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Imagem: Unsplash / Pixabay

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No-poo e low-poo: sem xampu, cabelos ficam mais saudáveis e bonitos

Criado em 15/06/16 12h00 e atualizado em 15/06/16 17h48
Por Adriana Franzin e Bruna Ramos - Portal EBC

Mas o que há de errado com o xampu? Dois compostos químicos presentes na grande maioria dos produtos: sulfatos agressivos e petrolatos. Os sulfatos geralmente são incorporados às fórmulas por produzirem bastante espuma e causarem a falsa impressão de limpeza. Porém, o que de fato acontece, é que as impurezas do cabelo vão embora, bem como a proteção natural do couro cabeludo. Já os petrolatos, que estão presentes nas máscaras e condicionadores e, embora transmitam uma sensação de hidratação, criam uma película impermeável que barra a reposição nutricional dos fios.

Ao abolir tanto os sulfatos, que desprotegem o couro cabeludo, como os petrolatos, que encapam o fio, os cabelos podem ganhar nova vida, garante a cabeleireira Daniela Lisboa, que atua em um salão especializado em cachos e participa da página Amigas Cacheadas. Segundo ela, o uso das técnicas proporciona maior saúde e brilho para os fios e não tem contraindicação.

“As técnicas no-poo e low-poo podem ser feitas em qualquer tipo de cabelo e em qualquer pessoa, sejam homens, mulheres ou crianças”, esclarece.

A escolha de retirar essas substâncias da rotina capilar deve vir acompanhada de um profundo conhecimento da técnica. “Cada fórmula (low-poo e no-poo) é específica para alguns tipos e condições do cabelo e couro cabeludo”, explica Sonia Corazza, engenheira química com especialização em cosmetologia. De acordo com ela, a técnica do low-poo – que utiliza fórmulas com baixa detergência, sem uso de sulfatos agressivos – pode ser adotada por qualquer pessoa que busca formas mais suaves de limpeza dos fios e couro cabeludo. Já os produtos para no-poo – que são basicamente um condicionador com um pouquinho de detergente suave – só deve ser feita por pessoas com cabelo muito ressecado e pouquíssima sujeira ou oleosidade no couro cabeludo.

Mulher cabelo cachedo
Creative Commons - CC BY 3.0 - Mulher cabelo cachedo

Pixabay/ magicphoto215

Apesar de a técnica ter sido desenvolvida em parceria entre os cabelereiros Denis da Silva, brasieliro, e Lorraine Massey, uma inglesa cacheada que propôs uma fórmula para conservar a hidratação natural dos fios, pessoas com cabelos lisos também podem ser beneficiadas com o tratamento. Isso porque o low-poo interrompe o efeito rebote que aumenta a oleosidade do couro cabeludo quando se faz uso de xampus agressivos.

Encontrar produtos condizentes com os preceitos do low-poo/ no-poo ainda dá trabalho. Mas é possível identificar algumas marcas que já aboliram os sulfatos e petrolatos de sua fórmula. Neste caso, essa informação costuma ser identificada de forma clara nas embalagens.

Mas, cuidado com a pegadinha: xampus sem sal (sem cloreto de sódio) são diferentes de xampus sem sulfato.

Para Sonia, é essencial que os adeptos da técnica utilizem as fórmulas comerciais para os cuidados com as madeixas. “Jamais aconselho fórmulas caseiras, pois a pessoa não tem os ingredientes corretos, não tem como manipular, calcular, pesar, processar ou conservar as substâncias. E sem o conhecimento técnico para isso, pode causar um processo de sensibilização e dano a si própria”, alerta.

Como começou o movimento no-poo / low-poo?

No-poo / low-poo e meio ambiente

Conheça os sulfatos e petrolatos proibidos no no-poo e low-poo

Cabeleireira lavando os cabelos da cliente
Creative Commons - CC BY 3.0 - Cabeleireira lavando os cabelos da cliente

 

Como começou o movimento no-poo / low-poo?

Denis da Silva é cabeleireiro há 37 anos. Há 16 percebeu que não entendia nada de cabelo. Depois de fazer muito permanente, na década de 80, e alisamento japonês, nos anos 90, começou a ficar incomodado com a insatisfação de suas clientes, que saiam belíssimas do salão e voltavam arrasadas dias depois com o cabelo mais desarrumado e menos saudável que antes. 

O tal efeito “castelo de areia” (que é lindo, mas não é à prova d'água) fez ele constatar que não sabia o que estava fazendo até então. “Se você perguntar para uma esteticista a respeito de pele, ela sabe exatamente todas as camadas da pele. Entra no salão e pergunta para um cabeleireiro as camadas do cabelo, a porcentagem de proteína, por exemplo, que existe no cabelo. Nenhum cabeleireiro sabe disso. Porque nós não entendemos de cabelo. Nós entendemos de fazer o trabalho. Não do cabelo em si. Até então, eu achava que quem entendia de cabelo era quem fabricava o produto. Mas quem fabrica o produto fabrica para o marketing não para o cabelo”, afirma o especialista.

Dono de um salão em Nova York, começou a pesquisar, por conta própria, alternativas para fazer com o que a beleza dos cabelos cacheados fosse sustentável. Os caminhos foram trilhadas por produtos cada vez mais naturais. Por conta disso, foi apresentado por uma cliente em comum a Lorraine Massey. 

Lorraine também tinha um salão voltado para cabelos cacheados, resultado de uma vida inteira de luta para aceitar e aprender a cuidar das próprias madeixas. A loira cresceu revoltada por nascer em uma família de seis crianças de cabelos lisinhos, em Leicester, Inglaterra. No livro Curly Girl ela conta que detestou seus cabelos assim que se olhou no espelho e percebeu que era diferente. Cresceu se sentindo inferior e esquisita. Sentava sempre atrás na escola e sofria zombaria dos colegas. Depois de tanto tempo dedicado a manter seus cachos em ordem, trabalhar com isso era inevitável, ela diz.

Denis e Lorraine se tornaram sócios e criaram o Devachan Salons. O objetivo não era alisar nem formatar com químicas os cabelos cacheados, mas tratá-los como são, torná-los saudáveis e naturalmente bonitos. A maior barreira, para eles, era convencer as clientes em aceitar o próprio cabelo.

“O nosso trabalho é mais psicológico do que qualquer outra coisa. É fazer a cliente entender que, na verdade, o cabelo frizado é um cabelo pedindo para ser tratado de forma melhor. O cabelo frizado não existe. O que existe é um cacho querendo se formar, mas que é impedido pelos tratamentos usados.”

Mulher cabelos cacheados
Creative Commons - CC BY 3.0 - Mulher cabelos cacheados

Pixabay/ Ana_J

A segunda dificuldade foi criar uma fórmula que conseguisse atender a esse público dentro e fora do salão. Um xampu livre de todas as químicas que Denis descobriu serem maléficas para o cabelo. Nessa época fez amizade com um químico alemão que trabalhava pra uma grande empresa de cosméticos e ficou chocado com o que percebeu.

“É de se assustar como pensa um químico que faz produto pro cabelo. Ela pensa que cabelo não é importante. O que ele está fazendo ali é uma química. Não é um produto para cabelo. É uma química que vai ser feito um marketing em cima do cheiro do produto, da cor do frasco, do que vai ser falado no rótulo e o cabelo não tem nada a ver com isso. É apenas um processo de marketing.”

Denis explica como são feitos os produtos para cabelo, pela indústria química:

Creative Commons - CC BY 3.0 - Denis da SIlva - Indústria_do_xampu.mp3

Com a ajuda desse químico, agora imbuído da tarefa de fazer uma fórmula realmente voltada para a saúde dos cabelos, foi criada a linha de cosméticos Diva Curl. Por não serem, na fórmula, parecidos com os xampus, os produtos criados pela dupla não poderiam ser chamados assim. Daí veio o nome no-poo (quando não há nenhuma quantidade de sulfatos ou petrolatos) e low-poo (para baixas quantidades desses componentes).

O projeto era criticado por parceiros de setor. “Muita gente disse que a nossa linha não ia dar certo, por que nós defendíamos o cabelo cacheado natural na época do maior sucesso dos lisos”, conta Denis. No entanto, desde então, passaram a contar com uma clientela fiel de 11 a 12 mil encaracoladas por ano. 

Os conhecimentos que defendem ganharam divulgação e, hoje, são adotados em vários países do mundo. Lorraine, recentemente, se aposentou. Mas Denis mantém o salão e faz palestras aqui e no estrangeiro sobre como cuidar dos cachos mantendo-os belos e saudáveis.

No-poo / low-poo e o meio ambiente

A aplicação do no-poo e low-poo não traz benefícios apenas capilares. Se adotada por um considerável número de pessoas, poderia significar uma grande economia de água para o planeta. Isso porque, quando se limpa os fios de forma adequada, a limpeza dura mais e exige menos lavagens, reduzindo o tempo no banho. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), um banho de 15 minutos consome 135 litros de água; já em um banho de 5 minutos, se gastam 40 litros.

Além disso, algumas das substâncias presentes nas fórmulas de xampus e condicionadores que fazem mal para os fios também prejudicam o meio ambiente. É o caso do petrolato: não é solúvel em água, possui alta impregnação nos solos e não é biodegradável, além de ser prejudicial aos organismos aquáticos e tornar a água contaminada imprópria para o consumo humano. Da mesma forma, o lauril sulfato de sódio pode provocar efeitos tóxicos sobre organismos vivos.

Conheça os sulfatos e petrolatos proibidos no no-poo e low-poo*:

Sulfatos

Sodium laureth sulfate (sodium lauryl ether sulfate - SLES)
Sodium laurilsulfate (sodium lauryl sulfate - SLS)
Ammonium Lauryl Ether Sulfate(ALES)
Ammonium lauryl sulfate (ALS)
Sodium Trideceth Sulfate (também comercializado como: Sulfato de sódio polioxietileno tridecilo; sulfato de sódio ÉTER tridecilo; etanol, 2 [2 [2 (trideciloxi) etoxi] etoxi], sulfato de hidrogénio, sal de sódio; de sódio a 2 - [2 - [2 - (trideciloxi) etoxi] etoxi] ETÍLICO sulfato, sódio tridecilo TRI (oxietil))
Tridecyl polyoxyethylene sodium sulfate
Sodium tridecyl sulfate ETHER ethanol
sodium tridecyl TRI ( oxyethyl )
sodium 2 - [2 - [ 2 - ( tridecyloxy ) ethoxy ] ethoxy ] ethyl ester sulfate
ethanol, 2- [2- [ 2- ( tridecyloxy ) ethoxy] ethoxy] hydrogen sulfate , sodium salt
sodium sulfate Coconut
lauryl sulfate and ammonium laureth
TEA lauryl sulfate
TEA dodecylbenzenesulfonate
alkylbenzene sulphonate
ammonium or sodium xylenesulfonate
Sodium laureth , myreth , sodium lauryl sulfate

Petrolatos

Petrolatum/petrolato
Mineral Oil/óleo mineral
Parafinum Liquid/parafina líquida
Vaselina
Isoparaffin
C13-14 Isoparaffin
C12 - 20 Isoparaffin
Isododecane
Isodedecene
Alkane
Dodecano/Dodecane
Dodeceno/Dodecene

*Lista compilada pela moderação da comunidade low / no-poo no Facebook, passível de alterações.
 

Creative Commons - CC BY 3.0

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