Novos membros ocupam vagas da sociedade civil no Conselho Curador da EBC

Publicado em 18/08/2015 - 19:11 e atualizado em 29/01/2016 - 09:17

Durante a 57ª Reunião Ordinária do Conselho Curador da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), realizada no último dia 13, tomaram posse como novos membros do colegiado Enderson Araújo, Isaías Dias, Joel Zito, Letícia Yawanawá e Venício Lima. Os novos conselheiros e conselheira, representantes da sociedade civil, substituem Daniel Aarão, João Jorge Rodrigues, José Martins, Maria da Penha e Murilo Ramos, em um mandato de quatro anos, prorrogável por igual período.

A nomeação encerra um processo que teve início em 14 de janeiro de 2014, com a indicação de nomes através de uma consulta pública. No total, foram apresentadas 58 candidaturas por 205 entidades da sociedade civil. Os indicados foram submetidos à votação pelo colegiado a partir de análise dos perfis apresentados no edital da consulta. Após a votação de listas tríplices, os candidatos aguardaram por mais de um ano a nomeação da presidenta Dilma Rousseff, no dia 18 de junho deste ano. (Saiba mais sobre o processo de nomeação aqui).

“Quero agradecer a todas as pessoas do Conselho e da EBC a oportunidade de, enquanto militante da cultura, discutir com vocês ao longo desses cinco anos o tema da igualdade racial. Isso resultou na indicação do jovem comunicador Enderson, desse grande nome do audiovisual brasileiro, que é o Joel Zito, e também da volta de uma representante da população indígena, a Letícia”, disse João Jorge. O ex-conselheiro lembrou momentos importantes de sua atuação no colegiado, como a criação da Faixa da Diversidade Religiosa e do programa Nova África, a cobertura jornalística no continente africano e o permanente debate sobre música e cultura nas reuniões do Conselho.

Murilo Ramos também pontuou momentos marcantes para ele, em seu mandato. “Primeiro quero fazer um agradecimento à Teresa Cruvinel, que abriu mão de uma vaga de assessoria que resultou na contratação da primeira pessoa em dedicação exclusiva para a Secretaria Executiva do Conselho, e foi com isso que pudemos ter essa equipe que temos hoje”, afirmou. Murilo lembrou, ainda, a importância da presidência de Ima Vieira para estruturação do Conselho, e o início das pesquisas realizadas pelo colegiado, sob sua supervisão e da então conselheira Lúcia Braga. “Dessa pesquisa sobre programação infantil vieram as câmaras temáticas e outras pesquisas acadêmicas”. A discussão sobre o Operador Nacional de Rede e a melhoria dos Planos de Trabalho da empresa também foram apontados pelo ex-conselheiro como algo positivo feito pelo Conselho.

José Martins se despediu dizendo que a EBC pode dar uma contribuição muito grande ao Brasil, mostrando para população que o país tem muitas potencialidades. “Acho que temos que varrer o pessimismo na nossa economia, na nossa política, e vocês podem ajudar muito a explicar isso para as pessoas”, disse.

Nesse sentido, Venício Lima reforçou o papel da comunicação pública no contraponto do sistema comercial. “Eu tenho, fora minha preocupação profissional com a comunicação pública, alguma coisa de participação na EBC. Não tenho nenhuma pretensão de substituir Murilo no que se refere a contribuição que ele deu aqui, mas eu assumo o compromisso de dar o melhor que eu puder porque entendo que uma empresa pública de comunicação é muito importante no contraponto de quase um monopólio da comunicação comercial que temos”.

Isaias Dias, por sua vez, afirmou a necessidade de aumentar a acessibilidade nos conteúdos da EBC e das próprias atividades do Conselho. “Venho do movimento sindical e estamos aqui com o intuito de ajudar o debate das pessoas com deficiência, não que isso já não existisse no Conselho, mas estou aqui com o acúmulo dos movimentos que olham para as necessidades das minorias”, defendeu.

Sobre minorias, Joel Zito pontuou que o audiovisual é um dos setores em que os índices de desigualdade racial são mais profundos: “existe uma ausência no debate de comunicação pública, cinema e televisão no Brasil sobre a profundidade da nossa desigualdade racial. Entre os cerca de 400 cineastas que conseguiram colocar um longa-metragem nas salas de exibição brasileiras, temos apenas 11 negros”, afirmou.

Letícia Yawanawá reforçou a defesa dos povos tradicionais, dizendo que, em sua representação no Conselho, pretende colaborar para que a comunicação pública quebre os estereótipos e preconceitos sobre os índios brasileiros. “Aqui na EBC, eu quero ser essa voz da mulher e do homem da floresta, que têm contribuído tanto para o desenvolvimento do nosso país. Para mim é um desafio muito grande, mas eu vou me doar e fazer o possível para corresponder”, afirmou.

Enderson Araújo, por fim, fez uma fala sobre sua representação em nome da juventude negra do país. “Não gosto muito da palavra 'representatividade' ou 'representante', pois a juventude negra, ela se representa singularmente, para daí formar-se os coletivos de lutas. Sou aqui um jovem negro, instrumento da luta pela democratização e acesso dessa juventude espalhada pelas periferias e favelas do Brasil, que produzem conteúdos de comunicação, desde entretenimento a notícias sobre suas próprias comundidades”. Enderson disse que, hoje, os jovens brasileiros não se enxergam na programação TV Brasil nem se sentem atraídos a ouvir a programação das Rádios EBC. “A saída é ouvir o único programa que contempla a juventude de periferia, na web, o Ação Periferia”.

Clique aqui e saiba um pouco mais sobre os novos conselheiros.

Seminário Modelo Institucional da EBC

O pleno debateu, ainda durante a 57ª Reunião Ordinária, o Seminário Modelo Institucional da EBC, ocorrido nos dias 11 e 12 de agosto. O evento foi realizado em parceria com entidades da sociedade civil, produtores de conteúdo, academia, Governo Federal, Diretoria e funcionários da EBC. O objetivo era fazer um balanço dos sete anos da empresa e discutir sua estrutura e funcionamento, abordando temas como autonomia em relação ao Governo Federal, participação da sociedade civil, formas de sustentabilidade e financiamento, além do modelo de produção de conteúdos da casa.

“Minha avaliação é de que esse foi um dos eventos mais relevantes, ou o mais relevante, que o Conselho já realizou desde sua existência. Nós fazemos muito bem audiências, consultas e seminários, mas não lidamos bem com o resultado desses eventos. É preciso avançar nas propostas do caderno e naquelas que surgiram nos debates”, ponderou Ima Vieira, conselheira. Ela sugeriu que haja um tempo nas reuniões plenárias para se discutir as demandas do Seminário que já tiverem sido analisadas nas Câmaras Temáticas do Conselho. “Temos coisas que vão precisar de mobilização no Legislativo, mas existiram muitas críticas internas e até ao Conselho Curador que já podem ser resolvidas”, concluiu.

Eliane Gonçalves, conselheira, afirmou que este foi um momento bastante oportuno para o Seminário acontecer, em função das mudanças pelas quais passa a presidência da EBC, mas principalmente pelas projeções para o futuro pensadas pelos funcionários da empresa. “Temos esperança da EBC viver uma virada, a partir das discussões que tivemos sobre mudança de gestão aqui”, disse.

Em setembro, as Câmaras Temáticas do Conselho se reunirão para dar encaminhamento as demandas surgidas no evento.

Monitoramento

Durante a reunião, foi apresentado aos conselheiros o Monitoramento Semestral do Plano de Trabalho da EBC para o ano de 2015 (veja a apresentação de slides aqui). Segundo Américo Martins, diretor-presidente da EBC, 71% dos projetos propostos no plano, o que inclui programas e outras metas relacionadas à produção de conteúdos, já foram executados.

“Nossa preocupação é com a audiência, pois temos tido muita inconstância nas medições. Em São Paulo tivemos uma boa notícia: a mudança de canal, para o canal 3, melhorou muito a audiência. Mas tivemos uma queda em Pernambuco por questões de sinal. Nossas parceiras estão passando por problemas de investimento. Por exemplo, nosso parceiro em Tocantins teve que cortar o sinal para fora de Palmas por falta de dinheiro – temos que pensar uma forma de ajudá-los”, afirmou.

Para ele, é preciso melhorar a distribuição de conteúdo multimídia da casa dentro do Portal EBC. Joel Zito, conselheiro, concordou: “a experiência que a gente vê nas outras empresas é a de crossmidia. Qualquer experiência que possa alavancar o conteúdo, eles realizam”. Ele sugeriu, ainda, que a empresa volte seus esforços para produção de conteúdos que contemplem a população negra: “acho que a EBC deve conquistar esse segmento, devia ser parte de nosso esforço estratégico de aumentar a audiência atingi-lo, pois existe essa demanda e essas pessoas estão esperando por isso”.

Ima Vieira destacou que o formato de apresentação do relatório avançou muito e que a porcentagem de realização dos projetos é relevante. “Ressalto, porém, a questão do treinamento de empregados: há problemas sérios para o cumprimento das propostas, e apesar disso o projeto aparece com status de positivo. Além disso, o plano de cobertura das Olimpíadas aqui consta como 100% realizado, porém, aqui no Conselho vimos apenas um esboço dele. Estamos esperando a apresentação para deliberação”.

Eliane Gonçalves também apontou projetos que constavam no relatório como realizados, mas ainda estavam em fase de execução. “Temos apenas 6 a 14% do projeto de acervo executado, então, não acho que dá pra colocar o andamento do projeto como positivo. Além disso, o treinamento de empregados é mesmo uma demanda e espero que seja executado. E isso inclui não só oferecer treinamento, mas as condições para que a pessoa realize esse treinamento”.

Adriano de Angelis, representante do Ministério da Cultura, informou que a pasta vai fazer uma parceria com o Comitê dos Jogos Olímpicos para realizar uma cobertura colaborativa das Olimpíadas em redes sociais e convidou a EBC para fazer parte do projeto. “A EBC poderia estabelecer diálogo com comunicadores que estão na favela e que já vão fazer cobertura das competições”, acrescentou o conselheiro Enderson Araújo.

Enderson ressaltou também a importância da construção da rede de comunicação pública na internet. “As pessoas se remetem muito à TV Brasil, um pouco às rádios e esquecem a web. Queria saber mais sobre porque a rede web está em aberto no planejamento”, questionou. O conselheiro pediu esclarecimentos sobre um programa pra juventude que está previsto para ir ao ar diariamente e apontou: “um programa pra juventude precisa ter a cara da juventude, com uma produção que entenda os temas que queremos ver”.

Sylvio Andrade, vice-presidente da EBC, explicou que o projeto de construção da rede web é o terceiro na fila de prioridades. “A empresa estava mais madura pra aprimorar a rede de TV, que já vem sendo formada, e a de rádio, que teve boas experiências recentes, até pra termos expertise pra fazer o da web, que não sabemos ainda como vai se desenhar”, disse.

Lançamentos

Foram apresentados ao Conselho o lançamento da 5ª edição da Revista do Conselho Curador e da Cartilha de Participação Social da EBC. Essa última é um retorno da empresa para uma demanda do colegiado e entrou no ar dia 30 de julho deste ano. Segundo a Diretoria da EBC, os próximos passos do projeto serão garantir a acessibilidade do site e produzir um material impresso a partir das informações disponibilizadas nele.

“A cartilha não é assim tão participativa porque uma parte da população está excluída de seu acesso”, comentou o conselheiro Isaías Dias, referindo-se a pessoas com deficiência. Rita Freire, vice-presidenta do colegiado, cobrou a realização dessa demanda e afirmou a necessidade de se testar a efetividade dos canais de participação. “Essa cartilha só passa a realmente existir quando for testada – as pessoas precisam testar se esses canais realmente funcionam. Mas elas só vão usá-la se houver divulgação”, afirmou.

Relatório da Ouvidoria

Tiago Severino, ouvidor-adjunto da EBC, apresentou o relatório bimestral do órgão. Entre os temas abordados destacou a necessidade de análises mais profundas nas coberturas da Agência Brasil e problemas no sinal da Rádio Nacional da Amazônia.

Ana Fleck, presidenta do Conselho, cobrou a preparação para a reestreia do programa da Ouvidoria nos veículos da casa. Tiago informou que esta demanda é a prioridade do órgão, que está esperando apenas o recebimento de uma equipe da casa para cuidar exclusivamente da produção dos programas de TV e rádio, além de uma coluna na web.

Informes

Américo Martins informou ao pleno que a EBC comprou os direitos de exibição da Série B do Campeonato Brasileiro e que está contratando profissionais para realizar comentário esportivo nas rádios e na TV Brasil. Além disso, a empresa fechou um contrato de co-produção com a TV Cultura para voltar a produzir o programa Viola, minha viola.

O Conselho manteve sua agenda de atividades até o fim deste ano. Confira abaixo:

Setembro

- Dia 24/09: Reunião das Câmaras Temáticas

Outubro *

- Dia 07/10: 58ª Reunião Ordinária, em Brasília (* A reunião tinha sido marcada para o dia 21/10 mas foi alterada para 07/10 por decisão do colegiado)

Dezembro

- Dia 09/12: 59ª Reunião Ordinária, em Brasília

Sugestão de atividades para setembro, novembro ou dezembro:

1) Audiência Pública do Conselho Curador / Local: São Luís, Maranhão / Tema a definir.

2) Audiência Pública do Conselho Curador / Local: Brasília / Tema: Conselhos de participação social nas empresas de comunicação pública.

 

Confira os vídeos com a íntegra da reunião clicando aqui
Veja mais fotos da reunião, aqui.
Assista aqui reportagem da TV Brasil sobre a posse dos novos conselheiros.

 

Texto: Priscila Crispi (jornalista da Secretaria Executiva do Conselho Curador).
Fotos: Agência Brasil

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