Roteiro de Debates propõe ações para promover os direitos humanos na programação da EBC

Publicado em 17/12/2013 - 18:05 e atualizado em 23/02/2016 - 14:48

O Fórum Mundial de Direitos Humanos recebeu em sua programação, no último dia 12, um Roteiro de Debates do Conselho Curador da Empresa Brasil de Comunicação. O evento discutiu os direitos humanos e a diversidade como pilares para a comunicação pública. Como debatedores foram convidados a jornalista Juliana Cézar Nunes, coordenadora da Radioagência da EBC, e Edgar Rebouças, professor da Universidade Federal do Espírito Santo. O Roteiro foi mediado pela vice-presidenta do colegiado, Rita Freire.

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Maria da Penha, conselheira e inspiradora da Lei que combate a violência doméstica, participou da mesa contanto seu histórico de agressões cometidas pelo ex-marido e sua experiência de luta. Penha recebeu das mãos da presidenta Dilma Roussef, horas antes da atividade, o Prêmio Direitos Humanos 2013 em virtude de sua atuação na promoção da igualdade de gênero. “A sociedade em geral não sabe que a violência de gênero é aquela que a mulher sofre simplesmente por ser mulher. É quando o homem acha que a mulher é apenas um objeto dele”, afirma.

Segundo a conselheira, a mídia televisiva, normalmente, trata de questões ligadas à violência doméstica de maneira expositiva, mostrando as mulheres apenas como vítimas. Para Edgard Rebouças, o desrespeito aos direitos humanos passou a ser rotineiro nas grades da TV e está ligado, principalmente, à falta de capacitação dos jornalistas e a um discurso de imparcialidade. “A metáfora do espelho surge no século XIX, com o fim da opinião nos jornais, e insinua que o jornalismo é um mero reprodutor da realidade. Ainda hoje a mídia usa esse discurso, mas nós sabemos que o jornalismo é uma construção social da realidade”, diz.

O professor defende que a EBC, como mídia pública, que tem a missão de contribuir para a formação dos cidadãos e que pode ser um exemplo para outros veículos, deve construir seus fatos sociais não a partir do que vê, nem do que acha que o público deseja ver, mas a partir de uma reflexão sobre os temas em pauta. “O jornalista não sabe pra quem escreve. Normalmente ele escreve para sua família, seus colegas e o seu chefe. Falta um retorno – normalmente o comunicador fala sem parar e não quer ouvir. Bom, é pra isso que vocês existem”, falou, referindo-se ao Conselho.

Edgard acredita que o Conselho Curador da EBC é hoje a única instância no país aberta à sociedade para discutir a comunicação. Dessa forma, deve aproveitar sua influência política para pressionar o governo a promover os direitos humanos nos meios de comunicação, fazendo com que os veículos respeitem esses princípios em seus conteúdos. “O Conselho pode dar pistas para seus membros do executivo sobre a necessidade de se acabar com o financiamento de programas que ferem os direitos humanos, nicho que o governo tem usado para se anunciar”, sugeriu.

Interno e externo

Na ocasião, o diretor de Conteúdo e Programação da EBC, Ricardo Soares, informou que os direitos humanos serão tema principal de dois programas que serão lançados pela Empresa. Eles passarão a integrar em 2014 a grade de programação da TV Brasil e da TV Brasil Internacional.

Um deles, é uma série de 13 episódios, que abordará os 30 artigos da Declaração Universal de Direitos Humanos. Outro, é um programa interativo para jovens que também trata de direitos humanos. "Os dois programas cumprem uma missão que estava muito dispersa em documentários e outros programas [da TV Brasil]. Não tínhamos um programa específico sobre direitos humanos. É uma boa nova para a comunicação pública", afirmou. Segundo ele, a ideia era produzir programas que não tivessem a cara de “tutela, assistencialista e chato”.

Para a debatedora Juliana César Nunes, não é possível falar em direitos humanos e diversidade sem um ambiente interno que contemple esses pressupostos. A jornalista da EBC é ganhadora de prêmios importantes na área da comunicação, como o Prêmio Jornalista Amiga da Criança e do Adolescente, o Prêmio Tim Lopes e o Prêmio Vladmir Herzog de Anistia e Direitos Humanos.

“Entendo que todos os desafios que vou colocar aqui são responsabilidade do Conselho, da EBC, mas também minha e de meus colegas”, disse no início de sua fala. Ela afirma que a EBC tem avançado em seus seis anos de existência nas temáticas de direitos humanos, o que pode ser demonstrado nos princípios descritos pelo Manual de Jornalismo da casa e pelos prêmios ganhos por seus trabalhadores. Além disso, na visão de Juliana, várias coberturas demonstram o comprometimento da EBC com esses temas, principalmente aqueles ligados à atuação da sociedade civil organizada.

Porém, para ela, ainda há muitos pontos a se avançar na conquista de uma cultura interna, que se reflita na programação. “Considero que a EBC deve tomar para a si a responsabilidade de seguir na vanguarda ao estabelecer, por exemplo, cotas étnico-raciais em seus processos seletivos de ingresso, na ocupação de cargos de chefia e em posições de visibilidade. Mas, tanto no Conselho quanto no corpo funcional, a diversidade deve vir acompanhada de uma reflexão profunda sobre a sua importância, para que ela não se torne artificial”, defende. “Temos de intensificar os programas de capacitação interna, incluindo as temáticas de direitos humanos e diversidade como eixo central de formação”.

Juliana acredita que a Empresa deve priorizar a alocação de recursos para reportagens investigativas em regiões tradicionalmente não cobertas, com especial atenção para comunidades indígenas e quilombolas, abordando com mais ênfase a temática ambiental. Além disso, deve mostrar seu diferencial na cobertura internacional, buscando parcerias e enviando correspondentes internacionais para continentes como o africano.

Na visão da debatedora, o jornalismo da EBC deveria apontar de forma mais incisiva os avanços e as falhas nas políticas públicas em curso, trazendo para dentro da programação as minorias políticas do país, não apenas como fontes e, sim, como protagonistas de suas narrativas, possibilitando a mobilização e o engajamento social.

“O conteúdo da sociedade civil organizada em nossos veículos deve ser cada dia menos pontual e cada dia mais parte da estrutura de nossa programação. Precisamos também ampliar o trabalho em rede com outras emissoras públicas, alternativas e comunitárias e nos colocar como parceiros de primeira ordem de movimentos sociais”, afirmou Juliana. 

Ao final do evento, a Secretaria Executiva do Conselho Curador sistematizou as principais contribuições que surgiram no debate e encaminhou à Secretaria Executiva da EBC como sugestões ao Plano de Trabalho de 2014 da empresa. As contribuições podem ser acessadas por aqui

Texto: Priscila Crispi (jornalista da Secretaria Executiva do Conselho Curador), com informações da Agência Brasil.

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