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Imagem: Márcio-André

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Cineasta brasileiro filma abrigo de refugiados na Hungria; assista vídeo

Criado em 11/09/15 13h03 e atualizado em 15/09/15 14h14
Por Leandro Melito Edição:Edgard Matsuki - Portal EBC

Um dos caminhos que os refugiados da Ásia (sírios, em sua maioria) utilizam para chegar à Alemanha passa por Macedônia, Sérvia, Hungria e Áustria. Com o aumento do número de pessoas que tentam realizar esse trajeto diariamente, muitos obstáculos surgiram. Em grande parte, as barreiras são causadas por conta de decisões dos governos nacionais. Foi o que aconteceu na Hungria no dia 1º de setembro, quando o governo do primeiro-ministro Viktor Orban decidiu impedir a saída e chegada de trens da estação de Keleti, em Budapeste. No local se concentrava cerca de 5 mil refugiados.

O cineasta e escritor brasileiro Márcio-André acompanhou de perto esse momento e registrou o drama dos refugiados por cerca de uma semana, até o momento que os trens voltaram a circular normalmente e eles seguiram seu caminho em direção à Áustria e depois Alemanha.

Confira as imagens editadas e cedidas, com exclusividade, pelo cineasta Márcio-André, para o Portal EBC:

Em entrevista por telefone ao Portal EBC, Márcio falou sobre o objetivo buscado com o documentário, agora em fase de edição. "O que me interessa é o que essas pessoas ali, o que elas buscam pra vida delas, do que elas estão fugindo, qual a esperança delas de ir para um outro lugar, o que que elas buscam, o que que elas deixaram para trás, se elas acham que serão mais felizes nesse outro lugar e, claro, o momento de estar ali". Ouça trecho da entrevista:

Entrevista Márcio-André: documentário sobre os refugiados na Hungria, por leandro.melito

Ideia surgiu após período como voluntário

Márcio estava acompanhando a situação dos refugiados em Budapeste há cerca de um mês, junto a voluntários húngaros que se mobilizaram e passaram a recolher doações de roupas e alimentos para levar até os lugares onde havia maior concentração de pessoas, quando os refugiados começaram a se dirigir para a estação de Keleti. 

Refugiados na Hungria
 

“Eles iam para um campo de refugiados, porque havia uma promessa do governo húngaro de dar um visto provisório para eles entraram na Áustria. Quando eles viram que aquilo ia se arrastar por mais tempo, que não ia acontecer, eles migraram em massa para Keleti, que é a estação de onde saem os trens para a Alemanha”, conta.

Até esse momento, Márcio atuava como voluntário e não tinha pensado ainda em fazer um filme sobre a situação quando visitou a estação pela primeira vez. “Tinha levado minha câmera por acaso, uma câmera portátil. Começou uma manifestação, comecei a filmar e não parei mais. Filmei a noite inteira, depois o dia seguinte e, quando eu vi, já estava todos os dias ali, tinha muitas horas de filmagem, então comecei a pensar em fazer esse filme”.

Entrevista Márcio-André: início da filmagem, por leandro.melito

Dois dias após fechar a estação para os refugiados o governo húngaro tentou ludibriá-los, mas a farsa durou pouco. No dia 3 de setembro, a entrada principal da estação foi reaberta. No meio do dia, um trem saiu da estação com um número de 300 a 500 refugiados. 

Composta de vagões húngaros e austríacos, e com o logo de uma companhia ferroviária austríaca, o trem fez boa parte dos migrantes acreditar que iriam para a a Áustria, mas parou logo depois em Bickse, próximo a um campo de refugiados. Os migrantes se recusaram a descer. 

“Quando o trem saiu foi super aplaudido e muito rápido eles [os refugiados que permaneceram na estação] já receberam telefonemas de que o trem não estava indo para o norte, mas para um campo de refugiados e no segundo trem ninguém entrou”.

Entrevista Márcio-André: filmagens na Hungria, por leandro.melito

No dia seguinte, os refugiados se organizaram e saíram em marcha, cerca de 1.500 pessoas andando por Budapeste em direção à Alemanha - uma distância de 230 km, o que levou o governo a mudar sua postura em relação à estação de Keleti.

Refugiados na Hungria
 

“Depois que eles foram, que partiram em marcha, eles viram que era inútil, o governo viu que não tinha como segurar eles, foram lá, pegaram, arrumaram cem ônibus e levaram os que faltavam para a fronteira”, conta. Na última sexta-feira (11), o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orban, anunciou que, a partir de terça-feira (15) a polícia vai prender todas as pessoas que “entrarem de forma ilegal no país”. Nesse dia, entram em vigor as novas leis que estabelecem penas até cinco anos de prisão pela entrada ilegal em território da Hungria.

A Hungria e a Macedônia registaram na última semana um novo recorde de entrada de refugiados desde o início da crise migratória, tendo as autoridades húngaras mobilizado 3.800 soldados para reforçar a barreira anti-imigração na fronteira com a Sérvia.

Segundo o Alto-Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur) cerca de 7.600 migrantes, incluindo da Síria, entraram na Macedônia nesse dia, enquanto a polícia húngara anunciou a entrada de 3.601 pessoas nas últimas 24 horas.

Refugiados na Hungria
Refugiados na Hungria 

Trabalhando há nove meses em Budapeste, Márcio tomou contato com o drama dos refugiados, quando esses passaram a habitar a região central da capital húngara. Foi durante um passeio de bicicleta que ele viu pela primeira vez os refugiados, apesar de já ter ouvido notícias sobre sua chegada. 

“Eu tinha ido pra um lado que eu nunca ia que era uma praça chamada João Paulo II, um pouco escondida no centro, entre vários prédios. Quando eu passei ali, vi os refugiados acampados, cerca de quinhentos”, lembra. Ouça trecho da entrevista:

Entrevista Márcio-André: primeiro contato com refugiados, por leandro.melito

Junto de uma amiga húngara, Márcio se juntou a voluntários que faziam um trabalho de auxílio aos refugiados por meio de doações de itens básicos como roupa e comida. Ele conta que, diferentemente da postura do governo húngaro em relação aos refugiados e uma parte da sociedade contra sua presença no país, muitos húngaros se prontificaram a ajudar.

Ouça trecho da entrevista:

Entrevista Márcio-André: governo e população húngara, por leandro.melito

 

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