one pixel track analytics scorecard

Digite sua busca e aperte enter


Compartilhar:

"Havia clientes que dormiam no bingo, outros ficavam dias lá", relata ex-funcionário de casa de jogos

Criado em 16/08/16 12h49 e atualizado em 16/08/16 12h51
Por Leandro Melito / Portal EBC Edição:Noelle Oliveira

A última grande discussão envolvendo a questão dos bingos no Brasil ocorreu em 2004, quando Waldomiro Diniz, que era assessor do então chefe da Casa Civil, José Dirceu, apareceu em uma gravação na qual era acusado de extorquir o empresário do setor Carlos Augusto Ramos, conhecido como Carlinhos Cachoeira.

Depois do episódio, o então presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva editou uma medida provisória que proibia a exploração de qualquer jogo de azar no país. Sendo assim, as últimas casas de bingo foram fechadas em 2006.

O servidor público Thiago Silva trabalhou em um bingo, na cidade de Águas Lindas (GO), em 2005. À época, os bingos já haviam sido fechados em Brasília, onde ele reside, mas seguiam funcionando na região do entorno do Distrito Federal. “O dono do bingo em que eu trabalhava tinha também outros estabelecimentos em cidades goianas. Ele atendia tanto o público local como, principalmente, pessoas da capital federal”, relata o ex-funcionário.

Relembrando o ambiente de funcionamento do bingo, Thiago considera que grande parcela do público aparentava vício nos jogos. “Era bastante assustador porque a maioria dos clientes demonstrava realmente essa fraqueza do vício. Estavam lá todos os dias e nos contavam de suas vidas pessoais. Lembro de uma juíza federal que ficou afastada do trabalho por motivos psiquiátricos e que não saia do bingo, toda a renda dela – ela já tinha vendido imóvel e carro – era para o jogo”, recorda-se.

Confira entrevista completa com o ex-funcionário de um bingo no estado de Goiás:

PORTAL – Como era o ambiente dos bingos e o comportamento das pessoas nesses espaços?

TS- Tinham muitas pessoas viciadas nos jogos, outras que usavam drogas lá dentro, e nós sabíamos que os clientes já haviam perdido vários bens e que todo dinheiro que conseguiam ficava no bingo. Era perceptível que as pessoas tinha um problema de saúde e não conseguiam se afastar, o que tornava o ambiente muito ruim, insalubre tanto pros funcionários quanto para os clientes. Quanto ao vínculo empregatício, tudo funcionava de forma correta, éramos bem tratados como funcionários e os responsáveis sempre cumpriram a legislação trabalhista.

 

PORTAL – Como você vê essa recente discussão para a legalização dos jogos no Brasil?

TS- Não encaro com bons olhos. Por ter trabalhado nesse ambiente, por ver de perto o que realmente acontece, não acho que seria bom pra sociedade como um todo. Não sei se arrecadação de impostos seria o mais atrativo para o governo, mas em termos sociais, a grande maioria dos clientes tem problema com o vício, perde seus bens e a vida social.


PORTAL – Por que você deixou o emprego no bingo?

TS- Não aguentava o ambiente. Trabalhava à noite, entrava às 19h e não tinha um horário para sair. Às vezes, seguíamos até as 7 da manhã e os clientes permaneciam lá. Havia clientes que dormiam no bingo, outros ficavam dois, três dias sem sair de lá.

PORTAL – Era normal pessoas ficarem retidas no bingo devido a dívidas?

TS - A frequência não era tão alta, mas ocorria. Tinha as pessoas que tinham de deixar carro, chave do carro, celular, computador, até saldar a dívida. Já a lista de devedores no bingo era sempre grande.

Creative Commons - CC BY 3.0

Dê sua opinião sobre a qualidade do conteúdo que você acessou.

Para registrar sua opinião, copie o link ou o título do conteúdo e clique na barra de manifestação.

Você será direcionado para o "Fale com a Ouvidoria" da EBC e poderá nos ajudar a melhorar nossos serviços, sugerindo, denunciando, reclamando, solicitando e, também, elogiando.

Fazer uma Denúncia Fazer uma Reclamação Fazer uma Elogio Fazer uma Sugestão Fazer uma Solicitação Fazer uma Simplifique

Deixe seu comentário