Leitor reclama o outro lado da história das antenas de telefonia celular

Publicado em 15/08/2016 - 13:15 e atualizado em 15/08/2016 - 15:26

Coluna da Ouvidoria

Joseti Marques - Ouvidora da EBC

Antena de telefonia móvel

A Ouvidoria recebeu uma reclamação sobre reportagem feita pela Agência Brasil que aponta diretamente para o diferencial de aprofundamento e independência que se espera da comunicação pública na elaboração das matérias – independência dos interesses de mercado e aprofundamento para melhor esclarecimento dos leitores.

E é isso o que cobra, em sua mensagem, o professor Reny Cury Filho, de Uberlândia/MG, doutor em Ciências pela Faculdade de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Ele define como “notícia dos que defendem que está tudo certo” a reportagem sobre a retirada de 31 antenas de telefonia celular, localizadas em terrenos de escolas públicas no Distrito Federal, por recomendação do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), sob justificativa de que a proximidade das antenas pode provocar prejuízos à saúde da população.

O leitor cobrou da Agência uma opinião divergente das que são apresentadas na reportagem, para esclarecer melhor o aspecto dos riscos à saúde. O que ele pede é o que, no jornalismo, classificamos como “o outro lado”, ou o “contraditório” da questão – uma opinião que apresente argumentos tecnicamente competentes e que aponte para outras possibilidades, além daquela defendida pelas partes interessadas em um dos lados do assunto. O professor chega a citar pesquisador de universidade americana como possibilidade de fonte. A reportagem a que ele se refere - Brasília deve retirar 31 antenas de telefonia celular instaladas em escolasrealmente deixa transparecer uma adesão aos argumentos das operadoras de telefonia celular na contestação à determinação do MPDFT, em detrimento dos aspectos contrários.

Em uma reportagem de nove parágrafos, os quatro primeiros informam corretamente sobre a notificação da Agência de Fiscalização do Distrito Federal (Agefis) às operadoras sobre a retirada das antenas. Do quinto parágrafo em diante, a reportagem destaca dois aspectos que considera envolvidos na questão: os malefícios à saúde e os prejuízos à telefonia móvel e internet com a retirada das antenas. Na opinião da Ouvidoria, essa não é uma contraposição correta do ponto de vista da comunicação pública, mas, nessa ordem, temos quatro parágrafos que privilegiam o interesse das operadoras, contra um parágrafo de cinco linhas que descreve os argumentos do MPDFT, de forma burocrática, sem citar sequer uma fonte.

Em resposta à reclamação, a Superintendência de Agências e Conteúdo Digital informou que já havia feito uma matéria tratando especificamente da polêmica sobre os riscos à saúde: “Antenas de celular não fazem mal à saúde, defendem especialistas”. A começar pelo título, a opção pela assertiva deixa a Agência desprotegida no que tange ao necessário distanciamento jornalístico. Ainda mais quando, no título, afirma-se que “especialistas” (no plural) garantem que antenas não fazem mal à saúde, mas a reportagem entrevista apenas um, que é professor de Engenharia Elétrica, uma especialidade que talvez não seja a mais adequada para informar sobre saúde.  E mesmo assim, ao final da matéria, o especialista vai alertar para os prejuízos que a retirada das antenas pode provocar não à saúde, mas à cobertura e sinal de telefonia celular e internet.

Também nessa segunda matéria, as fontes que defendem a manutenção das antenas têm cargo e nome, enquanto a fonte que defende a retirada delas é referida apenas pela sigla MPDFT. À primeira vista, isso pode passar despercebido ao leitor, mas o efeito de sentido que produz no público é o reforço da credibilidade da fonte que é citada com suas credenciais, colocando em segundo plano ou com menos destaque aquela de quem se omite o crédito.

A matéria tem outras fragilidades, entre elas a de assumir pacotes prontos de informação sem uma participação mais efetiva da reportagem no aprofundamento dos dados. Sem isso, a comunicação pública fica a dever no quesito contribuição para a formação crítica da sociedade. O leitor que recorreu à Ouvidoria atirou no que viu, mas acabou acertando também o que não viu.

Até a próxima!

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