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Imagem: PublicDomainPictures / Pixabay

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Palavras indígenas nomeiam a maior parte das plantas e animais do Brasil

Criado em 29/10/15 09h28 e atualizado em 30/10/15 12h31
Por Adriana Franzin

Que língua é falada no Brasil? Se você disser o português, sua resposta não está completa. Esse é apenas o nosso idioma oficial. Existem, aqui, mais de 200 línguas indígenas registradas, das quais 180 são faladas até hoje. Além disso, as línguas indígenas têm importantes contribuições e influências que ainda fazem modificações na nossa forma de falar o português. 

De acordo com a professora Ana Suelly Cabral, pesquisadora das línguas indígenas, cerca de 80% das palavras que nomeiam as plantas e bichos brasileiros são oriundas do Tupinambá, o mais conhecido idioma nacional nativo. Aliás, o tronco Tupi é um dos grandes agrupamentos linguísticos do Brasil. São sete famílias de línguas: Arikém (1 língua), Juruna (1 língua), Mondé (7 línguas), Mundurukú (2 línguas), Ramaráma (2 línguas), Tuparí (3 línguas), Tupi-Guarani (21 línguas). Há ainda trêslínguas isoladas no nível de família: Aweti, Puruborá e Sateré-Mawé. Considerando que o total de línguas indígenas no Brasil é de 180, o tronco Tupi reúne 40 línguas, o que corresponde a 22,2 % do total.

De acordo com a professora, quando os colonizadores europeus chegaram aqui, eles não conheciam a enorme variedade da fauna e flora brasileiras. Os índios é que foram apresentando e dando nome aos animais, como por exemplo a capivara, o tamanduá, a cutia, o pirarucú, o jabuti; e às frutas, como o cacau e o cajá.

Ouça a entrevista completa:

Creative Commons - CC BY 3.0 - entrevista_-_ana_suelly.mp3

"A influência foi muito lexical, de nomes das coisas desse mundo rico, desconhecido para os portugueses, que era o Brasil, de uma diversidade ambiental e ecológica muito grande. E não só os nomes das plantas, mas como os processos, as técnicas de agricultura. A coivara, por exemplo, porque isso foi aprendido com os índios, de como plantar, como colher.(...) A gente também tem verbos, como pipocar, cutucar...", cita.

Essas palavras aprendidas pelos portugueses misturadas com a estrutura gramatical da língua dos colonizadores deram origem à Língua Geral do Brasil, que, com o passar do tempo, se dividiu em duas: a Língua Geral Amazônica (mais falada no Maranhão e no Pará) e a Língua Geral Paulista (mais corrente no sudeste do país). Até a metade do século XVIII, era essa última a língua mais falada por aqui. Saiba mais sobre as Línguas Gerais.

Foi quando em 17 de agosto de 1758, o Marquês de Pombal, que era o primeiro-ministro de Portugal, instituiu por meio de um decreto a língua portuguesa como idioma oficial do Brasil e proibiu o uso das línguas gerais, que eram, inclusive, usadas pelos jesuítas para catequisar os índios e pelos bandeirantes, nas suas expedições para desbravar o Brasil. Mesmo assim, as palavras que já faziam parte do vocabulário da população se mantiveram e são faladas até hoje. 

Curiosidade

Além de ter sido essencial na formação do vocabulário do português do Brasil, a influência das línguas indígenas deixou marcas na forma de pronunciá-las. Uma amostra disso é o fenômeno pesquisado atualmente em Cuiabá, no Mato Grosso. Segundo Ana Suelly, por causa do forte contato com a língua Bororo, a população pronuncia os fonemas "ch" e "j" de forma peculiar. Em vez de "chuva" e "caju", fala-se `tchuvaï  e `cadjuï, por exemplo.

Conheça algumas palavras de origem indígena que fazem parte do Português do Brasil

Acajá - ou cajá, é o fruto da cajazeira. Do Tupi Guarani: acã-já = o fruto de caroço cheio, graúdo; fruto que é todo caroço. 

Aracajú – Do tupi-guarani: ará = papagaio; caju (akaiu) = cajueiro dos papagaios. Também pode significar tempo, época do caju. 

Babaçu - Do Tupi-Guarani: ibá-guaçu = fruto grande.

Baiacu - é como são chamadas diversas espécies de peixes que “incham” quando se sentem ameaçados. Do Tupi-Guarani: grafia antiga maiacu de mbaé-acu = a coisa quente, venenosa, por causa do seu fel.

Barbatimão – Do Tupi-Guarani: bar por ibira = árvore; aba-r-emó = aba-t-emó = pênis; a árvore do órgão genital do homem.

Boitatá – Gênio que protege o campo e as matas dos incêndios; cobra-de-fogo. Do tupi-guarani: m(baé) – coisa; tatá – fogo; coisa de fogo. 

Buriti – Do Tupi-Guarani: mbur = alimento; iti = árvore alta; = árvore alta de alimento ou de vida.

Butantã – Do Tupi-Guarani: bu (ibi) = terra; tatã (atã, tantã) = muito duro.

Caatinga
Creative Commons - CC BY 3.0 - Caatinga

 

Caatinga - Do Tupi-Guarani: caá-t-enga = o mato ralo

Cacau – Do Náhuatle: cacauatl = caroço

Caiçara – do Tupi-Guarani: caá-içara = a cerca de ramos. 

Caipira – do Tupi-Guarani: caaipura = de dentro do mato. Nome que os índios do interior de São Paulo deram aos colonizadores. 

Capim – do Tupi-Guarani: caá=folha; pií=fino, delgado.  

Capivara
Creative Commons - CC BY 3.0 - Cerrado: Capivara

 

Capivara – do Tupi-Guarani: “kapii’ guara” - comedor de capim

Capoeira – do Tupi-Guarani: co-poera = roça velha.  

Carioca – do Tupi-Guarani: kari`= branco; oka = casa. Casa do branco. 

Catuaba –  do Tupi-Guarani: caá = planta, folha, mato + tuã = taludo + ibá = árvore. 

Cipó – do Tupi-Guarani: ici-fila; pó-fileira. Nome genérico de todas as plantas de hastes finas e flexíveis que servem para atar; plantas trepadeiras que pendem das árvores; embira.

Copacabana - de origem quechua. Significa “olhando o lago”. A palavra original é kupa kawana. 

Curitiba - dTupi-Guarani: Curi = pinhão; Tiba = lugar.

Criança indígena da etnia Ingaricó
Creative Commons - CC BY 3.0 - Criança indígena da etnia Ingaricó

 

Curumim – Palavra de origem tupi, e designa, de modo geral, as crianças indígenas. 

Cutia – dTupi-Guarani: a-coti = indivíduo que se assenta para comer. 

Embiruçu : dTupi-Guarani: ibira-uçu – árvore de muita estopa (Edelweiss).

Erechim – cidade do Rio Grande do Sul – do Kaingáng (Jê) erê-xim – campo pequeno.

Gariroba – do Tupi Guarani guara-iroba = o indivíduo amargo. Palmeira; coco amargoso.

Gororoba : dTupi-Guarani: guara – arvore; roba – amargo.

Guri – dTupi-Guarani: guirii – terno, brando. Termo muito usado no Sul do Brasil, para criança do sexo masculino .

Igarapé – dTupi-Guarani: ir-r´apé = caminho d’água. 

Iguatemi – Palavra de origem Tupi que significa rio ondulante. 

Irapuã: mel redondo (ira = mel, apu`a = redondo, esférico). Dá margem à interpretação como “cacho de abelha”. Também usado para designar algumas abelhas.

Jabuti – dTupi-Guarani: j-abu-ti=o que nada respira. 

Jacaré Jaca Zé
Creative Commons - CC BY 3.0 - Jacaré Jaca Zé

 

Jacaré: Do Tupi-Guarani: jaeça-caré = o que olha de banda. 

Jenipapo - dTupi-Guarani: iá-nipaba-fruto de esfregar.

Jericoacoara - dTupi-Guarani: îurukûá tartaruga-marinha / kûara – toca = Toca das tartarugas. 

Jururu - dTupi-Guarani: juru-ru = pescoço pendido. Triste,abatido, chateado, desiludido

Macuco – dTupi-Guarani: maa=mbaé-coisa ; cucu =comer muito. Ave brasileira, tinamídea (Tinamus solitarius), muito apreciada por sua carne saborosa; tem o tamanho de uma galinha e vive solitária; encontrável nas matas de todo o país. 

Maloca – dTupi-Guarani: moro-oca = casa de gente. Casa de residência fixa, onde o indígena vive em comum. 

Maracanã – dTupi-Guarani: paracau-aná - pagagaios juntos

Mingau – dTupi-Guarani: mi-caú = feito de papas.

Mocotó – dTupi-Guarani: mo-coto = faz que jogue.

Mutirão – dTupi-Guarani: pitibõ, popitibõ, picorõ = ajudar. 

Mutum  – dTupi-Guarani: mi-pele, plumagem; t-u-negro. O termo ¨mutum ¨ é a designação comum de aves galiformes, da família dos Cracídeos, de hábitos florestais, sendo que várias espécies destas aves estão ameaçadas de extinção. Possuem uma plumagem geralmente negra com topete de penas e bico com cores vistosas.

Oiapoque – dTupi-Guarani: oia-poc = o que explode ao abrir-se. Nome de uma cidade município e de um rio que banha o estado do Amapá.

Paca – dTupi-Guarani: paca = ficar alerta.

Paçoca
Creative Commons - CC BY 3.0 - Paçoca

 

Paçoca – dTupi-Guarani: paçoca = coisa pilada. 

Pajé – dTupi-Guarani: pajé = profeta. Pessoa encarregada de realizar rituais e cerimônias religiosas nas tribos indígenas 

Pamonha – dTupi-Guarani: apá-mimõia = envolvido e cozido. 

Pereba –  dTupi-Guarani: pere`wa = ferida. Ferida cutânea.

Perereca  – dTupi-Guarani: perereca = andar às tontas. 

Pipoca –  dTupi-Guarani: pi(ra)- pele; poca-rebentar; a pele rebentada.

Piranha –  dTupi-Guarani: pirá-anhã = peixe diabo. 

Pitanga –  dTupi-Guarani: pi (ra) – tanga – pele tenra .

Quati – dTupi-Guarani: cuá-cintura;ti-nariz; que se deita para dormir, esconde o focinho na barriga como defesa. 

Sapucaí –  dTupi-Guarani: sapucaia-i = rio do galo ou rio que grita. 

Saúva  – Do Tupi Guarani iça-aíba=a formiga má, que destrói as plantas.

Sucuri – dTupi-Guarani: suú-curi = morde depressa.

Tacacá – dTupi-Guarani: tacacá – goma, mucilagem. Sopa tradicional da culinária amazônica, mais especificamente paraense. 

Tamanduá – dTupi-Guarani: ta-monduá = o caçador de formiga.

Taturana –  dTupi-Guarani: tata = fogo + rana = semelhante. Espécie de larva recoberta com uma felpa que produz sensação de dor em quem a toca.

Tiririca – dTupi-Guarani: Tiririca – arrastar-se . Espécie de erva daninha comumente encontrada nos açudes e que se propaga rápidamente.

Tucano – dTupi-Guarani: tu-can : que bate forte.

 

Projeto zoo toque, do Zoológico de Brasília tucano
Creative Commons - CC BY 3.0 - Projeto zoo toque, do Zoológico de Brasília tucano

 

Urubu –  dTupi-Guarani: uru – ave grande; bu – negro.

* A professora Ana Suelly Cabral é doutora em Lingüística pela University of Pittsburgh (1995) e pós-doutora em Linguística Histórica pela Universidade de Brasília. Atualmente é professora Associada na Universidade de Brasília, Vice-Coordenadora do Núcleo de Estudos sobre a Amazônia (NEAz) do Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares (CEAM), e vice -coordenadora do Laboratório de Línguas Indígenas (LALI) da UnB. 

** Informações retiradas do texto de José Horta Nunes – Enciclopédia das Línguas do Brasil

*** Expressões extraídas do Dicionário de Palavras Brasileiras de Origem Indígena – Clóvis Chiaradia do site Dicionário Ilustrado Tupi-Guarani

Creative Commons - CC BY 3.0

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