Coluna da Ouvidoria
Joseti Marques - Ouvidora da EBC
“O governo do Rio dando um calote nos servidores públicos, o estado entrando em calamidade pública e vocês deixam a matéria transparecer que a culpa é somente da crise? Putz grila! Quêdi a análise crítica de todo contexto carioca? Reflitam aí, pelo amor ao jornalismo público.”
A mensagem, de uma leitora que preferiu não se identificar, refere-se à reportagem sob o título “Comércio do Rio tem o pior resultado nas vendas desde 2003”, publicada pela Agência Brasil, sobre uma pesquisa divulgada pelo Centro de Estudos do Clube de Diretores Lojistas do Rio de Janeiro (CDLRJ).
Ela tem razão ao cobrar uma contextualização que pudesse oferecer aos leitores uma compreensão mais apropriada do assunto. Além da situação dos servidores e do caos financeiro que levou o estado a decretar calamidade pública, outros fatores também poderiam ser abordados pela reportagem. Por exemplo, é de se perguntar que participação tiveram os jogos Olímpicos e Paralímpicos no resultado negativo do comércio, mesmo sendo eventos que levaram milhões de pessoas à cidade.
A matéria também não informa a metodologia do levantamento e não deixa muito claro se, ao dizer “Rio de Janeiro”, está se referindo ao estado, à região metropolitana ou à cidade. Para leitores de outros estados, a informação é necessária, por que a região metropolitana do Rio de Janeiro tem 17 municípios, entre eles a cidade do Rio de Janeiro, que é a capital do Estado do Rio de Janeiro.
No entanto, a questão mais relevante do ponto de vista da Ouvidoria é sobre a pertinência, para o interesse público, da divulgação, mera e simples, de uma pesquisa sobre os resultados do comércio. Basta nos perguntarmos que efeito essa informação terá sobre a vida e o cotidiano dos cidadãos em geral, já que a Agência Brasil não é veículo especializado onde o seguimento interessado no assunto vá buscar informações para orientar seus negócios.
Manter o foco no interesse público, divisando o cidadão, é um lema clássico do Jornalismo, mas na prática nem sempre é o que acontece. Para os veículos de empresas comerciais, é comum divulgar assuntos com foco no mercado, porque faz parte do seu negócio. Como o jornalismo da empresa pública não tem esse compromisso, não faz sentido seguir as regras históricas que sempre definiram, na imprensa, o que é pauta e o que sempre deve ser notícia.
Não que a informação sobre a queda no comércio da cidade do Rio de Janeiro seja totalmente desprovida de valor, porque a abordagem do assunto é que faz diferença na relevância ou não da pauta.
Ao jornalismo da mídia pública seria interessante acrescentar mais uma pergunta às clássicas o quê, quem, quando, onde, como e por que – para quê?
Até a próxima!
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