one pixel track analytics scorecard

Digite sua busca e aperte enter


Compartilhar:

#pobrefazendopobrice: seis erros do post que ridicularizou a amamentação

Criado em 06/11/15 12h22 e atualizado em 09/11/15 08h30
Por Adriana Franzin Fonte:Portal EBC

Uma postagem no Facebook, uma foto, mais de 12 mil compartilhamentos no intervalo de quatro dias e uma enxurrada de críticas que renderam um "mamaço virtual" sem precedentes. Usando a hashtag #pobrefazendopobrice mães de todo o país divulgaram fotos de amamentação em repúdio ao comentário de uma universitária de Campinas (SP) postado no Facebook.

No último dia 31, ela divulgou a foto de uma mulher amamentando uma criança enquanto andava de bicicleta e chamou o ato de "pobre fazendo pobrice". Em seu comentário, a universitária publicou um parágrafo de argumentos contra a amamentação que – considerando pesquisas de organizações reconhecidas internacionalmente e especialistas em nutrição infantil  estão permeados de preconceitos e mitos acerca do ato de amamentar. 

pobrefazendopobrice
Creative Commons - CC BY 3.0 - pobrefazendopobrice - Reprodução

Listamos sete erros conceituais do texto da universitária, com base em pesquisas sobre a amamentação e na opinião de especialistas:

1) “POBRE FAZENDO POBRICE! Vai em um bairro nobre, ou em um restaurante fino pra vc ver se encontra mulher com o peito pra fora?! Kkkkkkkkk! JAMAIS! Elas levam mamadeira! Como eu fazia! Ou no mínimo colocam uma fraldinha pra tapar o peito! Isso se chama BOM SENSO!” (sic)

Diante dos inúmeros benefícios da amamentação e da crescente conscientização da população acerca do aleitamento, o bom senso tem guiado a opinião pública no sentido oposto. Prova disso são decisões como a da prefeitura de São Paulo, que estabeleceu multa aos estabelecimentos que proibirem ou causarem constrangimento à amamentação . Em resposta às atitudes que tentam restringir os espaços para amamentação, espalharam-se pelo país eventos em apoio à causa, como os mamaços e outros projetos que buscam a naturalização do ato. Um deles foi um  projeto fotográfico que incentivou a naturalização do ato de amamentar (confira as fotos abaixo). A amamentação ainda esbarra em barreiras culturais que deixam as mulheres inseguras nesse papel.

Já a mamadeira, citada no comentário da polêmica postagem do Facebook, pode provocar prejuízo à criança.  Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatra, entre eles estão a dificuldade e redução no tempo de amamentação, oclusão dentária (que leva à deformação na arcada dentária e problemas na mastigação, além de atrasos na linguagem oral, problemas na fala e emocionais); prejuízos respiratórios; redução do espaço aéreo dos seios da face que provoca desvio do septo nasal; redução da produção da saliva, que pode aumentar o risco de cáries; maior risco de irritações da orofaringe, laringe e pulmões; infecções de ouvido, rinites e amigdalites; candidíase oral (sapinho) e verminoses. Por isso a recomendação da Unicef é de não usar mamadeira, sempre que a mulher tiver condições de garantir o aleitamento materno.

2) "Essa ridícula aí ta querendo aparecer!" 

Para 55% da população brasileira, segundo pesquisa da Global Lansinoh, amamentar em público é um gesto natural. Apenas 2% afirmam ser errado. O texto afirma, inclusive, que as mães que não amamentam se sentem culpadas porque são conscientes dos benefícios da amamentação. A maioria das pesquisadas diz que gostaria de ter amamentado por mais tempo.

3) "E outra, depois dos 6 meses a criança já começa a comer outros tipos de alimentos e não é necessário ficar amamentando a qualquer momento e em qualquer lugar não!"

Essa não é a avaliação da Organização Mundial da Saúde (OMS) ou mesmo do governo brasileiro. A amamentação, segundo o Ministério da Saúde, é muito mais do que alimentar a criança. Traz muitos outros benefícios como o desenvolvimento afetivo-emocional e até cognitivo do bebê. É um mito que a amamentação não seja útil nesse período. Inclusive, a campanha da OMS de 2014 incentivou a amamentação até os 2 anos de idade ou mais.

Quanto ao lugar, não há impedimento para o ato. Nem mesmo no local de trabalho. Recentemente, o diretor-geral da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Guy Ryder, afirmou que "faz sentido econômico" garantir que as mães disponham de tempo e espaço para amamentação dos filhos no emprego. A amamentação em ambiente de trabalho foi o tema da campanha deste ano da Semana Mundial do Aleitamento Materno, que aconteceu em todo Brasil e mais 170 países.

4) "Essa história de amamentação é um programa de incentivo do governo pra fazer as coitadas das pobres virarem umas vacas leiteiras e ficar amamentando até 2 anos de idade! Economia pro governo! Imagina se toda a pobraiada que se empenca de filhos resolvessem dar NAN (mamadeira) para toda a sua penca? O governo tava lascado! Eles incentivam amamentação e cada uma que se vire com os peitos mesmo..." 

De fato, o governo economiza com a amamentação já que o leite materno previne várias doenças e poupa recursos do sistema de saúde. Ao incentivar o aleitamento materno, poupa-se com a compra de medicamentos para curar diarreia, infecção respiratória, bronquites e pneumonias, principais causas de óbito de bebês até 6 meses. Também se previne asma, alergias, obesidade e diabetes quando adulto. 

Recentemente, a presidenta Dilma Rousseff assinou um decreto que restringiu a publicidade de produtos que atrapalham a amamentação."O decreto que assinei visa estimular o aleitamento materno e ao mesmo tempo estabelece regras mais precisas para a comercialização de alimentos e produtos para as nossas crianças de até 3 anos. Amamentação e alimentação saudável desde pequenininho resultarão em crianças com desenvolvimento mais elevado, mais capazes de bem conduzir o nosso país no futuro", disse a presidenta em seu discurso.

5) "Agora, quem tem dinheiro não segue esse incentivo... Eu nunca amamentei meu filho e ele é lindo e saudável! O NAN hoje em dia é completamente igual ao leite materno em questão de nutrição!" 

O NAN, a que ao comentário se refere, é uma espécie de leite em pó, que não é igual ao leite materno. As fórmulas que existem no mercado não contêm os anticorpos, células vivas, enzimas, ou hormônios presentes no leite materno. Contêm sim, muito mais alumínio, magnésio, ferro e proteína, o que ajuda o bebê a crescer bem, mas sem muitas propriedades e benefícios gerados à saúde do bebê, pela amamentação. E há vários outros motivos pelos quais as fórmulas não devem substituir a amamentação, segundo o Ministério da Saúde. Não por acaso,  é obrigatório constar nos rótulos dessas fórmulas alertas como: “O aleitamento materno evita infecções e alergias e é recomendado até os dois anos de idade ou mais” ou ainda “O Ministério da Saúde adverte: este produto não deve ser usado para alimentar crianças, salvo sob indicação expressa de médico ou nutricionista”.

Estudos mostram que o leite materno reduz o risco de leucemia, asma, alergias, obesidade, diabetes, torna crianças menos agressivas e até aumenta a inteligência.

6) "Hoje em dia não tem mais necessidade de amamentar dessa maneira! O mundo tá evoluindo gente! Só que custa muito caro! Mas eu optei por isso... A criança mama com muito mais facilidade, fica mais tranquila, dorme melhor, não tem dor de barriga e você leva a mamadeira pra qualquer lugar e não passa vergonha com o peito de fora..." 

Quanto à possibilidade de a criança ficar mais tranquila com a mamadeira, pesquisas apontam que o aleitamento materno reduz a agressividade. Quanto a dormir melhor, não há evidências científicas sobre a melhoria do sono com o leite materno ou artificial. Na verdade, dormir bem tem mais ligações com a hábitos de sono.

Quanto à dor de barriga, o leite materno, na verdade, reduz a incidência de cólicas porque "a gordura do leite é própria para o consumo do bebê, ao contrário do que ocorre com outros leites, como os de vaca ou os de fórmula, cujo peso molecular é alto. A do leite materno tem peso molecular baixo e isso facilita a digestão do bebê. É um bebê mais ativo, que interage mais com a família”, ressaltou a coordenadora de processamento e qualidade da Rede Brasileira de Leite Humano, Danielle Aparecida da Silva, nessa reportagem.

Mamaço virtual

Após a postagem dos comentários, várias mães postaram fotos nas redes sociais em resposta ao movimento #pobrefazendopobrice. Em seus comentários, elas defenderam que a amamentação é um ato que beneficia não só aos bebês, mas a elas próprias. Confira.

 

Creative Commons - CC BY 3.0

Dê sua opinião sobre a qualidade do conteúdo que você acessou.

Para registrar sua opinião, copie o link ou o título do conteúdo e clique na barra de manifestação.

Você será direcionado para o "Fale com a Ouvidoria" da EBC e poderá nos ajudar a melhorar nossos serviços, sugerindo, denunciando, reclamando, solicitando e, também, elogiando.

Fazer uma Denúncia Fazer uma Reclamação Fazer uma Elogio Fazer uma Sugestão Fazer uma Solicitação Fazer uma Simplifique

Deixe seu comentário