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Santa Maria (RS) - Parentes e amigos de vítimas do incêndio na Boate Kiss acompanham enterro no Cemitério Ecumênico Municipal

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Perplexidade e desespero tomou conta de Santa Maria, relata repórter

Criado em 24/01/14 11h52 e atualizado em 24/01/14 12h15
Por Mariana Jungmann - Repórter da Agência Brasil Edição:Marcos Chagas Fonte:Agência Brasil

A chegada em Santa Maria (RS), no início da tarde de 27 de janeiro de 2013, é uma das principais recordações da minha vida. Eu e os demais membros da equipe da EBC tínhamos saído de Porto Alegre, onde cobríamos o Fórum Social Temático, por volta das 9h, com a informação que uma tragédia tinha ocorrido.

No caminho entre a capital gaúcha e a principal cidade da região central do Rio Grande do Sul ligamos o rádio em busca de informações que fossem além daquelas básicas que já tínhamos: um incêndio, em uma boate, tinha matado muita gente. A cada cidade que passávamos o sinal pegava e depois sumia novamente. O número de mortos subia em cada notícia que conseguíamos ouvir: 90, 120, 140, 180, 200.

Tragédia mudou rotina de jovens da cidade

Creative Commons - CC BY 3.0 -

Assim que chegamos em Santa Maria, por volta das 14h, o principal objetivo era alcançar a presidenta Dilma Rousseff que já estava na cidade para prestar solidariedade às famílias das vítimas. Desci apressada do carro enquanto os colegas seguiam para o hospital. Na pressa de encontrar a comitiva da presidenta não reparei, com calma, o que acontecia à minha volta. Parei para pedir informação a um guarda e ele me apontou a entrada do Centro Desportivo Municipal. Ao lado dele, uma mãe chorava desolada. Quando levantei os olhos na direção que ele apontava vi centenas de rostos. Cada um, alternava as expressões de desespero e de perplexidade.

Ao entrar no ginásio, me deparei com famílias que lotavam as arquibancadas. Ao centro, utilizando um microfone, um voluntário lia a lista com os nomes de pessoas que já tinham sido identificadas por meio de documentos. Os parentes dessas pessoas desciam e eram acompanhados até o ginásio ao lado, onde faziam a identificação do corpo. Depois de alguns segundos olhando a cena, uma forte movimentação de imprensa se formou. A presidenta Dilma estava saindo. Cheguei a tempo de vê-la apertando a mão de uma das pessoas que lá estava e entrando no carro presidencial.

No primeiro dia, meus colegas e eu trabalhamos até por volta da 1h da manhã. Não almoçamos nem jantamos, mas não nos faltou alimentação. Voluntários rapidamente começaram a providenciar sanduíches, café e água, que serviam a todos que estivessem no centro desportivo. Tivemos dificuldade em providenciar hospedagem e nosso motorista, desprevenido sobre a amplitude da cobertura que faríamos, precisou voltar a Porto Alegre para buscar roupas. Consegui hospedagem na casa de uma amiga gaúcha, cujos pais ainda moravam em Santa Maria.

Dormimos 4 horas na primeira noite e às 5h já estávamos de volta ao Centro Desportivo Municipal. O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, concedeu entrevista coletiva às 6h, com o velório coletivo já iniciado. O segundo dia de cobertura da tragédia seria para acompanhar os enterros nos três cemitérios disponíveis na cidade e no entorno. Em um deles, uma mãe enterrava dois filhos, de 16 e 19 anos. No outro, um soldado recebia as últimas homenagens dos colegas de farda. Ele tinha voltado para dentro da boate e salvado a esposa que, internada, ainda não sabia da morte do marido. Novamente o dia de trabalho foi longo e encerrou por volta da meia-noite.

Os outros três dias que permanecemos em Santa Maria foram para acompanhar o início das apurações sobre as responsabilidades pelo incêndio e o estado de saúde dos feridos. O ministro Padilha concedia entrevistas sempre por volta das 7h. A cada coletiva, sempre era informado que o número de internados tinha aumentado em relação ao dia anterior. Muitas pessoas que tinham conseguido se salvar do fogo começavam a apresentar os sintomas da pneumonite química, provocada pela fumaça tóxica gerada pela espuma de isolamento acústico da boate.

Dezenas de pessoas que apresentaram os sintomas foram internadas nos dias que se seguiram, várias delas foram para UTIs. Algumas mães e pais também foram internados com problemas decorrentes do estado emocional.

Retornei para Brasília no dia 1º de fevereiro e passei a acompanhar à distância a situação das vítimas e das famílias de Santa Maria. Um ano depois, ainda tenho em mente a imagem de uma cidade que teve bruscamente arrancadas a algazarra e a alegria estudantis, dando lugar à tristeza e à perplexidade decorridas da perda de 242 vidas diretamente e tantas outras indiretamente.
 

Editor: Marcos Chagas

Creative Commons - CC BY 3.0

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