Compartilhar:
Suposto sequestrador de Tenório Jr é extraditado para Argentina
Criado em 27/03/13 18h27
e atualizado em 17/04/13 20h38
Por Leandro Melito
Fonte:Portal EBC
O argentino Cláudio Vallejos, que afirma ter participado do sequestro do pianista brasileiro Tenório Jr [2] em março de 1976, quando integrava o Serviço de Informação Naval da Marinha Argentina, foi extraditado nesta quarta-feira (27).
Confira o depoimento de Vallejos no documentário "Tenório Jr?" (Alberto Baumstein, Renato Sacerdote e Rogério Lima)
Vallejos estava preso no Brasil desde 2012 acusado de estelionato depois de tentar aplicar um golpe em Lages, região Oeste de Santa Catarina. Após a notícia de sua prisão a Justiça Argentina pediu sua extradição.
Vallejos foi entregue para à polícia da Argentina no aeroporto Hercílio Luz em Florianópolis (SC) na noite desta quarta-feira e seguiu para seu país em vôo comercial segundo informou a Polícia Federal em Santa Catarina.
O procurador federal argentino da causa penal da Operação Condor, aliança político militar entre as ditaduras da América do Sul, Miguel Angel Osorio, abriu uma investigação formal sobre a morte do pianista Francisco Tenório Jr em fevereiro de 2012 e pediu a extradição de Vallejos.
Leia também:
Confira o especial da EBC sobre a Operação Condor [3]
Comissão da Verdade vai investigar desaparecimento de Tenório Jr. [2]
Suprema Corte argentina abriu 75 processos sobre crimes da ditadura militar [4]
Argentinos fazem ato em comemoração ao Dia da Memória [5]
Com 35 anos à época de seu desaparecimento, Tenório não tinha envolvimento com movimentos políticos. Deixou no Brasil quatro filhos e a esposa Carmen Cerqueira, então grávida de oito meses. Em 2006 o Estado brasileiro reconheceu ter “feito muito pouco” para localizar e devolver à família os restos mortais de Tenório Júnior. Trinta anos depois, sua mulher e filhos foram indenizados por danos morais e materiais, mas o destino dos restos de Tenório ainda é desconhecido.
A versão de Cláudio Vallejos para a morte de Tenório Jr
Segundo declarações do próprio Vallejos, o pianista teria sido assassinado por um oficial argentino, após nove dias de tortura, no dia 27 de março de 1976, há exatos 37 anos. O argentino afirma ter atuado na repressão a presos políticos na Esma (Escola de Mecânica Armada), um dos principais centros de prisão clandestina durante a ditadura na Argentina (1976 – 1983), onde cerca de 5 mil pessoas foram mortas e desaparecidas.
Em 1986, em entrevista à revista Senhor nº 270, Vallejos admitiu ter participado de sessões de tortura contra oponentes do regime e do sequestro do pianista brasileiro Francisco Tenório Cerqueira Junior, conhecido como Tenorinho.
Segundo o relato de Vallejos, Tenorio teria sido levado para a Esma suspeito de manter ligações com grupos subversivos na Argentina. Lá teria passado por nove dias de tortura, com choques e afogamentos. Sem condições de ser liberado, Tenório teria sido executado com um tiro na cabeça por um oficial argentino.
O desaparecimento de Tenório
O pianista brasileiro Francisco Tenório Cerqueira Júnior desapareceu em 1976, em Buenos Aires, seis dias antes do golpe militar que derrubou a presidenta Isabelita Perón, na Argentina. Seu sumiço mobilizou toda a classe artística na época. Elis Regina, Vinícius de Moraes, Toquinho e Ferreira Gullar foram artistas que se mobilizaram para encontrar informações sobre Tenório.
Na ocasião, o pianista acompanhava os músicos Vinícius de Moraes e Toquinho em duas apresentações no teatro Gran Rex, em Buenos Aires. No dia 18 de março daquele ano, Tenório desceu de seu quarto no hotel Normandie na Avenida Corrientes e deixou um bilhete na porta de Vinícius. “Vou sair para comer um sanduíche e comprar um remédio. Volto logo”. Nunca voltou.
O desaparecimento de Tenório Jr. será investigado pela Comissão Nacional da Verdade (CNV), a pedido da mulher e filhos do músico que procuraram o grupo em fevereiro deste ano. A CNV enviará ao governo argentino um pedido de investigação sobre o desaparecimento de 15 brasileiros no país vizinho durante ações da Operação Condor, entre 1975 e 1981.
Os documentos serão enviados à Secretaria Nacional de Direitos Humanos da Argentina, responsável pelos arquivos sobre a ação dos órgãos de repressão no país durante a ditadura militar (1976-1983), e ao Conselho Nacional da Magistratura argentino.
Deixe seu comentário