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Mudanças climáticas causam alterações no comportamento de beija-flores

Criado em 26/08/15 15h00 e atualizado em 26/08/15 15h44
Por Elton Alisson Fonte:Agência FAPESP [2]

As mudanças climáticas podem causar a diminuição da atividade de voo de beija-flores e, consequentemente, da polinização de vegetais por esse grupo de aves. Pesquisadores estudaram oito espécies de beija-flor encontradas em diferentes níveis de altitude no Vale do Paraíba, no interior de São Paulo. A constatação é de um estudo realizado pela Universidade de Taubaté (Unitau), em colaboração com colegas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), da Escola de Engenharia de Lorena da Universidade de São Paulo (EEL-USP) e da University of Toronto Scarborough, do Canadá, durante o Projeto Temático “Assessment of impacts and vulnerability to climate change in Brazil and strategies for adaptation option” [3] ("Avaliação dos impactos e vulnerabilidade às mudanças climáticas no Brasil e estratégias para a opção de adaptação"), realizado com apoio da  Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) no âmbito de um acordo com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

“Observamos que o aumento da temperatura causa a diminuição da taxa metabólica de beija-flores [a quantidade de oxigênio consumido necessário para produzir energia]. Com isso, cai a frequência de batimentos de asa das aves e, consequentemente, elas passam a voar menos e diminuem a procura por néctar em flores”, disse Maria Cecília Barbosa de Toledo, professora do Departamento de Biologia da Unitau e coordenadora do projeto, à Agência FAPESP [2].

Duas das espécies são de baixa altitude, o beija-flor rajado (Ramphodon naevius) e o topetinho-verde (Lophornis chalybeus. Outras duas são de alta altitude, o beija-flor de topete (Stephanoxis lalandi) e o beija-flor de papo branco (Leucochloris albicollis). Três ocorrem ao longo de todo o gradiente elevacional do Vale do Paraíba, o beija-flor de fronte violeta (Thalurania glaucopis), beija-flor rubi (Clytolaema rubricauda) e beija-flor de garganta verde (Amazilia fimbriata), e a última, o beija-flor preto (Florisuga fusca) é migratória. O grupo de aves foi escolhido porque apresenta uma alta taxa metabólica, relacionada com fatores ambientais, como temperatura e altitude.


“Estimávamos que as mudanças climáticas poderiam causar grandes impactos em espécies de beija-flor e que, por isso, podiam ser usadas como bioindicadoras”, disse Toledo.


A fim de simular os efeitos das variações climáticas nesses animais, os pesquisadores usaram como referência o gradiente climático altitudinal da região montanhosa do Vale do Paraíba, que varia de três metros, como os das cidades de Ubatuba e Caraguatatuba, a 1,8 mil metros de altitude, como o da cidade de Campos do Jordão.


Nessas regiões, com diferentes níveis de elevação altitudinal e temperatura variável entre 10 e 30 ºC, eles avaliaram a taxa metabólica em campo de beija-flores rubi (Clytolaema rubricauda), uma das três espécies de beija-flor que ocorrem ao longo de todo o gradiente altitudinal do Vale do Paraíba.


Para isso, usaram um sistema em que o beija-flor é capturado e colocado dentro de uma câmara com um alimentador, no alto do recinto, composto por um tubo plástico contendo uma solução de sacarose a 20%, e um poleiro que serve de balança para indicar o peso do animal. Para conseguir se alimentar da solução de sacarose, a ave precisava pairar no ar e inserir a cabeça dentro do tubo de plástico do alimentador, que funciona como uma máscara respiratória, com passagem de 2,5 mil mililitros (ml) de ar por minuto.  

Ao pairar no ar e inserir a cabeça na máscara respiratória, os pesquisadores conseguiam analisar a temperatura, além do volume de oxigênio consumido e o total de dióxido de carbono produzido pela ave durante o voo pairado. Dessa forma, conseguiram estimar as taxas metabólicas dos pássaros em diferentes temperaturas ao longo do gradiente altitudinal do Vale do Paraíba.


“Esse sistema possibilita avaliarmos a taxa metabólica de beija-flores em atividade, que é o dado mais importante para mensurarmos os efeitos das mudanças climáticas no metabolismo dessas aves”, explicou Toledo.


Menos voo


Uma das constatações dos experimentos foi que o aumento da temperatura diminui a taxa metabólica do beija-flor rubi. A taxa metabólica da ave foi maior em uma faixa de temperatura mais amena, entre 20.1 e 25 ºC, e menor sob temperaturas mais altas, entre 25.1 e 30 ºC, indicaram os experimentos. Nessa faixa de temperatura mais elevada, o pássaro tende a diminuir a frequência de batimento de asas, procura mais sombra para permanecer em repouso e voa menos para manter seu metabolismo e diminuir o gasto energético, explicou Toledo.


“Essa mudança de comportamento pode causar a diminuição da polinização de vegetais por essas aves”, estimou a pesquisadora. “Os beija-flores passam a visitar menos as flores silvestres em busca de néctar e, consequentemente, deixam de transportar pólen de uma flor para outra”, estimou a pesquisadora.


Algumas espécies de beija-flor possuem preferências climáticas, apontou o estudo. O beija-flor rubi, por exemplo, apresenta maior ocorrência no Vale do Paraíba em regiões com temperatura na faixa de 20 º a 25 ºC, e não “dá as caras” em regiões de baixa altitude durante o verão, quando a temperatura média atinge 28 ºC, disse Toledo.


“Se a temperatura aumentar, elevando a média das terras altas, provavelmente os beija-flores tentarão acompanhar essa mudança”, estimou a pesquisadora.


“Observamos durante o estudo que os beija-flores apresentam variações morfométricas em função da altitude, tais como massa, comprimento e área da asa, comprimento do bico e comprimento total. Mas ainda não sabemos se poderão sofrer mudanças morfométricas rápidas a tempo de se adaptarem às mudanças climáticas”, disse Toledo.


O aumento da temperatura, contudo, não representa um fator limitante para a sobrevivência dos beija-flores, uma vez que esse grupo de aves possui alta resistência térmica. A temperatura corpórea dos beija-flores é em torno de 40 ºC. Dessa forma, a ave é capaz de suportar de forma confortável uma temperatura ambiente em torno de 38 ºC, considerada bastante alta, explicou Toledo.


“Os beija-flores só conseguem manter esse estresse térmico por muito tempo, entretanto, se houver energia disponível, que é o néctar das flores. E isso representa um ponto de preocupação”, ponderou.


Um estudo realizado por pesquisadores da Escola de Engenharia de Lorena, da USP, no âmbito do projeto, identificou que a quantidade de energia disponibilizada pelas plantas para os beija-flores na região do Vale do Paraíba varia de acordo com a elevação.


Algumas espécies de plantas visitadas por beija-flores em regiões de terras altas, como Campos do Jordão, possuem néctar com maior teor de sacarose – o açúcar preferido pela ave – do que em regiões de terras baixas, como Ubatuba, apontou o estudo.


“Nossa preocupação é se as plantas visitadas pelos beija-flores serão capazes de ajustar suas concentrações de néctar em tempo de acompanhar as mudanças climáticas e continuarem fornecendo energia para essas aves”, ressaltou Toledo.

 

 

*Conteúdo retirado da Agência FAPESP [2]

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