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Meninos da comunidade Metrô-Mangueira jogam futebol e interagem com turistas em rua interditada por policiais nos arredores do estádio do Maracanã.

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Jovens de favela vizinha ao Maracanã aproveitam rua interditada para jogar bola

Criado em 22/06/14 18h20 e atualizado em 22/06/14 18h41
Por Vinícius Lisboa Edição:Stênio Ribeiro Fonte:Agência Brasil

 

Meninos jogam futebol de rua e interagem com turistas
Meninos da comunidade Metrô-Mangueira jogam futebol e interagem com turistas em rua interditada por policiais nos arredores do estádio do Maracanã. (Tânia Rêgo/Agência Brasil)

Douglas Rios da Silva, de 12 anos, assistia tenso a dribles e lances sentado no meio fio da Avenida Radial Oeste, zona norte do Rio de Janeiro, na tarde de hoje (22). A bola que ele acompanhava, no entanto, nada tinha a ver com a do confronto Rússia e Bélgica, que acontecia a poucos metros dali, no Maracanã. De costas para o estádio, ele torcia para que a partida entre seus amigos da favela Metrô-Mangueira acabasse logo, para que ele pudesse entrar no próximo jogo.

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"Aqui a gente só tem como jogar bola. É a única diversão. A gente joga ali no gramado do meio da pista, mas é ruim porque tem caco de vidro e cocô de cavalo. Como eles fecharam hoje, a gente veio jogar aqui", conta ele, apontando para os amigos e o irmão, de pés descalços, no asfalto da via, que fica em frente à comunidade em que mora e já foi palco de confronto com policiais e manifestações.

Três jovens e adolescentes jogavam de cada lado, e um time esperava quem perdesse para "entrar em campo". Douglas, aluno do quinto ano em uma escola municipal, era o mais novo deles. "Primeiro, a gente tentou arrumar um dinheiro parando os carros, mas os policiais não deixaram. Aí, viemos jogar. Enquanto ficar fechado, vamos continuar aqui", disse ele, que se referia à atividade irregular de flanelinha, que ele diz sempre repetir nos dias de jogos nacionais no Maracanã.

Douglas vive com quatro irmãos e a avó na comunidade, que está sendo removida desde 2011, e dará lugar a um polo automotivo. Ele não vê o pai há dois anos, e também não sabe o paradeiro da mãe, que é dependente de crack e vive na rua. A família se mudou para lá em 2013, fugindo da violência no Complexo do Lins. Desde então, ele conta que já conseguiu ir ao Maracanã uma vez.

"Depois que já chega no segundo tempo, muitos cambistas jogam o ingresso fora. Aí, eu peguei um e consegui entrar para ver um jogo do Vasco", lembra o jovem flamenguista, que se explica: "Sou Flamengo, mas queria entrar lá". Entre os amigos, ele é o único que conseguiu.

A cena do jogo improvisado no asfalto chamou a atenção dos poucos turistas que passavam por ali, e muitos tiraram fotos. Um deles, porém, resolveu chegar mais perto: o argentino Maximiliano Attwell, de 29 anos. Estudante de arquitetura, ele veio passar o mês da Copa do Mundo assistindo os jogos no Brasil, e aproveitou para ganhar dinheiro pintando bandeiras no rosto dos torcedores. Ao ver o futebol, logo pediu para jogar. Esperou com Douglas, tirou a camiseta e o tênis, e entrou no time dele.

"Os brasileiros têm uma paixão muito grande pelo futebol. Vi os meninos aqui e quis jogar com eles. Estou morando na casa de uma família aqui perto e sempre passo por aqui", conta o argentino, que comprou um refrigerante e um biscoito para uma das crianças que assistiam à brincadeira. Cobrando R$ 10 por cada pintura facial, ele responde com uma risada se está dando para ganhar um bom dinheiro: ao abrir a mochila, mostra uma quantidade de notas que nem ele sabe qual é.

Nem dez minutos se passam e uma dupla de colombianos também se aproxima e se interessa pelo jogo. Ambos vestindo uniformes de suas seleções e com perucas imitando o ex-jogador Carlos Valderrama, acabam fazendo festa com a plateia de crianças e desistem do futebol: "Me chamou muita atenção a alegria desses meninos. Este é o verdadeiro futebol do Brasil. Sei pouco sobre as favelas, e dizem que são muito perigosas, mas queria conhecer o outro lado", disse o publicitário Ivan Leon, de 30 anos.

Vendo mais um gol no futebol do asfalto, ele compara a desigualdade social no Brasil e na Colômbia: "Aqui eu tenho a impressão de ver pessoas mais ricas e também pessoas mais pobres que lá. A distância parece ser maior".

O time de Douglas e do argentino perde, e dá lugar a outro trio depois de tomar três gols. Sem nem saber que seleções estão se enfrentando no Maracanã, ou o placar, Douglas continua a assistir seu próprio futebol. "Eu vejo os jogos do Brasil e torço. O time é muito alegre e embalado", elogia o adolescente, que critica a Copa em poucas palavras: "Estão dando mais direitos para ela do que pra quem é de casa".

 

>> Copa 2014: Acompanhe a cobertura completa da Agência Brasil

Editor Stênio Ribeiro

Creative Commons - CC BY 3.0

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