Notícia, espetáculo e interesse público no caso da cápsula contra o câncer

Publicado em 27/10/2015 - 18:30

Por Joseti Marques Editor Joseti Marques

Fonte Ouvidoria EBC

A TV Brasil não noticiou, as rádios do sistema público também não deram. A Agência Brasil entrou no assunto pela beirada, em 19/10, em uma matéria que privilegia uma abordagem oficialista, como se pode ver na abertura dos parágrafos: “O ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), disse hoje....”; “A decisão do ministro foi....”; “Após a decisão do ministro do STF de...”; “Apesar de ter extinguido o processo, o ministro....”. O último parágrafo da matéria deixa perceber qual era a pauta: “Fachin participou nesta segunda-feira do 2º Colóquio sobre o Supremo Tribunal Federal, evento organizado pela Associação dos Advogados de São Paulo, no centro da capital paulista”.

No dia 23/10, uma outra matéria da Agência Brasil faz uma espécie de retrospectiva para contar que “Pílula da USP usada em tratamento contra o câncer divide opiniões” – um assunto que há pelo menos 10 dias já se constituía em um verdadeiro circo midiático – o que também se pode perceber a partir dos títulos de diversos periódicos e sites de notícias: “Justiça libera suposta droga contra o câncer sem testes em humanos”; “Decisões sobre suposto remédio não abordam regras de pesquisa clínica”; “Relatos de cura não provam eficácia da fosfoetanolamina, alertam médicos”; “Fosfoetanolamina sintética: a oferta de um milagre contra o câncer”. Não nos compete analisar a abordagem da mídia privada, mas é marcante o posicionamento e opinião prévios que se podem observar a partir dos termos marcados em grifo.

A polêmica se expandiu nas redes sociais, que se mobilizaram e tomaram posição, em grande parte em defesa da liberação de uma fórmula que a maioria dos participantes sequer conhece. Uma página no Facebook tem como proposta defender o uso da fórmula, intitulando-se “A esperança proibida contra o câncer”. Um dos médicos do grupo de pesquisadores do Instituto de Química de São Carlos, Renato Meneguelo, postou depoimento no YouTube em defesa da qualidade dos estudos e em resposta às ofensas que recebeu dos que atacam a pesquisa. De outro lado, em uma edição do programa de maior audiência aos domingos, o Fantástico, da Rede Globo, o médico Dráuzio Varella desacreditou o medicamento, a pesquisa e os pesquisadores. Os apresentadores do programa, baseados na autoridade do médico, foram categóricos: “...não se engane. Não dá para confiar nesse suposto remédio”.

A repercussão espetacular de fatos como esse da cápsula contra o câncer é que configura o chamado circo midiático, ou espetacularização da notícia, algo de que a comunicação pública definitivamente não participa. O foco dos veículos da comunicação pública, declarado em seus documentos normativos, é o interesse público, o que infelizmente nem sempre coincide com o interesse do público. Mas o caso da fosfoetanolamina atravessa e desafia todos os conceitos estabelecidos: tornou-se um espetáculo de mídia e por isso é de interesse do público, mas se pensarmos no drama das 12 milhões de pessoas que, segundo dados do INCA-Instituto Nacional do Câncer, todos os anos são diagnosticadas com câncer, podemos identificar essa pauta como também de interesse público – não para condenar ou comprovar a eficácia da substância, mas para prestar esclarecimentos isentos e confiáveis ao público.

Ironicamente, a fosfoetanolamina nos coloca diante de uma outra questão, muito cara aos jornalistas da comunicação pública – a prática do jornalismo investigativo. Por todas as questões postas sobre o assunto na mídia convencional e nas redes sociais, podemos dizer que para a mídia pública poderia ser uma grande oportunidade de se praticar a investigação. O chamado “senso comum” é construído a partir da crença em verdades amplamente difundidas e que, até por isso, deixam de ser questionadas, tornando-se o princípio a partir do qual os fatos são observados, compreendidos e narrados. E isso vale para a crença na ciência, nos laboratórios farmacêuticos, nos jornais e também em programas de grande audiência.

Atravessar o interesse do público por assuntos instigantes e investigar o que também a nós parece óbvio pode ser um bom caminho para tornar a comunicação pública mais relevante, no seu papel de atender exclusivamente ao que for de interesse público.

O PÚBLICO NA OUVIDORIA

A difícil tarefa de agradar a todos

Sempre que há alguma modificação na grade de programação da TV Brasil, alguns telespectadores reclamam. A ouvidoria tem recebido algumas manifestações sobre as mudanças que ocorreram na primeira semana deste mês de outubro. A telespectadora Cristina Saliby, por exemplo, questiona a decisão de trocar o programa Brasilianas.org de horário. Ela diz: “um programa excelente deixa o horário nobre de uma TV pública para dar o lugar a uma novela. É inacreditável!”

A Diretoria de Conteúdo e Programação respondeu que a grade de horários é planejada para atender ao maior número possível de telespectadores e que as mudanças são baseadas em uma série de estudos, onde se inclui a opinião do público.

A Ouvidoria entende que essa é uma situação realmente difícil de resolver, porque a novela Windeck recebeu um número expressivo de manifestações pedindo a reapresentação.

A Nacional fazendo história

O pesquisador Emílio Sérgio da Silva Oliveira está escrevendo um artigo científico sobre a Era de Ouro do rádio no Brasil. Como a rádio Nacional do Rio de Janeiro ocupou um lugar de destaque nessa época, ele entrou em contato com a Ouvidoria para saber se existe literatura sobre o tema.

O pessoal da rádio Nacional do Rio de Janeiro respondeu com uma lista de livros que podem ser consultados sobre a rádio. Uma referência bibliográfica que reproduzimos aqui, porque pode interessar aos ouvintes e a outros pesquisadores: Rádio Nacional – O Brasil em Sintonia, de Luís Carlos Saroldi e Sônia Virgínia Moreira; Almanaque Rádio Nacional, de Ronaldo Conde Aguiar, e As Divas do Rádio Nacional – as Vozes eternas da Era de Ouro.
O pessoal da rádio também agradeceu a oportunidade de colaborar com a pesquisa do Emílio.

Até a próxima!

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