Conselho Curador discute Copa do Mundo e criação da Escola Nacional de Comunicação Pública

Publicado em 20/05/2014 - 16:57 e atualizado em 29/01/2016 - 09:17

A cobertura da Copa do Mundo pelos veículos da EBC foi discutida durante Reunião Extraordinária do Conselho Curador da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) na última quarta-feira, 14, na sede da empresa em São Paulo. O plano de cobertura para o evento (clique aqui para ver) foi apresentado pela Diretoria de Jornalismo e posteriormente reescrito com as alterações apresentadas pelo pleno.

“Falar sobre comunicação no Brasil e Copa é falar sobre direitos de transmissão. Depois do investimento que foi feito, a emissora pública do país não ter acesso ao estádio, é motivo de escárnio. Gostaria que fossemos enfáticos, repetitivos e criativos pra falar desse assunto aos nossos telespectadores”, recomendou Eliane Gonçalves, conselheira. Rita Freire, vice-presidenta do Conselho, reforçou que “o futebol é um patrimônio cultural brasileiro que foi privatizado e a EBC deve denunciar isso”.

Segundo João Jorge, conselheiro, o debate público pode ser a melhor saída para a TV Brasil contornar o problema da não exibição dos jogos. “Uma vez que não temos as imagens, podemos fazer mesas redondas interessantes. A EBC pode e deve pensar em algo em torno do debate”, disse.

“Acho que devemos ter mesas redondas diárias, só que em vez de discutir os jogos, devemos discutir os assuntos ao redor da Copa. Temos muitos especialistas, não só jornalistas esportivos, mas de outras áreas, que estão pensando o futebol”, concordou Daniel Aarão, também conselheiro.

Para Murilo Ramos, conselheiro, a principal preocupação da EBC deve ser tratar o futebol em profundidade. “Futebol na TV é entretenimento e não jornalismo, o que é um tremendo de um pecado, porque o tema traz pauta pra política, economia, tudo! Eu sei que nominalmente esporte é jornalismo, mas, na prática, é tratado com superficialidade e palpite”, afirmou.

Nesse sentido, outros membros do Conselho destacaram a importância da cobertura levar em conta a regionalização da produção, questões étnicas e econômicas e as disputas políticas que envolvem o mundial e podem, inclusive, direcionar a cobertura da EBC. “Como vamos cobrir os protestos onde não temos sede? Precisamos lembrar que essas serão ações contrárias aos governos locais, o que influencia a liberdade jornalística dos nossos parceiros de rede. Por isso, a parceria com o mídia-livrismo será essencial no período”, sugeriu Eliane.

Equipamentos de Proteção Individual (EPIs)

A conselheira, que representa os empregados da empresa dentro do colegiado, cobrou a Diretoria da EBC sobre os Equipamentos de Proteção Individuais para os profissionais das equipes de jornalismo, antiga recomendação do Conselho. “Os protesto da Copa já estão aí amanhã, está urgindo. Como vamos cobri-los sem equipamentos de segurança?”

Eduardo Castro, diretor-geral da Empresa, afirmou que duas licitações já haviam sido realizadas e nenhuma teve um fornecedor aprovado. Com isso, uma compra emergencial de capacetes e máscaras estava sendo realizada. Os coletes balísticos serão licitados na quarta-feira, 21, e caso uma empresa seja escolhida, terá 90 dias para a entrega do material, o que não atenderia ao prazo da cobertura para a Copa do Mundo.

Nesse caso, segundo o diretor, a EBC poderia tentar outra compra emergencial, o aluguel dos equipamentos ou a sessão dos mesmos pela Polícia Militar. “Nós nunca obrigamos nenhum repórter a sair, quando há perigo de vida. Ninguém é orientado a se arriscar ou ferir sua consciência”, afirmou Nereide Beirão, diretora de Jornalismo.

“Isso não pode ficar facultado ao indivíduo. Se o repórter vai, mesmo correndo risco de vida, é tido como o herói, se não é o bandido da redação”, defendeu João Jorge. Para o conselheiro, a EBC deve arcar com a responsabilidade institucional de entregar os equipamentos ou não cobrir as manifestações, levando em conta o impacto da decisão.

O pleno, recomendou, então, que a Diretoria encaminhasse para os conselheiros, até o dia 21/05, uma resposta quanto à licitação em curso e as alternativas que serão tomadas para resolução do impasse.

Escola Nacional de Comunicação Pública

Joseti Marques, Ouvidora da EBC e coordenadora do projeto de criação, em parceria com a Unesco, da Escola Nacional de Comunicação Pública, apresentou ao Conselho uma proposta inicial para o funcionamento do órgão. “Pensamos essa escola pra muito além da capacitação profissional dos funcionários da EBC, mas como algo que vai ser relevante para outros meios e no cenário da comunicação no Brasil”, disse.

“Quando realizamos os fóruns de TV pública há alguns anos, uma das demandas era um centro de capacitação de comunicação pública. Acredito mesmo que ele deve ser encabeçado pela EBC”, lembrou Evelin Maciel, conselheira.

Segundo Joseti, a EBC é hoje a empresa de maior expertise em comunicação pública do país, por isso, pode criar, a partir de sua experiência, um centro de capacitação. Seriam realizados cursos para multiplicar o conhecimento já adquirido na prática de seus profissionais; um centro de pesquisas sobre comunicação pública, formado por especialistas, mestres e doutores da casa; e uma central de negócios para relacionamento com outros países. A Escola seria autossustentável, modelo que ainda está em fase de estudo pela Unesco.

Os conselheiros pontuaram a necessidade do projeto ser ampliado, incluindo a contribuição de universidades confessionais e privadas, dos parceiros de rede da EBC, de movimentos sociais e entidades da sociedade civil, de produtores de conteúdo colaborativo e comunitário, e de veículos públicos de outros países, especialmente da América Latina.

“De forma geral, gostei muito da proposta, mas se formos pensar em um projeto de comunicação pública, achei muito fechada em si mesma. Os acadêmicos têm seu lugar de pesquisa, mas a sociedade também tem muito o que acrescentar”, defendeu Rosane Bertotti, conselheira. A colega e presidenta do colegiado nesta reunião, Rita Freire, concordou: “conhecimento não é só fruto de estudo, mas de experiência, e é isso que as comunidades vão trazer para a Escola”.

“Acho que um projeto desse tipo, desde o inicio tem que ampliar as parcerias porque se você chegar a um nível de maturidade e só depois abrir, as pessoas não vão querer participar, vai parecer prato feito”, disse o conselheiro Daniel Aarão.

O pleno aprovou, então, uma resolução que determinou a reescrita do projeto, incluindo novas formas de participação da sociedade na construção da Escola, para uma posterior reapresentação ao Conselho.

A conselheira Ima Vieira ficou com dúvidas em relaçào à institucionalização da Escola: “A ideia é que a EBC, com seus funcionários, formassem o corpo de professores? Legalmente, os empregados podem acumular duas funções? Penso que uma outra opção seria a Empresa fazer uma parceria com a Capes e outros institutos de pesquisa”, explicou a conselheira.

Murilo Ramos questionou, ainda, se a Escola ofereceria graus de pós-graduação. “Se você não der o grau, qual a vantagem de se fazer isso? Senão seria apenas uma capacitação interna, o que não me parece ser a intenção. Além disso, considero o grau importante porque a universidade não vai atender sozinha a demanda da radiodifusão pública”, disse.

Segundo Nelson Breve, diretor-presidente da EBC, o plano estratégico da Empresa prevê duas estruturas diferentes: uma de capacitação corporativa e a Escola. “Precisamos fazer pro nosso corpo funcional primeiramente, porque estamos devendo isso a eles”, afirmou.

Relatório da Ouvidoria

O relatório da Ouvidoria (clique aqui para ler) também foi apresentado pela ouvidora-geral da EBC, Joseti Marques. Os conselheiros destacaram a qualidade do texto, que tem se apresentado mais propositivo. “Todos os relatórios da Ouvidoria são muito bem feitos, eu leio com muita atenção e considero um verdadeiro trabalho de controle de qualidade dentro da EBC”, elogiou José Martins, conselheiro.

Neste mês, o documento traz a análise de uma transmissão de jogo da Série C, pela TV Brasil, cujos comentários dos profissionais foram contrários aos princípios de pluralidade e diversidade da comunicação pública. “O demandante paraíbano tem razão. A TV Brasil tem uma visão muito carioca do futebol e o Brasil hoje é um pouco mais amplo que o Rio de Janeiro, mas os apresentadores só pensam no futebol carioca, especialmente o programa de domingo”, comentou Cláudio Lembro, conselheiro.

Sobre as rádios EBC, o relatório destaca erros na cobertura jornalística e na linguagem de apresentadores. Além disso, questiona títulos, o desaparecimento de uma editoria e a falta de fotografias nas matérias da Agência Brasil. “Diante disso, espero que não sejamos refratários em relação ao relatório, mas que o usemos pra repensar nossa prática”, pediu Eliane Gonçalves, conselheira.

A equipe da Ouvidoria ressaltou, ainda, a pouca visibilidade dada pela Empresa aos canais de acesso do cidadão ao órgão. “Sumimos do Portal EBC. É muito difícil referenciar a Ouvidoria nos veículos porque não temos um link de acesso direto. E a nossa coluna saiu da página da Agência Brasil, com a mudança do site”, disse a ouvidora.

Em função disso, o colegiado recomendou que o acesso ao endereço da Ouvidoria fosse mudado e que esta ganhasse lugar de destaque nos sites da Empresa. Rita Freire, vice-presidenta do Conselho, apontou também a necessidade de se simplificar o formulário exigido para o envio de demandas ao órgão.

O conselheiro José Martins sugeriu, para o encaminhamento de soluções para os problemas apontados no documento, que fosse criado um grupo, dentro da EBC, de controle das demandas. “É preciso estabelecer metas de resolução. Esse relatório não pode se perder, senão, não vale nada”, falou.

O pleno decidiu, porém, pela criação de um Grupo de Trabalho, composto por conselheiros, que avaliará as propostas já apresentadas no texto da Ouvidoria, e transformará algumas em uma Resolução do colegiado – instrumento vinculante – a ser apresentada em sua próxima Reunião, em agosto. O GT será presidido pela conselheira Ima Vieira e composto por um integrante de cada Câmara Temática do Conselho.

Prorrogação de mandatos e novos conselheiros

Os conselheiros Ana Veloso e Mario Jakobskind, que encerrariam seu mandato de quatro anos no Conselho neste mês, manifestaram o desejo de prorrogá-lo por igual período. O colega Takashi Tome, em igual situação, será procurado pela Secretaria Executiva do órgão para se posicionar sobre sua recondução, uma vez que justificou sua ausência na última reunião do pleno.

Outros cinco representantes da sociedade civil – Daniel Aarão, João Jorge, José Martins, Maria da Penha e Murilo Ramos – já encerraram seus mandatos e esperam a nomeação de novos integrantes para deixarem o Conselho (saiba mais aqui). “Gostaria de pedir que a presidência do Conselho e da EBC atuem junto ao ministro da Secom para que a nomeação dos novos conselheiros saia até agosto. Com as campanhas presidenciais e uma possível alternância de poder, pode-se criar um problema na ocupação das cadeiras”, disse Murilo Ramos.

Plano de Trabalho 2015

A Diretoria da EBC solicitou aos conselheiros que encaminhassem por email, ainda no início de junho, sugestões e diretrizes de conteúdo para o Plano de Trabalho da Empresa para 2015, que já está sendo preparado. Os membros do colegiado também foram convidados a encaminhar considerações por email sobre uma proposta inicial de cartilha de participação da sociedade na EBC, demanda surgida em debates travados pelo Conselho.

Calendário

O Conselho Curador se reúne, novamente, no dia 13/08 para sua 51ª Reunião Ordinária, quando será definida a agenda do órgão até o fim do ano.

 

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Clique aqui e veja, na íntegra, vídeos da Reunião.
 

Texto: Priscila Crispi (jornalista da Secretaria Executiva do Conselho Curador).
Fotos: Giovana Tiziani (EBC).

 

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