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Cursinho para população trans e travesti em BH celebra aprovados no Enem

Criado em 29/01/16 16h56 e atualizado em 29/01/16 20h19
Por Ana Elisa Santana Fonte:Portal EBC

O Brasil carrega o triste e preocupante título de país em que mais travestis e transexuais morrem em todo o mundo. De acordo com a organização não governamental (ONG) Transgender Europe (TGEU), rede europeia de organizações que apoiam os direitos da população transgênero, foram registradas 604 mortes no país entre janeiro de 2008 e março de 2014: mais de 100 mortes por ano.

Os números são resultados de uma sociedade segregadora: por não serem aceitas, muitas pessoas transexuais e travestis não conseguem um posto no mercado de trabalho e acabam em situações vulneráveis, desempregadas, na prostituição ou na população de rua. Tendando mudar essa perspectiva, a advogada Adriana Ribeiro Alves do Valle iniciou, em agosto de 2015, o projeto TransEnem BH [2]: um cursinho popular em Belo Horizonte, Minas Gerais, para ajudar a população trans e travesti a se preparar para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e outros vestibulares.

Com apenas alguns meses de funcionamento, os resultados já apareceram: entre os 12 alunos atendidos pelo projeto, dois conseguiram aprovação pelo Enem. Um deles na Universidade Federal de Minas Gerais, e o outro na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG) e no Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG). "E ainda temos alguns com chances de serem aprovados no Prouni e com possibilidade nas próximas chamadas", celebra Adriana.

O desempenho dos estudantes estimula a continuação do TransEnem BH. "[O resultado] nos anima e nos entristece ao mesmo tempo porque a gente vê que não falta vontade, falta oportunidade. Se elas tivessem, alcançariam o que todo mundo alcança", acredita a idealizadora do projeto.

"Existe o estigma de que elas não têm interesse em estudar, mas elas na verdade não têm oportunidade de buscar o estudo"

Adriana Ribeiro Alves do Valle, criadora do TransEnem BH


Nome Social

O uso do nome social é uma das mais fortes reivindicações da população transexual e travesti, por ser fator determinante para o bem-estar na hora de fazer a prova e até mesmo depois, ao cursar a graduação.

Adriana reconhece o avanço do Enem e de outros vestibulares ao adotarem os nomes sociais na realização de suas provas, mas afirma que a iniciativa precisa ir além: "apesar de ter o respeito na prova, isso não tem uma continuidade nos demais processos. Em geral, a lista é no nome de registro, na hora de fazer a matrícula também precisa do nome de registro. Muitos desistem nesse processo", diz.

Apoio

O projeto funcionava em 2015 com professores voluntários, em um prédio emprestado. Para este ano, os idealizadores do projeto buscam doações e parcerias para conseguir um novo local para as aulas, além de novos professores voluntários e de verba para poderem ajudar financeiramente os alunos, uma vez que muitos não têm condições de se manter estudando. As aulas vão começar em março e só terminam antes da prova. "A gente dá todo o material, e quer ajudar com o transporte também. Queremos ter a possibilidade de fazer simulados, para que seja uma preparação mais completa", afirma Adriana.

Para arrecadar fundos, o projeto iniciou uma campanha de crowdfunding [3], que permanecerá ativa durante todo o ano. Pessoas de todo o mundo podem ajudar com qualquer quantia. Com o apoio da sociedade, Adriana espera conseguir aprovar mais alunos este ano: "esta é uma causa que muda a vida [das pessoas trans e travestis], muda a vida da família, e ainda tem uma questão importante de auto-estima".

"Hoje, educação é uma sensação de pertença, de inserção social, de você fazer parte da sociedade e isso é muito importante. Não é pelo dinheiro, é por você ser alguém"

Adriana Ribeiro Alves do Valle, criadora do TransEnem BH

 

 

 

 

 

Creative Commons - CC BY 3.0

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