Imagem: Antônio Augusto / Câmara dos Deputados

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Para pesquisadores, projeto de Bolsonaro que criminaliza comunismo reforça extremismo radical

Criado em 24/05/16 19h45 e atualizado em 25/05/16 15h11
Por Luiz Claudio Ferreira e Leandro Melito Edição:Lídia Neves

Pesquisadores e ativistas reagiram, nesta terça-feira (24), contra o projeto de lei de autoria do deputado federal Eduardo Bolsonaro [2] (PSC-SP) que criminaliza o comunismo e o equipararia ao nazismo, proibindo inclusive o uso da foice e do martelo, símbolos do comunismo, representando a união dos trabalhadores do campo e da cidade. O projeto de lei foi apresentado na segunda (23) na Câmara dos Deputados. Para os pesquisadores, iniciativas como essas são resultados de um conservadorismo histórico e  demonstram como o extremismo radical ganha espaço em períodos de crises institucionais. 

"Esse é um exemplo de quando são utilizados canais democráticos contra a própria democracia. Tem relação com a perpetuação das elites brasileiras e a incapacidade de se lidar com a ideia da cidadania", afirmou o sociólogo Rogério Giugliano. Para o especialista em pensamento pós-colonial, o projeto reforça a intolerância e a incapacidade de diálogo, ainda reflexos da cultura escravocrata. "Sabemos também que esse tipo de ação chega a determinados nichos para tentar obter ecos políticos e midiáticos", afirmou.

Um público definido, com ideais radicais e extremistas, seria o alvo deste tipo de proposição, na visão da pesquisadora em comunicação Úrsula Diesel. "Os conceitos que ele [o projeto de lei] traz implementam ideias e falas para serem reverberadas, sem contrapontos ou reflexões, para os grupos a que se destinam. São discursos de insuflam o ódio e prejudicam muito a pluralidade de vozes", afirma a professora.

"Nenhum país é mais anticomunista"

O ativista e pesquisador José Luiz Del Royo, comunista histórico, lamentou a proposição e lembrou que a intolerância com o comunismo marca a história da política brasileira. "O Partido Comunista (PCB) passou 63 anos na clandestinidade. Podemos dizer que não existe nenhum país mais anticomunista do que o Brasil. Nenhum país do mundo deixou tanto tempo o comunismo na ilegalidade". Del Royo acrescenta que proposições como essa retratam a cultura de um país que massacrou a memória dos escravos e diversas tentativas de luta de classes. "Durante a ditadura, por exemplo, com o crescimento do comunismo, o partido foi cassado por conta da maior representatividade que passou a ter". 

"É uma provocação"

A presidente do PC do B, deputada federal Luciana Santos (PCdoB/PE), entende que o projeto se trata de uma "provocação" e deve ser ignorado, pois não terá força para ser aprovado pela Câmara. "São ideias reacionárias, retrógradas, que a história enterrou. São argumentos sem fundamentos de pessoas que chegaram a defender a tortura, o autoritarismo e o Golpe Militar. Um governo golpista como o do Temer só pode ter como aliado uma pessoa como essa que, na prática, quer criminalizar os movimentos e inviabilizar a liberdade de expressão", afirmou a parlamentar.

Tags:  comunismo [3], pesquisa [4], Bolsonaro [5], Política [6], Congresso [7]
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