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Coluna da Ouvidoria - Reconversão do olhar no jornalismo público

Criado em 18/03/14 19h33 e atualizado em 18/03/14 19h43
Por Joseti Marques - Ouvidora-geral da EBC Fonte:Agência Brasil

A grande imprensa dos Estados Unidos “funciona como escudo e megafone do poder”. A declaração é do jornalista Glenn Greenwald, que foi quem primeiro entrevistou o ex-funcionário terceirizado da Agência Nacional de Segurança (NSA) dos Estados Unidos Edward Snowden sobre o monitoramento de conversas telefônicas e eletrônicas promovido pelo governo norte-americano em diversos países do mundo, inclusive no Brasil. Mas a pauta desta nossa conversa não é o “megagrampo” do Obama; são as metáforas utilizadas por Greenwald para descrever o contexto da profissão no seu país.

“Escudo” e “megafone”, além de denunciarem uma relação imprópria entre imprensa e governo, confirmam o lugar comum sobre o poder de propagação da mídia e apontam o lugar a partir do qual a imprensa dos EUA observa e relata os fatos. A metáfora do “escudo”, com a denúncia implícita do que poderíamos definir, em poucas palavras, como “de que lado da história se está”, nos dá oportunidade de abordar uma questão fundamental para a consolidação da personalidade e vocação dos discursos da mídia pública – o lugar de onde falamos e o nível de amplitude que nos cabe.

À primeira vista, uma resposta simples nos poderia ocorrer: estando nos veículos da mídia comercial, “falamos” de acordo com a pauta da mídia comercial; na mídia pública, “falamos” com foco no cidadão – como se a “técnica jornalística” pudesse nos salvar de nós mesmo, equipando nossa responsabilidade de enunciação com um dial para transição entre uma estação e outra. É pena que não seja assim tão simples. A amplitude e abrangência da mídia privada sobre a mídia pública são infinitamente maiores, nem tanto pelas condições tecnológicas quanto pelo contexto histórico e o distanciamento no tempo com que foram concebidas.

O sistema de radiodifusão, assim como a imprensa no Brasil, ambos fortemente marcados em sua gênese pela relação íntima com o poder e albergados em grandes grupos empresariais e conglomerados de mídia, detêm a hegemonia do “megafone” que ao longo de mais de 200 anos “fala” ao público brasileiro – agora em 2014, a imprensa no Brasil faz 206 anos; o rádio, 91, e a TV, 64. O papel “pedagógico” da mídia – para o bem e/ou para o mal - tem sido tema de um sem número de teses e dissertações acadêmicas e dispensa maiores comentários. Por óbvio também, podemos afirmar que a formação de jornalistas e radialistas não contempla a mídia pública.

Portanto, torna-se necessário admitir que o diploma e o registro de jornalistas e radialistas agregados ao crachá dos veículos públicos não protegem os profissionais do peso histórico de um passado que se imiscui na compreensão do mundo e dos fatos, como sedimentos discretos que muitas vezes “falam” à revelia das posições manifestas de cada um. Talvez esteja nesse detalhe a compreensão de que jornalismo é mesmo único, não importando onde seja praticado. Na verdade, o que muda é o olhar dos profissionais envolvidos na tarefa.

Enunciar é tomar posição, mesmo quando se trata da narrativa jornalística. Reconhecer que somos todos igualmente atravessados por ideologias, no sentido das representações sociais que se materializam no discurso, é já um primeiro passo rumo à construção do lugar a partir do qual falam os profissionais da mídia pública – um lugar que começa em cada um e que mesmo sem mapas ou manuais pode conduzir para fora do senso comum e dos consensos tecidos por diversos canais de comunicação, entre eles o megafone da mídia hegemônica.

Um bom exercício seria seguir na contramão da pauta geral e não considerar noticiável, ao menos não como factual, a reincidência no crime do jovem negro que foi espancado e amarrado nu a um poste na zona sul do Rio por ter sido pego assaltando. A cena, registrada pelas lentes da imprensa, em quase nada difere das cenas de torturas e iniquidades da escravidão – efeitos de uma realidade do passado que ainda reverberam no presente. Como pano de fundo, a constatação da existência de grupos atuando como “justiceiros”. Em um primeiro momento, uma parcela da sociedade se manifestou contra os atos de “justiçamento”; outra corrente considerou justa a aplicação da pena, sem mais considerações sobre o que conviria ao Estado Democrático de Direito.

Os debates apontando a tendência perigosa de uma epidemia de violência social pautaram vários programas, tanto nas emissoras públicas quanto privadas. Nas redes sociais, grupos contra e a favor do “justiçamento” ainda defendiam seus pontos de vista e justificavam suas posições com argumentos muito semelhantes aos que vemos diariamente em programas policiais de TV - aliás, não seria demasia pensar que algumas emissoras têm-se empenhado em uma pedagogia de “policialização” da sociedade com esses programas.

Ainda nem bem a primeira notícia havia se apagado, o jovem personagem foi apanhado pela polícia em novo ato de furto a turistas na zona sul do Rio. Pelas lentes técnicas dos critérios de noticiabilidade, a reincidência de um jovem em crime de assalto não se justifica nem mesmo como notícia policial.  Portanto, o que tornou o acontecimento noticiável foi o fato de o assaltante, alvo de “justiçamento” e também da defesa indignada e piedosa de setores da sociedade, ter ferido a expectativa de reabilitação social que o primeiro acontecimento, transformado em notícia, ajudou a construir. Como se histórias dessa natureza se resolvessem assim.

O que está implícito na pauta da reincidência pode ser lido como o jovem não sendo digno da piedade social que a primeira notícia mostrou; ou ainda com a mesma frieza dos que consideram que o “justiçamento” foi “justo”, explicitando a opinião em frases que têm circulado nas redes sociais – “Tá com pena dele agora?”.  Em linhas gerais, é o mesmo que oferecer argumentos para os que consideram o “justiçamento” uma atitude justificável para uma sociedade que não se sente protegida pelo aparato de segurança do Estado. O jornalismo (digamos, tradicional) costuma avaliar o que é ou não noticiável sem esse nível de preocupação – toda a mídia deu a notícia da mesma forma, inclusive a pública.

A decisão de pauta é o primeiro ato de enunciação da notícia e aponta o lugar a partir do qual se observam os acontecimentos, o lado da história em que nos posicionamos para narrar os fatos. Os documentos e manuais que balizam o papel da comunicação pública são como uma bússola, que indicam o Norte, mas não levam o viajante até lá. Enunciar implica sempre uma tomada de posição, e é neste momento que devemos nos perguntar de que lugar a comunicação pública deve falar. Talvez esteja na pauta – ou na reconversão do olhar dos profissionais – o turning point do jornalismo que se pretende diferenciado e público.

OPINIÕES PÚBLICAS

TV BRASIL

O programa Estúdio Móvel, que vai ao ar diariamente na TV Brasil, recebeu uma crítica do telespectador Erico Tachizawa, que cobrou a correção do que considerou uma desfeita ao município de Niterói, no estado do Rio de Janeiro: “No programa de hoje, o Estúdio Móvel cometeu um pequeno erro, disse que a cantora Bárbara Eugênia, que é nascida em Niterói, é carioca. Para compensar esta "desfeita" para com a cidade de Niterói, o programa poderia mostrar um pouco da cena cultural da cidade de Niterói. A cidade tem belos espaços culturais, como o Solar do Jambeiro, o Teatro Popular, o Teatro Municipal e o Museu de Arte Contemporânea. Obrigado."

O coordenador de Produção do programa, Leonardo Carvalho, respondeu à crítica e prometeu incluir Niterói na pauta do Estúdio Móvel. Veja a resposta abaixo:
“Pedimos desculpa pela informação equivocada. Estamos em contato com artistas da cena cultural de Niterói e em breve eles estarão aqui no Estúdio Móvel. Agradecemos a atenção e nos colocamos à disposição. Leonardo Carvalho - coordenador de Produção.”

AGÊNCIA BRASIL

O leitor Valtair Antônio de Almeida, de Brasília, reclamou da redação de uma notícia da Agência Brasil. Na avaliação da Agência Brasil o leitor está correto em sua observação e justificou que o texto opinativo foi que induziu ao erro. Leia abaixo a íntegra da manifestação e a resposta da Agência Brasil:

“Sobre a notícia sob o título PT deve comandar Comissão de Direitos Humanos da Câmara, que trata da disputa pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, o redator diz que 'o colegiado sempre entre os menos disputados, ganhou a atenção de algumas legendas e entrou na lista de preferências do PT.' Discordo totalmente da afirmação de que a CDH entrou na preferência do PT, pois o partido sempre dirigiu esta comissão que no ano passado, aí sim, entrou na preferência do senhor Marcos Feliciano e, por um descuido ou sei lá o quê, o Partido dos Trabalhadores perdeu o controle do colegiado com um alto custo tanto para o partido como para a política de direitos humanos do governo.”

Resposta da Agência Brasil:
"A opinião do leitor foi considerada pela redação da Agência Brasil. Procuraremos não incorrer em observações opinativas como a que está em questão na reportagem citada."

PORTAL EBC

No Portal EBC, uma solicitação do internauta Adilson Viana Costa que é comum a muitos usuários: “Sou usuário do Portal EBC e me cadastrei para baixar os áudios do portal, como notícias e spots. Com isso gostaria de saber se posso vincular esses áudios no programa que tenho em uma rádio comunitária e rádio web.”

A Superintendência de Comunicação e Multimídia (Sucom) explicou que o conteúdo do Portal EBC é publicado, em geral, sob uma licença livre - Creative Commons, no caso. Isso vale para textos, fotografias, áudios, vídeos e infográficos. Há casos pontuais em que, por um acordo de cessão, o autor do conteúdo ou detentor dos direitos de uso autoriza a veiculação pelo Portal EBC, mas inibe seu uso em outras plataformas. Nesses casos, há advertências explícitas posicionadas no Portal para diferenciar o material, seja com indicações do tipo de licença específica, seja com informação de restrição na redistribuição.

RÁDIO NACIONAL DA AMAZÔNIA

A Rádio Nacional da Amazônia está fazendo sucesso para além das fronteiras. Agora em março, recebeu três manifestações de lugares distantes. Dzenan Hadzifejzovic, do Canadá; Daniele Missaglia, da Itália e Rajdeep Das, da Índia. Todos comunicam que acessaram a rádio em seus países, fazem elogios à programação e pedem o cartão QSL. Para radioamadores, o cartão QSL é uma confirmação de que a rádio foi sintonizada – uma espécie de troféu de alcance e sintonia. A EBC informa que está desenvolvendo um projeto para emissão de cartão QSL e assim que estiver pronto enviará para aqueles que solicitarem.

Reproduzimos a manifestação de Rajdeep Das, que nos escreveu em bom português: “Esta foi a primeira vez nos últimos 16 anos de minha experiência de escuta de rádio que ouvi claramente a Rádio Nacional da Amazônia no meu Tecsun PL 660 receptor. Este é o meu primeiro log do Brasil no rádio de ondas curtas da Índia. Estou muito animado e eu estou feliz em informar-lhe o meu registro. Sinal de sua estação de rádio para a Índia era fraco, mas audível. Eu sou um fã do time de futebol do Brasil e quando ouvi comentários ao vivo na rádio do Brasil fiquei emocionado. Por favor, verifique o meu relatório de recepção e me envie um cartão QSL verificação / carta e detalhes sobre sua estação de rádio. Estou muito interessado em saber sobre a sua localização da estação de rádio, antena, potência do transmissor e da história da estação, o tipo de programas de sua produção e do número de público, alcance de sua estação. Atenciosamente , Rajdeep Das.”

Creative Commons - CC BY 3.0

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