Pero Vaz de Caminha lê para o comandante Pedro Álvares Cabral, o Frei Henrique de Coimbra e o mestre João a carta que será enviada ao rei D. Manuel I. Obra do pintor Francisco Aurélio de Figueiredo e Melo

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Três cartas documentam o descobrimento do Brasil e revelam detalhes da viagem de Cabral

Criado em 19/04/13 11h04 e atualizado em 19/04/13 11h23
Por Gilberto Costa Correspondente da Agência Brasil / EBC Fonte:Portal EBC

Quadro Pero Vaz de Caminha
Pero Vaz de Caminha lê para o comandante Pedro Álvares Cabral, o Frei Henrique de Coimbra e o mestre João a carta que será enviada ao rei D. Manuel I. Obra do pintor Francisco Aurélio de Figueiredo e Melo (Francisco Aurélio de Figueiredo e Melo/ Reprodução )

Lisboa – Está em exposição em Lisboa a Carta do Mestre João (ou João Faras) uma das três cartas (junto com a carta de Pero Vaz de Caminha e a Relação do Piloto Anônimo) que documentam a expedição de Pedro Álvares Cabral, que há 513 anos descobriu o Brasil. 

A carta, que pode ser vista até 2 de junho na Fundação Calouste Gulbenkian [2], ilustra pela primeira vez na história o Cruzeiro do Sul, constelação que era referência fundamental para as embarcações e aeronaves que desciam do Hemisfério Norte para a outra metade da Terra.

LEIA A CARTA DO MESTRE JOÃO [3]

Saber navegar olhando as estrelas permitiu ao homem cruzar os oceanos. Conhecer o Cruzeiro do Sul foi condição para que os portugueses se arriscassem na outra parte do Atlântico, antes de outra civilização europeia, e colonizasse o Brasil. De acordo com Henrique Leitão, curador da exposição e professor de História da Ciência da Universidade de Lisboa, “os portugueses detinham a altura as melhores técnicas de navegação e, sobretudo, as técnicas de posicionamento, do saber onde está”.

Segundo o pesquisador, os portugueses inovaram ao trazer as técnicas de astronomia (inventada pelos árabes) para dentro dos barcos e, assim, calcular a latitude a partir dos astros. Além disso, na expedição “testaram novos aparelhos e procedimentos de navegação”, como uma técnica recolhida na viagem de Vasco da Gama pelo Oceano Indico (1498), chamada “tábuas da Índia”, também utilizada para medir a altura das estrelas.

Saiba mais:

Confira no mapa o trajeto da viagem de Cabral [4]

A Carta de Pero Vaz de Caminha: conheça o primeiro documento dos portugueses sobre o Brasil [5]

A Carta do Mestre João pertence ao acervo do Arquivo Nacional da Torre do Tombo [6] que também guarda a carta de Caminha – ambas reconhecidas pelo certificado da Unesco de Memória do Mundo. As cartas tiveram funções diferentes. A de Mestre João é um documento náutico e com valor para o conhecimento físico - ele assinou a carta como “cirurgião físico”. Já a carta de Caminha [7], um dos sete escrivães da expedição, é um documento histórico ou “o testemunho de criação de uma nação”, como definiu o historiador português José Manuel Garcia, autor do livro Pedro Alvares Cabral e a primeira viagem aos quatro cantos do mundo.

Confira imagens de onde está guardada a Carta de Caminha

O relato de Caminha

Conforme o historiador, a carta tem teor literário e é de grande valor para a historiografia. Há na carta, por exemplo, informações sobre os índios contatados e são criadas primeiras imagens dos habitantes originais que no futuro ajudam a forjar uma identidade brasileira. “Os portugueses se depararam com a natureza em estado absoluto, o que fez com que se construísse o mito do bom selvagem e do paraíso”, assinala Garcia.

A nudez dos índios é mais de uma vez mencionada por Pero Vaz de Caminha salientando a pureza do povo encontrado. “A inocência desta gente é tal que a de Adão não seria maior, com respeito ao pudor”, descreve o escrivão. “Essa é uma grande surpresa que se vê na carta: como é que as pessoas podem andar assim e, no entanto, portam-se bem”; aponta Henrique Leitão.

O espanto de Caminha com a nudez indígena não aparece na primeira edição em livro da carta, feita no Rio de Janeiro em 1817, época que Dom João VI morava no Brasil. Segundo José Manuel Garcia, o rei levou para o Brasil uma cópia da carta. A versão na íntegra só foi conhecida em 1822, em Portugal.

A descrição sobre as pessoas e a paisagem da nova terra encontrada ainda é feita na Relação do Piloto Anônimo [16], uma espécie de diário que descreve a viagem de Cabral de Portugal até Índia. Em uma das passagens sobre o “achamento” do Brasil, o tripulante desconhecido descreve: “A terra é muito abundante em muitas árvores e muitas águas boas e inhames e algodão. Nestes lugares não vimos animal algum. A terra é grande e não sabemos se é ilha ou terra firme. Julgamos que seja pela sua grandeza terra firme. E tem muito bom ar e estes homens têm redes e são grandes pescadores e pescam peixes de muitas espécies”.

De acordo com o livro de José Manuel Garcia, há quatro cópias da carta do piloto anônimo feitas a época da publicação (primeiras décadas do século 16); originalmente escrita em italiano. O único exemplar disponível em Portugal está na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra.

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