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Como dizer "não" para as crianças?
Criado em 01/09/15 10h34
e atualizado em 23/11/16 12h07
Por Ninguém cresce sozinho
Sim é sim; não é não. Em qualquer resposta dada às crianças, o importante é que os limites, assim como as possibilidades, sejam apresentados, assimilados e acomodados por elas. Adultos, precisam assegurar seu posicionamento para que as crianças possam nortear suas atitudes.
Sabemos da importância dos limites a serem oferecidos às crianças na infância. Como diz o pediatra Mário Cordeiro: “Pais permissivos geram crianças que não conhecem os limites e que cultivam o egocentrismo, o narcisismo e a omnipotência (…) Se uma criança se habitua a crescer sem limites não vai saber lidar com a frustração, vai fazer birras, vai sofrer e… “faz sofrer muita gente”.
Inserir limites não é apenas dizer “não” às crianças; é também ofertar possibilidades para que elas possam experimentar e fazer escolhas cada vez mais livres, de forma consciente e responsável.
Como ainda estão em formação, crianças testam e questionam as mais diversas situações como forma de validar as regras/limites impostos, assim como o respeito a si e ao outro. Quando o que lhe é colocado revela certa contradição vinda por parte do adulto, as indagações aumentam ainda mais. Dizer “não” quando se quer dizer “sim” ou vice-versa faz com que as crianças sintam-se confusas, inseguras, com dúvidas sobre que caminho seguir e, até mesmo, agressivas, birrentas, podendo transgredir regras e limites inseridos.
Em todo diálogo está embutido sentimentos, valores e lógicas que devem estar alinhados para que as mensagens que estão por detrás do discurso não atrapalhem a comunicação junto à criança. A clareza na informação é essencial para que ela possa compreender e lidar com cada situação que vivencia.
Ao invés de dizer “não faça” ou “não pode” é válido os adultos substituírem essas expressões por outras que dão explicações e justifiquem as restrições e cerceamento. Por exemplo: “Você pode chutar a bola no chão, mas arremessar a bola só pode lá fora.” ; “Você pode chupar sorvete hoje, mas somente após o almoço.”.
Se a criança quer algo ou se ela está fazendo coisas que são inadequadas ou proibitivas, podemos dizer um “não” com um “sim”, quando oferecemos a ela novas possibilidades. Desta forma, o efeito da comunicação gera empatia; a mensagem e o diálogo são promovidos; o entendimento é maior e menos restritivo, sempre demarcando os contornos necessários.
Quando o “não” for explícito, objetivo e claro ele será bem ouvido. Ao perceber outras oportunidades e possibilidades, assim como, entender os argumentos bem embasados e tiver confiança na relação com o adulto os “nãos” serão incorporados pela criança sem tantos entraves. Isso só é possível quando o adulto é coerente (inclusive em situações semelhantes na sua própria vida) e cumpre com o que é dito e acordado com a criança.
Toda comunicação é um ato relacional. Através dela transmitimos intenções, sentimentos, necessidades, pensamentos, conceitos próprios e valores, conscientes e também inconscientes. Ao estabelecermos um diálogo, muitas mensagens são transmitidas e a partir delas a relação vai se construindo, de forma positiva ou negativa para ambas as partes.
No caso das crianças, o que lhes é dito pode transformar e interferir no seu desenvolvimento.
Um pai ou uma mãe que diz ao filho: “Você é ruim em matemática, olha sua nota! Não vai mais brincar à tarde! Vai estudar!” ou “Você é desorganizado, seu quarto está sempre uma bagunça”, estão enviando à criança uma mensagem negativa, cheia de rótulos e julgamentos. Ou, quando dizem: “Nós não vamos ao passeio porque não comeu tudo”, estão transmitindo conceitos que podem fazer uma criança se sentir ruim, culpada, e não amada. Nos exemplos citados acima, o diálogo poderia ser: “É preciso estudar e dedicar-se mais à matemática”; “Precisa aprender a cuidar melhor do seu quarto e das suas coisas”; “Vamos comer bem para que possamos sair para o passeio; ele só acontecerá após a refeição de todos”.
Difícil é filtrar os discursos, principalmente quando estamos envolvidos e carregados de emoção. Os conflitos podem vir facilmente e pais, diante deles, podem acabar cedendo com mais facilidade aos pedidos e imposições das crianças. Os “nãos” vêm cada vez mais fortes e potencializados como forma de defesa para fazer valer o que queremos. Saí surgem as guerras infindáveis entre pais e filhos. Perde-se o diálogo e se ganha monólogos.
Sem nos darmos conta, uma simples comunicação pode se tornar violenta, reverberando em ambos os lados sentimentos dos mais variados tipos e gerando sensações desconfortáveis que de algum modo interferirão na relação como um todo. Crianças sentem-se punidas sem saber por que e, por outro lado, pais podem ser rígidos demais, ao gritar e se impor de forma dura, sem a situação exigir, quando se sentem confrontados, ameaçados e impotentes.
As mensagens enviadas, principalmente as embutidas “desnecessariamente”, são muitas e cuidar da repercussão delas junto à criança se faz necessário. Para isso, é fundamental podermos observar, identificar e nomear os sentimentos que são transformados em “nãos” ou em restrições descabidas. Devemos ensinar as crianças a expor e explicitar suas necessidades, desejos e emoções, fazendo perguntas sobre elas antes de encerrarmos um diálogo com “nãos” sem sentido. E ainda, traduzir junto com a criança seus pedidos. O ganho disso: empatia, confiança e troca afetiva entre pais e filhos!
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