Para discutir algumas das questões mais relevantes do cenário europeu e mundial na atualidade, o jornalista Moisés Rabinovici recebe o embaixador da União Europeia no Brasil, João Gomes Cravinho, no programa Um olhar sobre o mundo desta segunda (21), às 21h45, na TV Brasil.
O embaixador destacou em sua entrevista que existe atualmente uma preocupação dos países europeus em relação ao presidente norte-americano Donald Trump, que tem assumido posições diante de questões internacionais sem levar em conta a opinião dos dirigentes da Europa.
Cravinho lembra que o mundo inteiro vive momentos de grande tensão e que a chamada ordem internacional está em perigo em função do unilateralismo de Trump e de seu afastamento da Europa.
"Nós temos uma ordem internacional que, mal ou bem - sabemos todos que poderia ser uma ordem melhorada -, manteve a paz internacional nos últimos setenta anos, desde a Segunda Guerra Mundial. A Europa é uma parte muito importante disso e essa ordem está claramente sob assalto", disse.
Para o embaixador da União Europeia no Brasil deve haver empenho para a existência de uma atitude de multilateralismo em relação ao mundo para que a ordem internacional seja mantida.
Segundo Cravinho, é vital que nesse contexto prevaleça a justiça e que não valha a "lei da selva", onde se imponha a lei do mais forte contra qualquer consideração de direitos dos outros.
"Esse tipo de mundo não nos interessa e nós vamos fazer todo o possível para trabalhar com os países aliados. Acreditamos que os Estados Unidos têm um papel a desempenhar nisso. Nos últimos oito anos trabalhamos bem com Obama, antes de Trump e acreditamos que os Estados Unidos não sejam uma causa perdida. Acreditamos que no futuro poderemos voltar a contar com os EUA", afirmou.
Ao comentar a situação atual de Israel, onde recentemente ocorreu um sangrento confronto na fronteira da Faixa de Gaza, quando foram mortos por forças militares do pais mais de 60 palestinos que protestavam contra a inauguração da embaixada dos Estados Unidos em Jerusalém, o embaixador disse que a situação no Oriente Médio é muito preocupante.
"Os Estados Unidos durante as últimas décadas procuraram desempenhar um papel de fiel da balança, um papel de promotor de uma solução inclusiva. Parecem ter abandonado esse papel, ficando o mundo em uma situação em que dificilmente se verá quem consiga promover a paz no Oriente Médio", afirmou.
O embaixador assegurou que a União Europeia está empenhada em salvar o acordo nuclear com o Irã que os Estados Unidos romperam no início deste mês. "A União Europeia está profundamente empenhada em procurar salvar este acordo. Esta é a melhor oportunidade que nós temos para evitar uma corrida aos armamentos no Oriente Médio, para evitar que o Irã obtenha armas nucleares", comentou.
Ele também abordou os comentários de Trump sobre a saída do Reino Unido da União Europeia, quando o presidente norte-americano elogiou a atitude dos britânicos. "Não creio que os europeus se sintam muito motivados ou incentivados por esse tipo de comentário".
Ressaltou que o apoio do presidente Trump contraria décadas de política americana, sempre favorável a um Reino Unido fortemente consolidado no centro da Europa, como uma ponte entre Washington e Bruxelas, onde fica a sede da UE.
Disse acreditar que os britânicos foram alvo de uma campanha de promessa falsas para optarem por abandonar a União Europeia e que o Reino Unido vai ter que encontrar outras fontes orçamentárias para pagar aquilo que vai deixar de receber da organização.
O embaixador, que é português e já foi Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação em Portugal, debateu com Rabinovici sobre a boa situação atual de seu país onde, segundo disse, se instalou uma consciência positiva com o povo voltando a acreditar em si próprio e onde se implantou uma política econômica que funciona, o que provocou um círculo virtuoso.
"O que se passa em Portugal é muito interessante porque mostra novos caminhos, mostra que não somos obrigados a pensar de forma completamente homogênea, de acordo com aquilo que aparece em um ou outro manual de economia", explicou.
Cravinho condenou o movimento separatista na Espanha e destacou que toda a dinâmica da União Europeia busca unir e não dividir. "Portanto, o separatismo para nós dentro da Europa é algo que vemos com grande preocupação. Esperamos que não haja agora, a partir de 2018, outras ameaças separatistas dentro da União Europeia", destacou.
Douto pela Universidade de Oxford e com licenciatura e mestrado na London School of Economics, o diplomata já foi embaixador da União Europeia na Índia, entre 2011 e 2015. Foi também professor do curso de Relações Internacionais na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e professor convidado no ISCTE e na Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa. É autor do livro "Visões do Mundo", sobre teoria das relações internacionais, além de diversos artigos em revistas especializadas e em jornais.
Serviço:
Um olhar sobre o mundo – segunda-feira (21), às 21h45, na TV Brasil.