado dar colo, acalentar ou usar cama compartilhada; novas metodologias de pedagogia centradas no ser humano e no respeito à criança estão sendo divulgadas e aplicadas; termos como Montessori, Waldorf e Hand in Hand estão se espalhando entre os pais; já não se fecha os olhos para castigos arcaicos e surras...

É maravilhoso ver e participar desse processo e ver o quanto as crianças se desenvolvem e respondem bem às mudanças. Mas a mudança sobre a qual quero falar aqui, e acho que ainda está engatinhando muito, é a da paternidade ativa, do famoso pai presente. Eu sempre fui muito família, e no momento em que soube que seria pai (não, não foi planejado :P) eu me apaixonei pela ideia e decidi que me dedicaria a participar de tudo relacionado ao meu filho.

Talvez eu tenha sido criado diferente, sempre fui meio que contra a maré, gosto de ajudar com faxina em casa, sou romântico e totalmente família. Fui criado por um pai brincalhão e presente, em todas as apresentações bestas de escola lá estava meu pai acenando e aplaudindo no final, e isso deixou uma marca forte em mim, era maravilhoso tê-lo ao meu lado em todos os momentos que necessitei.>

Se tornar pai de verdade, aquele choque desesperador de amor, acontece no parto, no momento em que tomamos nosso filho no braço pela primeira vez e sentimos a vulnerabilidade misturada à força vital daquele que estava há pouco na barriga da sua esposa. Somos atropelados por um sentimento que não pode ser definido senão pela "paternidade". Não consigo ver nenhuma lógica em perder algo do meu filho, a magia de cada descoberta e conquista, o orgulho em cada mudança e crescimento, ser reconhecido pela criança e receber um amor incomparável e absoluto... puro.

Estando presente na criação do meu filho, acabo por receber muito mais do que dar. Todas as vezes que levo meu filho aos braços e o faço dormir, na verdade tenho toda a minha tensão retirada e esqueço dos problemas do mundo. Quando ele me olha dos olhos e sorri ao perceber que sou a pessoa que ele estava procurando, sinto mais realização do que jamais poderia imaginar na minha vida profissional. E saber que estando presente ajudarei a construir seu próprio caráter e farei parte do universo dele é o bastante para me deixar feliz.

A paternidade ativa deve ser celebrada e assumida pelos pais, recomendada e incentivada pelas mães e ser o primeiro presente para a criança que chega ao mundo. E com certeza a paternidade será o mais precioso presente ao homem.

Creative Commons - CC BY 3.0

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