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Fotos de vítimas do genocídio em Ruanda, expostas no Memorial de Kigali

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Ruanda: 800 mil mortos, 100 dias de massacre e 20 anos de lições

Criado em 05/04/14 16h55 e atualizado em 06/04/14 19h57
Por Por Luiz Claudio Ferreira e Allan Walbert Fonte:Portal EBC

Esconder-se por entre corpos e achar-se no inferno. Refugiar-se em buracos e fossas e contar os minutos finais do que poderia ter de vida. Assistir ao assassinato da família inteira e rever-se no que restou de alma. Atenção: não pode chorar, não tem para quem gritar. Histórias semelhantes dos sobreviventes do massacre em Ruanda, na África, em 1.994 – e não a contabilidade fria e imprecisa – tornam bem mais exata a dor, com tudo o que ela tem de imensurável.

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Os números divulgados pela ONU, de 800 mil mortos em cerca de 100 dias a partir do dia 6 de abril daquele ano, abriram uma chaga do tamanho de um país. Naquele lugar, 10% dos ruandeses foram exterminados, e uma quantidade incontável de seres humanos sofreu inúmeros episódios de violência que não ficaram aparentes apenas nos corpos dos que ficaram para rememorar e contar. A grande maioria das vítimas do massacre era da etnia tutsis atacadas por grupos armados de origem de hutus extremistas. O trauma infinito completa 20 anos no dia 7 de abril, quando o país celebra um dia de reflexão. Ruanda busca reconciliação e a comunidade internacional, que podia evitar tanto sangue, ainda tenta compreender o próprio fracasso.

“É, sem dúvida, um marco trágico para a comunidade internacional desde a criação da ONU ao final da 2ª Guerra Mundial porque demonstrou a incapacidade dos estados-membros de agirem a tempo. Trata-se de um terrível momento para todos nós”, disse ao Portal EBC o diretor do Centro de Informação das Nações Unidas no Brasil, Giancarlo Summa. Ele considera que a guerra civil em Ruanda foi resultado de um processo, que também não sensibilizou outros países para uma intervenção a fim de salvar a população indefesa.

Summa acrescenta que o contexto não facilitava a operação, já que geograficamente Ruanda fica no centro do continente cercado de montanhas. “Seria uma operação bastante difícil. De todo modo, desde então, a ONU trabalha com essa noção de que nunca mais algo parecido possa ocorrer. A organização é um fórum e não tem forças armadas próprias. Por isso, precisa contar com a compreensão dos países. O mundo é menos violento a cada ano”. Apesar do otimismo do diretor, são ainda muito díspares os investimentos em armas de guerra e na paz atualmente. Enquanto que o mundo tem gastos militares em torno de US$ 1,75 tri, os recursos para as 16 missões de paz em curso não passam de US$ 7,8 bilhões.

Indiferença - Professores de direito internacional no Brasil que estudaram o massacre de Ruanda também concordam com a responsabilidade da comunidade internacional, mas refletem que as lições do episódio não modificaram o mundo. “A cada 11 de setembro, há uma grande lembrança do atentado às torres gêmeas nos Estados Unidos, mas pouco se fala de Ruanda ou de outras guerras em países pobres”, aponta a professora Alejandra Pascual. Ela recorda que a Bélgica (que colonizou Ruanda até 1962) e outros países europeus viraram as costas para o problema do país e de outros países africanos.

“Do ponto de vista jurídico, a ONU tinha total propriedade para acionar o Conselho de Segurança e evitar toda essa tragédia. Porém, mais do que uma conduta legal, era uma verdadeira obrigação atuar no local.” Entre os efeitos positivos do pós-massacre, para a professora, está a criação do Tribunal Penal Internacional para Ruanda, sediado na Tanzânia, que julga há 18 anos um total de 75 pessoas com 47 processos finalizados. O próximo julgamento é em 29 de abril do então ministro da Juventude e do Desporto, Callixte Nzabonimana, que teria mandando distribuir armas para milícias hutus.

Também doutora em direito internacional, a professora Alice Rocha acrescenta que a corte internacional para o genocídio de Ruanda (que será desfeito depois de todos os julgamentos) foi um grande inspirador para o tribunal internacional permanente instaurado para punir responsáveis por crimes de guerra pelo mundo. “Em relação a isso, é um aprendizado. No entanto, não vejo que houve outros aprendizados. Há massacres todos os dias em todo o mundo e, de vez em quando, a o mundo e a mídia oferecem mais atenção para um caso do que para outro”, critica. Entre as violações a direitos humanos que não teriam as devidas respostas estariam, para Alice Rocha, os conflitos na Síria, no Congo, na República Centro-Africana e na Venezuela. “Acontece o tempo inteiro e são poucas as ações efetivas”.

Confira na linha do tempo os principais fatos que marcaram o massacre de Ruanda:

Creative Commons - CC BY 3.0

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