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Histórias do front: peças de radioteatro contaram a Segunda Guerra Mundial
Criado em 27/08/15 18h06
e atualizado em 27/08/15 18h08
Por Marília Arrigoni
Edição:Allan Walbert
Abril e maio de 1945 entraram para a história como meses em que foram confirmadas a rendição das forças alemãs e as mortes do líder nazista alemão, Adolf Hitler; e do italiano fascista Benito Mussolini. Mas foi só em 2 de setembro do mesmo ano que o Japão - também integrante da chamada 'Aliança do Eixo' - oficialmente se rendeu às 'Forças Aliadas', estas capitaneadas pelos Estados Unidos, Grã Bretanha e União Soviética. A rendição marcou o fim da Segunda Guerra Mundial após uma sequência destruidora de ataques dos EUA com bombas atômicas sobre as cidades de Hiroshima e Nagasaki.
No Brasil, o fim da guerra e a derrota dos alemães já havia sido noticiado pelo rádio, principal veículo de massa no período, desde 8 de maio. O 'Dia da Vitória' é o marco histórico comemorado como fim do conflito na maior parte do continente europeu.
Noticiários e peças de radioteatro detalharam amplamente o período do conflito global, iniciado em 1937. As emissoras possuíam quadros, programas informativos e de radiodramaturgia que narravam diferentes aspectos da Segunda Guerra, a partir da ótica dos países Aliados, já que o Brasil entrou no combate em 1942 em apoio aos norte-americanos. Por parte das forças do nazismo, o rádio também protagonizou importante de comunicação do governo neste período. O ministro da Propaganda da Alemanha, Joseph Goebbels, apropriou-se do meio para garantir a disseminação das mensagens racistas e totalitaristas.
O Portal EBC resgata seis dessas peças de radioteatro que os brasileiros escutavam entre 1943 e 1944, a partir da colaboração do Arquivo Nacional do Rio de Janeiro. Cada uma possui em média 30 minutos e trata, entre outros assuntos, da entrada do Brasil no conflito, as ações do governo nazista a partir da série “Este é o nosso inimigo”, a fome na Europa e as mulheres na guerra. Os conteúdos foram produzidos em Nova York e são baseados no relato de histórias das frentes de guerra (front) enviadas por correspondentes norte-americanos.
Radionovelas contaram a Segunda Guerra Mundial. Ouça algumas peças:
Sobre as diferentes datas que celebram o fim do combate mundial, a historiadora Patricia Merlo, doutora pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) explica que o lançamento das bombas atômicas contribuíram para o Japão reconhecer o encerramento do conflito.
“Logo na sequência das bombas, lançadas nos dias 6 e 9 de agosto, o Japão, destruído, acaba assinando a rendição. Há inclusive informações de que o Japão já havia sinalizado para uma rendição antes das bombas, mas os Estados Unidos optaram por uma questão geopolítica, de demonstração da bomba, de poder”, salientou a historiadora Patricia Merlo, doutora pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Informação e ideologia
Da Agência Nacional, criada por Getúlio Vargas nos anos 1930, o Arquivo Nacional do Rio de Janeiro guarda inúmeras séries e peças da radiodramaturgia que eram distribuídas para emissoras de todo o Brasil. A agência atuou em parceria com a Rádio Nacional na distribuição e transmissão do conteúdo.
“O conteúdo era tanto informativo quanto ideológico. Nos Estados Unidos, seja soap opera (gênero similar à novela), radioteatro, seriados infanto-juvenis, eles sempre mostravam o lado da guerra do ponto de vista dos aliados. O grande vilão é o oposto, o nazismo, e todos que estão envolvidos naquilo. Outro fator muito importante, na drama radiofônica, é a utilização de um lado de entretenimento. É uma maneira de embarcar na fantasia e aliviar as tensões”, explicou o professor e pesquisador de Comunicação Social, Rádio e TV, Flavio Luiz Porto e Silva, da Fundação Armando Alvares Penteado (Faap).
Mensagens que motivavam a população a defender o Brasil e as nações aliadas também se mostram presentes nesses áudios.
“A radionovela tinha a questão também de manter a família unida, o povo unido. As famílias se projetavam naquela história - o que é muito comum no cinema. Todo ser humano precisa da fantasia. Esse tipo de dramaturgia ajuda a moral em alta do americano, os valores da sociedade americana e aquela coisa de não se deixar vencer, de manter a unidade da sociedade americana”, ressaltou Silva.
O radioator da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, tendo estreado em 1953, Gerdal dos Santos atuou em radioteatros com temas relacionados à guerra, entre outras razões,porque o cachê era bom. "Eu fiz dois programas: um era o “Brasil na Guerra”, um programa pago pela embaixada americana, e os artistas gostavam de fazer porque o cachê era bom. Eram programas fundamentados na paz, nos aliados, contra o nazismo e o fascismo", lembra. Gerdal dos Santos estreou no radioteatro em 1953 e trabalhava na Rádio Tupi quando foi chamado pelo narrador de cinema Fernando de Sá para atuar nas produções. “Tinha entre 12 e 13 anos quando fui convidado para fazer os programas contra os países do Eixo”, afirma o radioator, que acompanhou a chegada dos soldados brasileiros da Força Expedicionária Brasileira (FEB), no Rio de Janeiro, então capital federal.
Radioteatro ou radionovela? Conheça o gênero
O gênero radionovela está presente na programação do rádio brasileiro desde anos 1930 até hoje, por exemplo com as produções feitas pelo Núcleo de Radiodramaturgia das Rádios Nacional e MEC, da EBC.
“Na Nacional, a primeira radionovela foi em 1941, a “Em busca da felicidade”. Fez tanto sucesso que fizeram um andar inteiro para isso”, detalhou a professora da PUC-RJ, Rose Esquenazi.
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Radioteatro engloba tudo; toda radiofonização de uma história é radioteatro. “É quando você faz o unitário, adapta aquilo para uma emissão, aquilo termina naquele dia. A história, em capítulos, que tem origem no folhetim, é a radionovela. A série tem episódios independentes amarrados por uma temática”, define o pesquisador de Comunicação Social, Rádio e TV, Flavio Luiz Porto e Silva.
Conheça a radionovela 'Na Onda Digital', da Rádio Nacional da Amazônia
O Observatório da Imprensa relembrou os 70 anos do fim da Segunda Guerra com uma entrevista especial com o cineasta Vicente Ferraz e o músico João Barone sobre o conflito que dizimou seis milhões de judeus e reordenou a geografia, a política e a economia mundial. Também participa do debate o jornalista Ricardo Bonalume Neto. Assista no vídeo abaixo.
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