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Articulação: palavra de ordem para a música independente

Criado em 11/12/15 13h00 e atualizado em 07/07/16 14h20
Por Emergências [2] Edição:Conteúdo Colaborativo

Desafiar a lógica de mercado da indústria fonográfica e lançar artistas de forma independente são os desafios comuns aos produtores musicais Evandro Fioti, Heloísa Aydar, Mario Caldato Jr. e Ricardo Rodrigues. Os quatro foram convidados a compor a roda de conversa A Aventura da Música: Narrativas e Experiências, na tarde dessa quarta-feira (9), no espaço cultural Fundição Progresso, no bairro da Lapa, no Rio de Janeiro.

O encontro faz parte da programação do Emergências, evento do Ministério da Cultura (MinC) que discute ativismo, cultura e política. Inicialmente, cada um dos convidados fez uma breve apresentação sobre seus trabalhos na área musical. Na sequência, houve debate sobre as principais questões, dificuldades e a relação do meio musical independente com o Estado.

“É uma luta diária pela profissionalização e pela formação dos profissionais da música. No Brasil, existe esta dificuldade de formalização”, sintetizou Heloísa Aydar, prima da cantora Mariana Aydar, de quem foi empresária de 2007 a 2010.

Desde 2010, Heloísa trabalha com a cantora Tulipa Ruiz, com quem trabalha atualmente. Ela também é fundadora da Pommelo Produções Artísticas e da Pommelo Distribuições, que distribui os discos de Tulipa e de outros artistas, como os rappers Criolo e Emicida.

Por onde começar?

Evandro Fioti, irmão e produtor do rapper paulistano Emicida, contou que a melhor forma de sair do sufoco, cortar custos e montar o negócio foi arregaçando as mangas e participando de todas as etapas do processo. “A gente precisou se tornar autossustentável. Ter a nossa própria comercializadora de roupa, distribuir a nossa música”, citou.

Fioti é cofundador do Laboratório Fantasma, que além de gravar os CDs de Emicida e de parceiros como Tom Zé e Criolo, atua como produtor de eventos e vende pela internet produtos relacionados aos artistas, como camisetas, bonés e acessórios.

Mario Caldato destaca que os jovens artistas que querem promover suas obras têm mais é de gravar, produzir e não se preocupar em já iniciar seus trabalhos na melhor estrutura existente. “Não é o equipamento que vai fazer a diferença. Já vi coisas gravadas em cassete que foram para o topo das paradas na Inglaterra. Faça, faça e quanto mais você fizer, mais você tem para editar e fazer um show”, afirmou.

Nascido no Brasil, mas com grande vivência nos Estados Unidos, Mario Caldato produziu artistas como Os Beastie Boys, Jack Johnson e, no Brasil, Marcelo D2 e Seu Jorge. Já ganhou três Grammys Latinos.

O produtor Ricardo Rodrigues, que atuou como mediador da conversa, contou como tem se articulado no interior de São Paulo com outros produtores, pesquisadores e casas de shows para fazer circular artistas e fazer conhecer os músicos e bandas que produzem.

“Precisamos construir um movimento de mostrar que os palcos são fundamentais. Pensar nestes modelos de negócio e ver como a política pública pode ser estruturante. Festivais alavancam novos artistas. Eles são grandes agregadores”, avaliou.

Jabá, concessões e relação com o governo

Levantado por um dos participantes da roda, o tema “jabá” é um problema antigo do qual quase não se fala muito, mas perturba ainda muitos artistas e produtores. O termo é usado para pagamentos, presentes ou vantagens oferecidos a emissoras de rádios e TVs em troca de tocarem determinados artistas. “O jabá tem que ser criminalizado. E também na TV. Hoje em dia a gente quase não tem música na TV”, apontou Heloisa Ruiz.

O ministro da Cultura, Juca Ferreira, que participou da roda, falou do interesse e do esforço que o ministério tem feito em abrir a discussão com a sociedade civil organizada para construir soluções e medidas para incentivar o setor. Uma delas é proposta de se criar uma Política Nacional das Artes (PNA), processo realizado juntamente com a Fundação Nacional de Artes (Funarte), entidade vinculada ao MinC.

Juca Ferreira defendeu que o papel do Estado é o de criar um ambiente favorável a esses artistas, por meio de incentivos e regulação do setor, e não apenas patrocinar shows. Para ele, a dependência do patrocínio público enfraquece os artistas.

“A música nunca foi tão rica quanto agora. A quantidade de bons músicos e bons compositores é enorme em todas as regiões do Brasil. Mas tem que se criar um ambiente favorável. Tem que ter regulação. Tem que ter política para todos os elos da cadeia, desde a formação musical. Eu acho que para a produção não há tanta necessidade de apoio. A maior necessidade é de apoio à veiculação e à visibilização”, afirmou.

O ministro fez ainda algumas sugestões para ampliar a visibilidade de novos artistas da cena independente: utilizar as cerca de 4 mil rádios públicas pelo Brasil afora; montar um grande sistema de festival; ou ainda criar mercados comuns em parceria com outros países da América Latina, Portugal, Espanha e com as nações da África que falam português. “A gente vira o terceiro maior mercado do mundo de música. Temos que estruturar para que seja bom para todo mundo: para a música brasileira, para a música argentina”, completou.

Ao final, ao ser apoiada pelos demais profissionais mais experientes presentes, uma sugestão feita pela produtora Heloisa Aidar se transformou em uma espécie de mensagem para ser repercutida. “A gente está num momento muito propício de diálogo com governo e o caminho disso é que a gente precisa se juntar. Não tem sentido eu ocupar uma cadeira só me representando. Então, articulem-se e vamos montar esta rede”.

Creative Commons - CC BY 3.0

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