Apesar das notícias, ouvinte reclama o que é público

Publicado em 16/06/2016 - 19:19 e atualizado em 17/06/2016 - 12:07

Coluna da Ouvidoria

Joseti Marques - Ouvidora da EBC

Mesa de som

A EBC esteve frequentando assiduamente o noticiário dos jornalões durante os dias que antecederam a tragédia perpetrada pelo terrorismo contra 49 pessoas na boate Pulse, em Orlando, nos EUA.  À exceção da disputa judicial em torno do mandato do presidente da EBC, Ricardo Melo, as reportagens, em geral, não trazem novidades; repetem apenas as mesmas argumentações de matérias antigas, em que se tentava provar que a TV Brasil deveria ser banida do espectro brasileiro da radiodifusão por ter um custo alto de operação e dar “traço” de audiência -  eram tempos menos turbulentos e, nessas matérias, a EBC e a comunicação pública sequer eram mencionadas. 

Portanto é desnecessário descer a detalhes das reportagens, tanto as daquele período quanto as atuais. Destas, bastam os títulos e subtítulos para se perceber que, o que antes eram críticas insistentes, agora evoluíram para notícias sobre a crescente ameaça que vem rondando a empresa pública de comunicação. A cada dia, manchetes dão garantia de que alguma ação devastadora estaria sendo elaborada nos bastidores do governo interino, como se pode ver:

“Em meio a polêmica, EBC poderá ser extinta pelo governo Temer”; “Geddel Vieira Lima e Moreira Franco defendem fim da empresa pública”; “EBC virou ‘cabide de emprego’ e símbolo de aparelhamento político, diz ministro”; “Geddel Vieira Lima confirma que proposta de extinção da empresa pública ganha adeptos e foi discutida com Temer”; “Como o governo quer retomar a EBC”; “Aliados de Temer pedem extinção da EBC”; “Governo estuda propor MP para tentar resolver impasse na EBC”; “Governo interino de Michel Temer estuda reestruturar TV estatal (sic)”.

Esses títulos e tantas outras matérias decretam, por manchete de jornal, o fim da esperança de que o Brasil avance em direção à concretização de um importante preceito da Constituição Cidadã, outorgando à sociedade o que lhe é de direito – uma comunicação que não tenha vinculação nem com o capital anunciante e nem com a propaganda dos governos de turno. Aliás, no rol de motivos alegados para que o serviço público de comunicação desapareça está a excessiva divulgação de ações governamentais.  E os espectadores dos veículos públicos, convencidos dessa impropriedade, reclamam à Ouvidoria.  Como aconteceu hoje (16/6), por exemplo.

Muito irritado, o ouvinte Walter Schluter telefonou para a Ouvidoria reclamando da interferência, no meio da programação da MEC FM, do que ele identificou como propaganda do governo. Ele disse que era ouvinte antigo da rádio e que essa foi a primeira vez que isso aconteceu, ao longo de anos. Ele reiterou que a MEC FM é a única rádio que ele escuta e que se isso começar a fazer parte da programação, a emissora perderá um ouvinte fiel.

A Ouvidoria foi conferir; o ouvinte tinha razão.  Às 16h10, a programação das rádios públicas foi interrompida bruscamente para veicular a transmissão da cerimônia de assinatura do edital de abertura de 75 mil vagas, para o segundo semestre, do Fundo de Financiamento Estudantil (FIES), pelo ministro da Educação, Mendonça Filho, e pelo presidente interino Michel Temer.   Obviamente que a notícia é de interesse público, mas apenas como notícia; do ponto de vista jornalístico, não se justifica o aparato que invadiu, de supetão, a programação regular das rádios públicas, formando uma espécie de cadeia, transmitindo, ao vivo, uma cerimônia de governo. Essa é a missão da TV estatal, NBR, e do programa A Voz do Brasil.

Não faz sentido trocar seis por meia dúzia. Além disso, até o fechamento dessa Coluna, as notícias devastadoras prenunciadas pelos jornalões ainda não se haviam concretizado.  A Ouvidoria considera que não se pode desconhecer que a tensão que ronda o futuro, atormenta e confunde as rotinas, propiciam erros e atropelam as competências. Um erro, seguramente.  Essa talvez seja a única justificativa para uma ocorrência que surpreendeu ouvintes e a própria Ouvidoria, pelo que nos desculpamos com o ouvinte da Rádio MEC FM e das demais emissoras públicas. 

Até a próxima!

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