Guarnieri (esquerda) em cena da peça Eles não usam black-tie, produzido no Centro Popular de Cultura (CPC) da UNE.

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História da Bienal da UNE aponta poder de mobilização de estudantes e artistas

Criado em 18/01/13 20h34 e atualizado em 18/03/16 15h20
Por Léo Rodrigues Fonte:Portal EBC

Gianfrancesco Guarnieri
Guarnieri (esquerda) em cena da peça Eles não usam black-tie, produzido no CPC. (Arquivo UNE)

Brasília - Criar um espaço para o diálogo entre o movimento estudantil e o movimento cultural. Foi com esse intuito que a União Nacional dos Estudantes (UNE) fundou, em 1999, a Bienal de Arte e Cultura. O evento buscava atrair estudantes que não estavam articulados na rede formal do movimento estudantil, composta por Centros e Diretórios Acadêmicos (CAs, DAs e DCEs). A inspiração vinha do Centro Popular de Cultura (CPC), fundado pela UNE em 1961 e fechado pela ditadura militar três anos depois. Mesmo curta, a experiência deixou como legado um exemplo da força da mobilização conjunta de artistas e estudantes, fazendo correr pelo país os anseios por reformas estruturais.

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"O CPC demonstrou o poder da união entre as forças mobilizadoras que emanam da cultura e dos estudantes. Nessa época, vários artistas se aproximaram das demandas apresentadas pelo movimento estudantil", aponta Maria das Neves, diretora de cultura da UNE. Pelo CPC, passaram figuras como o teatrólogo Gianfrancesco Guarnieri, que produziu a peça Eles não usam black-tie; o escritor Ferreira Gullar, autor de diversas poesias e crônicas; e os cineastas Joaquim Pedro de Andrade, de Marcos Faria, Cacá Diegues, Miguel Borges e Leon Hirszman, diretores do filme Cinco Vezes Favela.

No espaço de tempo que separou o fim do CPC e a criação Bienal da UNE, o vínculo entre estudantes e artistas nunca foi totalmente suspenso. Nesse período, o movimento estudantil desenvolveu atividades isoladas de apoio à cultura popular e uma campanha permenente pelo direito à meia-entrada. Entretanto, é a partir da Bienal que a UNE retoma seu objetivo de revelar ao Brasil manifestações artísticas inovadores e vinculadas com os processos políticos e sociais em curso no país. O evento é hoje um espaço propício para a iniciação artística. "Os artistas que se apresentam ganham experiência para se participarem em outros eventos deste porte e têm a oportunidade de estabelecer contatos promissores. Alguns seguem carreira, outros não. Há bandas universitárias que se apresentaram em outras edições e já fazem sucesso em seus estados", diz Maria das Neves.

6ª Bienal da UNE
Apresentação cultural na 6ª Bienal da UNE. (Bienal da UNE / Creative Commons)

Poder mobilizador

A Bienal parte de um entendimento de que o movimento estudantil deve mobilizar uma rede mais diversificada. "A falta de interesse em participar de uma passeata não significa falta de engajamento ou descompromisso político. Há muitos estudantes que não estão dispostos a participar de manifestações ou integrar os CAs, mas organizam periodicamente uma roda de samba que reúne um grupo fixo de pessoas. A linguagem cultural tem um poder contagiante. Muitas vezes, um discurso oral não choca tanto quanto uma música ou uma peça de teatro", explica Maria das Neves.

A história do evento deixa em evidência o poder de mobilização da cultura. Chegando a sua 8ª edição, a Bienal já mobiliza um público maior que o Congresso da UNE. Estima-se que 10 mil pessoas circularão diariamente pelas atividades da programação.

Nesse processo de mobilização contínua, a Bienal contou com o reforço do Circuito Universitário de Cultura e Arte (CUCA), fundado pela UNE em 2001. Segundo Maria das Neves, a iniciativa teve como objetivo proporcionar um fórum permanente para o debate cultural e um espaço para a criação artística dos estudantes. Em 2002, o CUCA foi contemplado no Programa Pontos de Cultura, lançado pelo então ministro da Cultura, Gilberto Gil. A partir de então, o circuto se desenvolve, criando ramificações em vários estados e promvendo um diálogo cultural entre estudantes e sociedade.

A Bienal da UNE já passou por lugares conhecidos pela sua efervescência cultural, tais como a Lapa e o Pelourinho. Ao todo, cinco cidades já sediaram o evento, algumas delas mais de uma vez: Salvador, Rio de Janeiro, Recife, Olinda e São Paulo. Nos seus 14 anos, a Bienal proporcionou o encontro de estudantes e novos artistas com renomados personagens do cenário artístico do Brasil. Gilberto Gil, Oscar Niemeyer, Ariano Suassuna, Augusto Boal, Ziraldo, Jorge Mautner, Alceu Valença, Marcelo D2, Martinho da Vila, Lenine e Naná Vasconcelos são alguns dos nomes que trocaram experiências com os participantes das edições passadas.

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Ao longo de sua história, o evento buscou ainda aliar o debate cultural às questões sociais e políticas da formação do povo brasileiro e da identidade nacional. Enquanto neste ano está em foco os processos migratórios do povo nordestino, em outros momentos já foram discutidas, por exemplo, a relação entre o Brasil e a África e a integração latino-americana.

Creative Commons - CC BY 3.0

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