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Ciência indígena pode ajudar no combate ao Aedes aegypti, defende pesquisador

Criado em 29/01/16 10h59 e atualizado em 31/01/16 15h04
Por Leyberson Pedrosa Edição:Noelle Oliveira Fonte:Portal EBC

Dengue, zika, chikungunya e febre amarela. Essa lista de doenças graves possui o mosquito Aedes Aegypti como vetor em comum. Medindo menos de 1 centímetro, preto com manchas brancas no corpo e pernas, o seu controle é difícil por ser versátil e depositar ovos extremamente resistentes que sobrevivem vários meses antes do contato com a água.

Ao menos, o combate ao inseto adulto pode ser potencializado com o conhecimento indígena. É o que defende o pós-doutor em Astronomia Germano Afonso, que dedica sua vida acadêmica ao estudo de como a Astronomia Indígena contribuiu e é capaz de contribuir com a Ciência Ocidental. (Por que Astronomia Indígena? Clique aqui)

Somente a fêmea do mosquito Aedes Aegypti se alimentam de sangue para a maturação dos ovos (Foto: John Tann / Creative Commons)

A aplicação de nebulização espacial, famoso pelo nome popular de fumacê, é utilizada para o combate ao mosquito adulto. Para o pesquisador, essa ação deveria se focar mais na incidência dos insetos conforme a luz. Durante seu trabalho de etnoastronomia, ele percebeu que os indígenas utilizavam a luminosidade da Lua para dimensionar o tipo de comportamento dos animais.

“Os índios sabem há muito tempo que todos os seres vivos, inclusive o mosquito da dengue, ficam mais ativos devido ao brilho da Lua Cheia”, detalha. Germano defende que, durante essa fase lunar, a aplicação de inseticidas pelo fumacê deve ser realizada em maior quantidade por ser mais efetiva. Da mesma forma, nas outras fases, o ideal seria diminuir a quantidade de inseticida já que os mosquitos estariam em menor número.

“É só ir no mesmo lugar tanto na Lua Cheia quanto na Lua Nova para comprovar.  Eu fiz essa experiencia na praia ao entardecer. A quantidade de mosquito muda consideravelmente”, relata Germano Afonso, físico e astrônomo.

Durante suas imersões em comunidades indígenas, Germano percebeu que os indíos evitavam se expor à noite na Lua Cheia, quando ela reflete maior incidência da luz solar, deixando o ambiente mais iluminado. “Afinal, é nesse momento que os animais ficam mais agitados por causa da luz”, afirma.

O Fumacê é chamado tecnicamente de nebulização espacialPopularmente conhecido como Fumacê, a nebulização espacial visa combater mosquitos adultos  (Foto: Marcos Pertinhes - Prefeitura de Bertioga)

Aplicação do fumacê

Consultado, o Ministério da Saúde reforça que a melhor forma de controle da infestação do mosquito continua sendo não deixá-lo nascer. “Após o nascimento, as operações de controle são mais difíceis, custosas e com efetividade diminuída. Por isso, a aplicação da nebulização espacial deve ser um incremento à inspeção mecânica de criadouros”, destaca a nota enviada pela Assessoria de Comunicação do órgão.

A assessoria não respondeu se a aplicação do fumacê leva em consideração o conhecimento indígena sobre a luminosidade da Lua, mas destaca que a operação depende de uma série de detalhes técnicos tais como “horário de aplicação (pouco antes e pouco após o nascer ou o pôr do sol), regulagem do equipamento, controle de qualidade do “spray”, velocidade do vento, capacitação técnica dos aplicadores, entre outros.”

Ainda conforme a nota, a avaliação de pesquisas científicas no Brasil e no mundo sobre o combate ao Aedes Aegypti é realizada pelos Comitês Técnicos Assessores em Imunizações e em Dengue, do Ministério da Saúde, que reúnem especialistas e sociedades científicas e, ainda, pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec).

Por que Astronomia Indígena?


Para diferentes etnias indígenas, tudo que acontece na Terra possui seu equivalente no Céu (Foto: Marcelo Camargo)

Há séculos, diferentes famílias indígenas do continente americano utilizam o Céu como referência para suas atividades  agrícolas, científicas, políticas e religiosas. O astrônomo Germano, pós-doutor pelo Observatório de Nice, explica que os conhecimentos científicos indígenas, mesmo que não sejam tão precisos, são, muitas vezes, vistos com desdém pela Ciência Ocidental. “Quando a gente aprende sobre a Lua, é sempre sobre a questão da força gravitacional. Mas não é a força gravitacional o que interessava aos indígenas, e sim o impacto do brilho da Lua”, comenta.

Segundo o pesquisador, o seu trabalho acadêmico visa a resgatar e valorizar o conhecimento que diferentes etnias indígenas geraram sobre o Céu e a Terra. Ele explica que a maioria dos povos indígenas consideram que a Terra e o Céu são indissociáveis.

”O índio é muito interessado no céu. Os indígenas olham para o Céu e veem a Terra como seu reflexo. Se há uma ave ema na Terra, também há uma Constelação de Ema no céu", compara o astrônomo.

Creative Commons - CC BY 3.0

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