one pixel track analytics scorecard

Digite sua busca e aperte enter


Compartilhar:

Entrevista: Mario Cortella fala sobre publicidade infantil e consumismo

Criado em 13/06/16 11h13 e atualizado em 13/06/16 11h30
Por Fundação Maria Cecília Souto Vidigal

Publicidade infantil e consumismo. O assunto preocupa pais, educadores e todos os que atuam pelo bom desenvolvimento infantil. Para falar sobre estes dois temas, a Fundação Maria Cecília Souto Vidigal entrevistou o professor, filósofo e autor de vários livros Mario Cortella. Confira:

Fundação Maria Cecília Souto Vidigal – A publicidade infantil está aí. Às vezes é explícita, às vezes dissimulada. Como os pais devem lidar com essa gama de informações que podem fomentar um perfil consumista nos seus filhos, futuros adultos?

Mario Sergio Cortella – Durante a vida o indivíduo recebe diversos estímulos negativos. A publicidade infantil é mais um estímulo e caberá aos pais preparar seus filhos para que tenham clareza do que ela significa. Para isso, os adultos precisam usar a sua capacidade crítica para discernir o que pode ser aceito e o que faz mal à criança. Retirá-la do contato com a publicidade não favorecerá o preparo necessário para a criança lidar com esse e outros estímulos inerentes ao dia a dia. Não ajudará a evitar a “consumolatria”, o desejo insaciável de comprar.

FMCSV – A criança quer porque quer um brinquedo inadequado ou que os pais não podem comprar. Qual a melhor forma de explicar essa situação a ela?

MSC – Não tem como explicar. Uma criança de quatro anos não consegue conectar causa e efeito. Por isso, nessa fase, só há uma alternativa: dizer não. Ou seja, a negação àquilo que é impróprio. Esse é o amor verdadeiro. É o que coloca o “não” no momento em que ele é necessário. Se a mãe diz que está sem dinheiro, a criança sabe que é mentira, porque vê os pais comprando outras coisas. Para crianças de cinco ou seis anos, pode-se fazer uma troca simbólica. Por exemplo: “Eu não pego do seu cofrinho o dinheiro pra comprar pão. Por isso, não vou usar o dinheiro do pão pra comprar o que você quer”.

FMCSV – Como você vê as leis e projetos que restringem a publicidade infantil?

MSC – Há uma boa parte delas que está pautada no bom senso. Vários publicitários adotaram a autorregulação. Temos o Conselho Nacional dos Diretos da Criança e do Adolescente (Conanda) como articulador. No entanto, isso ainda não basta. Precisamos de uma forte demanda social que faça pressão. Especificamente nesse caso, da criança e do adolescente, acho importante que haja uma regulamentação, mas não com viés de censura, porque nesses termos pode-se ampliar demais e perder o sentido. O ideal é que a construção dessa regulação aconteça por meio de parcerias que, pelo consenso, determinem os limites para as restrições e exposições.

FMCSV – Você acha que a obesidade e o desejo de consumo na infância são influenciados pela publicidade?

MSC – Acredito que estamos vivenciando o enfraquecimento da autoridade do adulto. Ambos os casos estão muito mais ligados a essa realidade do que à publicidade infantil em si. O fato de a criança se tornar obesa tem muito mais a ver com o mundo externo e a visão dos adultos. Nesse aspecto, minha preocupação com a publicidade é menor. Preocupo-me com esses pais e responsáveis pelas crianças. A obesidade é fruto de uma distorção social dos alimentos. Se a criança tem acesso ao que não é bom, ao que faz mal, é porque um adulto a colocou em contato com aquilo, facilitou o seu acesso. Também acho que a publicidade infantil não tem todo esse peso na “consumolatria”. A criança pode aprender a fazer seus brinquedos, a elaborar presentes para dar aos amigos, aos pais. Tudo isso precisa ser ensinado a ela. Não é só a publicidade, não é qualquer publicidade que causa esses desvios. O que precisamos é rever de que forma estamos nos formando, de que maneira formamos nossos filhos e netos.

Mario Cortella
Creative Commons - CC BY 3.0 - Mario Cortella

Wikimedia Commons

* Mario Sergio Cortella é filósofo e escritor, com Mestrado e Doutorado em Educação, autor de várias obras como “A Escola e o Conhecimento” (Cortez), “Filosofia e Ensino Médio: certas razões, alguns senões, uma proposta” (Vozes), “Política: Para Não Ser Idiota”, com Renato Janine Ribeiro (Papirus), “Educação e Esperança: sete reflexões breves para recusar o biocídio” (PoliSaber), “Educação, Convivência e Ética” (Cortez).

Creative Commons - CC BY 3.0

Dê sua opinião sobre a qualidade do conteúdo que você acessou.

Para registrar sua opinião, copie o link ou o título do conteúdo e clique na barra de manifestação.

Você será direcionado para o "Fale com a Ouvidoria" da EBC e poderá nos ajudar a melhorar nossos serviços, sugerindo, denunciando, reclamando, solicitando e, também, elogiando.

Fazer uma Denúncia Fazer uma Reclamação Fazer uma Elogio Fazer uma Sugestão Fazer uma Solicitação Fazer uma Simplifique

Deixe seu comentário