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Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação (ABIA) assinou termo para redução do teor de sódio em alimentos processados no Brasil.

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Acordo para redução de sódio em alimentos é ineficiente, diz Idec

Criado em 24/04/14 06h13 e atualizado em 24/04/14 10h00
Por Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor - Idec

Macarrão instantâneo com queijo
Excesso de sódio eleva os riscos de doenças cardiovasculares, obesidade e diabetes (Florriebassingbourn/Creative Commons)

O alerta é conhecido: hambúrgueres, empanados, embutidos e sopas prontas têm muito sódio. A "novidade" é que tais alimentos vão continuar com teores muito altos desse nutriente mesmo após ter sido firmado um acordo entre os seus fabricantes e o Ministério da Saúde com o objetivo de torná-los menos "salgados". Estranho? Sim, mas foi exatamente o que constatou a análise do Idec, que avaliou rótulos de 95 produtos de nove categorias, como mortadela, queijo muçarela e salsicha, por exemplo, além dos já citados.

Essas categorias fazem parte da quarta etapa dos acordos fixados entre governo e indústria para a diminuição gradativa de sódio, com metas bianuais, que teve início em 2011. Contudo, a pesquisa evidencia que grande parte dos alimentos já apresenta quantidade de sódio dentro do valor estipulado pelas metas ou está muito próxima de atingi-las: 57,9% deles já contêm teor de sódio igual ou inferior ao teor fixado para a primeira fase, que deveria ser cumprida até 2015; e 49,5% também estão, hoje, de acordo com a quantidade de sódio fixada para a segunda fase, cujo término é previsto somente para daqui a três anos, em 2017.

O resultado atual é semelhante ao das análises feitas pelo Idec com outros alimentos de etapas anteriores dos acordos, como macarrão instantâneo, pães e biscoitos, que também já apresentavam teor de sódio igual ou inferior aos valores fixados como objetivo para redução. "Mais uma vez, as metas se mostram muito brandas e não exigem grandes esforços da indústria para atingi-las", destaca Ana Paula Bortoletto, nutricionista do Idec responsável pela pesquisa. Além disso, por se tratar de um acordo voluntário, não existe previsão de sanção para o fabricante que não cumprir as metas estabelecidas.

METAS TÍMIDAS

A quarta fase dos acordos foi anunciada em novembro passado. Agora, ao todo, 16 categorias de produtos assumiram compromissos de reduzir o teor de sódio, o que corresponde a 90% dos alimentos industrializados, segundo o Ministério da Saúde. A estimativa do governo é que, até 2020, a medida resulte em 28 mil toneladas a menos de sódio nas prateleiras dos supermercados. Embora os números impressionem, a eficácia desses acordos é questionável, já que grande parte dos produtos envolvidos pode manter a sua composição nutricional exatamente como está. "Os parâmetros utilizados para a proposição das metas não são claros", critica Ana Paula.

Entre os alimentos avaliados, a salsicha é a que não precisará mover nenhuma palha para se adequar às metas: 100% das marcas analisadas já contêm teor de sódio igual ou menor que o previsto para 2015 e para 2017, que é de 1.140mg/100g e 1.120mg/100 g, respectivamente. Além do mais, em média, as salsichas apresentam 21,1% e 19,7% menos sódio do que as metas fixadas, respectivamente. "Essa variação para menos pode dar margem para um possível acréscimo no teor do nutriente", alerta a nutricionista do Idec.

Outras categorias, embora não estejam totalmente dentro das duas metas, precisarão fazer quase nenhum esforço para atingi-las. É o caso do requeijão, por exemplo: considerando o teor médio de sódio das 24 marcas analisadas, os fabricantes terão de diminuir apenas 1,8% de sódio para cumprir o valor fixado para até 2017.

Os produtos que podem ter uma retração de sódio mais significativa são o queijo muçarela, que, em média, terá de diminuir o teor em 13,5% (2015) e 23,9% (2017); e a mortadela em temperatura ambiente, que terá de reduzir, em média 9,4% e 10,9%, respectivamente. "Os valores médios a serem reduzidos são consideráveis em comparação com o dos outros produtos analisados. No entanto, estudos apontam que, se retirado pouco mais de 20% do sódio de um alimento, o impacto no paladar do consumidor é mínimo, a ponto de ele nem perceber que está menos salgado. Ou seja, a diminuição poderia ser maior", opina Ana Paula. Veja os resultados de todas as categorias analisadas na tabela abaixo.

Ao olhar a lista de todos os produtos avaliados, o leitor pode sentir falta de alguns itens que também são conhecidos vilões no quesito sódio, como pizzas semiprontas, lasanhas congeladas e salames. Pois é, essas categorias estavam inicialmente previstas para figurar nesta etapa do acordo, mas foram retiradas. Segundo Eduardo Nilson, coordenador-adjunto de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde, pizzas e lasanhas saíram de cena porque já terão impacto decorrente da redução do nutriente na muçarela e nos derivados de carne; já o salame pode voltar a ser incluído numa próxima rodada. É ver para crer.

NO VERMELHO

O consumo excessivo de sódio está relacionado ao desenvolvimento de várias doenças, como hipertensão, problemas cardiovasculares e renais. A questão é preocupante porque os brasileiros consomem, em média, mais que o dobro da quantidade do nutriente recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Segundo dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008-2009, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a ingestão é de 5 g por dia, enquanto a recomendação da OMS é que não passe de 2 g por dia.

Parte significativa desse excesso vem dos alimentos industrializados, que fazem cada vez mais parte da rotina alimentar Brasil afora. Por isso os acordos junto aos fabricantes foram firmados. Porém, o que a pesquisa verifica também é que os valores fixados para as metas (às quais grande parte dos produtos já está adequada, como visto) mantêm os alimentos com alta concentração de sódio, em comparação com os parâmetros do Semáforo Nutricional, esquema criado no Reino Unido para facilitar a compreensão das informações do rótulo por meio de cores (vermelho para alto teor; amarela para médio teor; e verde para baixo teor).

Segundo esse parâmetro, um alimento é classificado com alto teor de sódio quando contém mais de 600 mg do nutriente numa porção de 100 g; médio teor, quando tem entre 100 mg e 600 mg por porção; e baixo teor quando tem menos de 100 mg.

Considerando-se as metas para os alimentos de todas as categorias analisadas, todos os produtos ficariam entre o amarelo e o vermelho – ou seja, com médio ou alto teor de sódio. Entre os "menos piores" estão a muçarela, o requeijão e as sopas prontas, classificadas em amarelo. Todo o restante permaneceria estagnado no vermelho, com mais de 600 mg de sódio por porção, mesmo cumprindo a meta. "Essa condição reforça, mais uma vez, a necessidade de uma informação nutricional mais clara nos rótulos para o consumidor", lembra Ana Paula.

Dessa forma, a atenção ao consumo desses alimentos deve ser redobrada. Vale destacar que, além de conter muito sódio, boa parte dos itens avaliados é de origem animal e, intrinsecamente, contém ainda grandes doses de gordura saturadas, que, em excesso, também são péssimas para a saúde. "A ingestão desses produtos deve ser moderada e esporádica", finaliza a nutricionista.

Creative Commons - CC BY 3.0

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