one pixel track analytics scorecard

Digite sua busca e aperte enter


Angola x Brazil

Imagem: Reuters / Marko Djurica / Direitos Reservados

Compartilhar:

Angola conquista torcida carioca, mas perde apoio em duelo contra o Brasil

Criado em 12/08/16 14h48 e atualizado em 13/08/16 18h45
Por Nathália Mendes Edição:Leyberson Pedrosa

Só havia uma seleção capaz de abalar a relação entre a torcida carioca e o time feminino de handebol de Angola: a seleção brasileira. Até a manhã desta sexta-feira (12), quando Brasil e Angola mediram forças, as africanas praticamente jogavam como o time da casa.

Nas vitórias de Angola diante da tradicional Romênia, terceira colocada no último mundial e algoz do Brasil naquela competição, e de Montenegro, cantos como “eu sou angolano, com muito orgulho e muito amor” embalaram as jogadoras. Até então,o país africano só havia vencido um único jogo ao longo de suas cinco participações olímpicas: contra a Grã-Bretanha, em 2012, país sem nenhuma tradição no esporte e que montou uma seleção às pressas para preencher a cota de país-anfitrião.

Um dos nomes mais festejados pela torcida brasileira é a goleira angolana Teresa Patricia Almeida, mais conhecida como Bá, apelido que carrega desde a infância. Bá chamou a atenção por seu porte físico incomum para a modalidade (são 98kg distribuídos em 1m70 de altura), pelas excelentes defesas e por seu carisma. Depois de vê-la fechar o gol e frear o potente ataque romeno, o público da Arena do Futuro decretou que “Bá era melhor que Neymar”.

Teresa Almeida, a Bá
Copyright - Teresa Almeida, a goleira Bá da Angola. Reuters / Marko Djurica / Direitos Reservados

“Acho que o que chamou a atenção dos brasileiros foram as minhas defesas e o fato de eu ser um pouquinho gordinha”, afirma a jogadora, esbanjando carisma. “Não esperava tanto carinho porque somos de seleções diferentes e eu não contava com isso. Fico muito feliz de receber toda esta atenção”, afirmou a goleira Bá.

Torcida mantém lealdade ao Brasil

Handebol Angola e Brasil
Copyright - Brasil x Angola. Reuters / Marko Djurica / Direitos Reservados

Bá pouco participou da partida contra o Brasil (apenas 13 minutos em quadra). Contudo, ela foi a única que arrancou alguns aplausos na apresentação da equipe angolana, dando a tônica que, pela primeira vez, elas teriam que enfrentar a força das arquibancadas.

No entanto, as angolanas não tomaram conhecimento das vaias recebidas e travaram um confronto de igual para igual durante toda a etapa inicial. Com um contra-ataque letal e uma defesa bem postada, elas foram para o vestiário empatadas com a seleção anfitriã (13 a 13). O Brasil só viria a encaminhar a vitória por 28 a 24 no segundo tempo.

“A seleção de Angola é muito rápida no ataque. A gente acha incrível como elas conseguem encontrar espaços e a gente não consegue fechar. No primeiro tempo, nosso jogo não encaixou”, reconhece a ponta Alexandra Nascimento Martinez, eleita a melhor jogadora do mundo em 2013.

“O estilo de defesa delas é muito complicado, e até chato de enfrentar. Elas fecham muito bem a trajetória e os passes. É um 5-1 que está com a zona muito fechada no lado da bola, marcando onde está a bola e não a jogada”, explica a armadora Duda Amorim, que ficou com o título de melhor do mundo em 2014.

“A gente sentou no intervalo e o técnico (Morten Soubak) nos pediu para jogarmos de forma mais simples. Percebemos que não precisávamos de tantas jogadas e criar tanto para atacar contra elas. Voltamos com muito mais agressividade na defesa, que é o nosso forte, e nos achamos no jogo”.

A central e capitã Natália, autora de nove gols na partida, sabia que, além de desafiar as campeãs mundiaIs de 2013, as angolanas também teriam que jogar contra a torcida.

“Já sabíamos que seria um jogo difícil, contra um valoroso adversário que é o Brasil. Já estávamos preparadas para isso e sabíamos que hoje não teríamos o mesmo apoio”, analisa a capitã.

Bá lamentou o fato da torcida ter mudado de lado. “Hoje não tive o carinho dos brasileiros e estou um pouco triste com eles, porque eles não nos ajudaram nem um bocadinho. Mas espero que, no próximo jogo, eles voltem a ficar do nosso lado”.

Brasileiros aprendem o "pisa" angolano

Angola x Noruega
Copyright - Torcida mostra apoio às angolas em disputa contra a NoruegaReuters / Marko Djuric / Direitos Reservados

No que depender da administradora Adriana Ferreira, a estrela angolana não precisa pedir duas vezes. “Angola é um país muito simpático. Eles têm características muito próximas às dos brasileiros, e acabou se tornando a segunda seleção do nosso coração. Primeiro vem o Brasil, claro. Mas depois vem Angola”.

O angolano Silas Sebastião era um dos que ensinava os brasileiros a fazer o “pisa”, dança repetida pelas jogadoras do time de handebol nas comemorações. “Temos que torcer pelo nosso país, mas o Brasil é um país-irmão. Hoje é diferente, porque é um jogo entre irmãos. Então há sempre esta harmonia, calor e amizade”.

O técnico Filipe de Carvalho concorda que os laços de amizade entre os países pesam na hora que a torcida decide tomar partido. “É normal e natural que o povo brasileiro tenha essa simpatia e acolhimento por Angola, além do fato da torcida ter encontrado alguém (a goleira Bá) com carisma e simpatia e que vem conquistando os brasileiros. E, naturalmente, o esforço que eles estão vendo dentro da quadra. Estes são os fatores que influenciam no apoio da galera”.

Angola é zebra no handebol?

O handebol, especialmente o praticado pelas mulheres, é uma das paixões nacionais de Angola. Apesar de ser a grande força continental (foram oito medalhas de ouro no campeonato africano entre 1998 e 2012) e ter disputado todas as Olimpíadas desde 1996, a seleção ainda está um nível abaixo no cenário internacional.

Nenhuma jogadora do time angolano atua fora do país – ao contrário da realidade brasileira, por exemplo, em que 12 das 14 convocadas estão nas principais ligas do mundo. Os melhores resultados de Angola na história foram o sétimo lugar em sua estreia olímpica, em Atlanta, e a mesma posição no Mundial da França, em 2007.

“Estamos muito aquém daquilo que se vê e se faz em nível internacional. O handebol é um fenômeno do esporte angolano. Porque, apesar de termos imensas dificuldades em termos de infra-estrutura, recursos humanos e até financeiro, estamos dando as nossas cartadas e conseguindo resultados aqui e acolá”, afirma Filipe de Carvalho.

A imprensa angolana noticiou recentemente que parte do pagamento prometido à delegação que está no Rio de Janeiro não foi quitado pelo Comitê Olímpico daquele país.

Para a brasileira Alexandra, Angola não pode ser encarada como a “zebra” do grupo. “Para a gente, Angola não é surpreendente. Ouvimos comentários da imprensa e até de familiares de que não havia handebol em Angola, mas nós, da seleção brasileira, já fizemos muitos amistosos com o time e estávamos acompanhando sua evolução. Quando elas começaram a ganhar das outras seleções, percebemos que faríamos um jogo difícil. Deu até um friozinho na barriga”.

Creative Commons - CC BY 3.0

Dê sua opinião sobre a qualidade do conteúdo que você acessou.

Para registrar sua opinião, copie o link ou o título do conteúdo e clique na barra de manifestação.

Você será direcionado para o "Fale com a Ouvidoria" da EBC e poderá nos ajudar a melhorar nossos serviços, sugerindo, denunciando, reclamando, solicitando e, também, elogiando.

Fazer uma Denúncia Fazer uma Reclamação Fazer uma Elogio Fazer uma Sugestão Fazer uma Solicitação Fazer uma Simplifique

Deixe seu comentário