2ª Bienal Brasil do Livro e da Literatura de Brasília

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Bienal retrata arte de resistência aos anos de chumbo

Criado em 16/04/14 19h33 e atualizado em 07/07/16 14h20
Por Helena Martins Edição:Stênio Ribeiro Fonte:Agência Brasil [2]

Do latim re-cordis, a palavra recordar significa voltar a passar pelo coração, trazer de novo ao coração. A lembrança, inscrita no Livro dos Abraços, de Eduardo Galeano, um dos homenageados da 2ª Bienal Brasil do Livro e da Literatura, que ocorre em Brasília, não poderia ser mais apropriada. Em comum a todos os espaços da Bienal, a memória dos anos de ditadura militar vivenciados pelo Brasil e, sobretudo, da resistência política e cultural ao regime, cujo início completou 50 anos em 2014.

Em dois dos espaços da mostra, a imprensa ganha o centro. Na exposição O Brasil nos Tempos de Chumbo, 86 fotografias de Orlando Brito mostram pormenores do dia a dia de Brasília, entre 1966 e 1985. O olhar acurado e a inteligência do fotojornalista permitiram que ele expusesse nas páginas de grandes jornais as agruras daquele tempo de forma peculiar e crítica. Nas imagens: o dia do golpe de 64; a bota militar que, em primeiro plano, esconde o Congresso Nacional; as nuvens escuras sobre a Esplanada dos Ministérios; os rostos aflitos dos personagens que marcaram aquele período; e, assim, a história do país.

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“Por trás do olhar cultivado do fotógrafo, treinado para decifrar o mundo, está minha alma de cidadão, na qual abrigo os vínculos e compromissos do filho, do irmão, do marido, do pai, do amigo”, registrou Brito, no texto de abertura da mostra que ele mesmo preparou. Os desfiles militares ladeados por protestos estudantis e populares, acompanhados pelas manifestações de familiares de desaparecidos no Congresso Nacional, são algumas das outras obras expostas com o intuito de colaborar para a “perpétua memória dos fatos”.

Ícone da imprensa alternativa daquela época, o jornal O Pasquim é tema da mostra O Traço do Pasquim no Combate à Ditadura. A exposição, com curadoria de Rick Goodwin, mostra dezenas de charges, desenhos e frases que marcaram o jornal que reagiu à ditadura com muito sarcasmo e ousadia. Moradoras de cidades de Goiás e trabalhadoras da bienal, Marta Pereira, 28, e Gisele Lima, 20, visitaram a exposição e, pela primeira vez, tiveram contato com o impresso que era chamado de “rato que ruge”, pela repercussão que alcançava, apesar da pequena redação.

Marta ficou impressionada com a criatividade dos jornalistas: “Eu já tinha ouvido falar no jornal, mas não sabia que eles usavam tanto o humor. É legal porque faz a gente entender mais”, opina. Gisele, que nasceu mais de dez anos após a volta do país à democracia, diz que não conhecia muito sobre o período ditatorial, mas que “ficou com vontade de saber mais, de procurar ler sobre o assunto”.

Já na área externa à bienal, na Praça do Museu Nacional, todas as noites os shows da resistência lembram a cultura transformada em arma política, nos anos de chumbo. Grupos como MPB-4 e Quinteto Violado, além de artistas como Ivan Lins e Edu Lobo apresentam, gratuitamente, as canções que embalaram gerações de brasileiros. O secretário de Cultura do Distrito Federal, Hamilton Pereira, ex-preso político da ditadura e poeta, destacou o papel da cultura no período. “A cultura não silenciou”, disse ele. Ao contrário, “a cultura brasileira resistiu à tirania para dar sua contribuição à reconstrução da democracia”.

Mostras dessa resistência, poesias e peças de teatro que foram apresentadas durante os 21 anos de ditadura militar também podem ser conferidas diariamente na bienal. As releituras incluem Eles Não Usam Black-Tie, de Gianfrancesco Guarnieri, que será apresentado hoje (16) sob direção de Valdeci Moreira; e A Resistência, de Maria Adelaide Amaral, cuja leitura de Tullio Guimarães será atração na noite desta quinta-feira (17). A programação completa da bienal, que segue até 21 de abril, está disponível no site oficial [4]do evento.

Editor: Stênio Ribeiro

Creative Commons - CC BY 3.0

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