30 anos do Viva Maria: Um dia para celebrar "as Marias e as Vitórias"

A jornalista e radialista Mara Régia foi homenageada hoje, no Espaço Cultural da EBC, em uma emocionante comemoração do aniversário de 30 anos do Viva Maria, programa pioneiro na valorização e defesa dos direitos das mulheres brasileiras, que foi ao ar pela primeira vez em 14 de setembro de 1981 pelas ondas da Rádio Nacional. Veja as fotos aqui.

Colegas de profissão, autoridades, lideranças das lutas feministas, representantes do Fórum de Mulheres do Distrito Federal e muitas ouvintes participaram da solenidade em que foi lançado, pelos Correios, em parceria com o ONU Mulheres, o selo comemorativo da data, em que se celebra também o Dia Latino-Americano da Imagem da Mulher nos Meios de Comunicação.

A solenidade foi aberta com uma sonora do programa Viva Maria, em que uma ouvinte  sintetiza a sua importância especialmente para as mulheres simples, e uma retrospectiva da vida profissional e da militância política de Mara Régia, que usou o microfone para despertar consciências e mobilizar as mulheres para se organizarem em defesa de seus direitos.

A secretária de Estado da Mulher do Distrito Federal, Olgamir Amâncio, parabenizou a jornalista Mara Régia pelo trabalho realizado ao longo destes 30 anos e afirmou que o programa Viva Maria é o espaço que possibilitou “dar visibilidade e voz” àquelas que a história e a forma como a nossa sociedade se organiza, insistiu em calar. “ Você, mesmo nos momentos mais adversos, nos momentos em que a nossa sociedade estava fechada para o debate, você ousou , se insurgiu  e deu voz a todos nós, que não tínhamos direito a essa voz”.

A professora da Universidade de Brasília, Tânia Montoro, contou como o programa mobilizou as mulheres para a criação do Fórum de Mulheres do Distrito Federal. “Ela levantava os temas pelo microfone e convidava as mulheres para se encontrarem com ela, discutirem e se organizarem nas lutas. Foi assim que surgiu o Fórum de Mulheres do Distrito Federal, um movimento apartidário e independente de qualquer organização, que foi decisivo em conquistas históricas, como os 120 dias de licença maternidade, na Constituinte, e a criação da Delegacia das Mulheres em Brasília” explicou Tânia Montoro, uma das fundadoras do Fórum.

Cristina Guimarães da Rocha, outra integrante do Fórum que esteve na sede da EBC para cumprimentar Mara Régia, lembrou da importância que o Viva Maria teve no seu começo de vida de imigrante, em Brasília, recém-chegada, em 1986, de São Luiz do Maranhão.

“Ela falava sobre as agressões que às mulheres sofriam, sobre nossos sentimentos, nossa luta do dia a dia com os filhos. Expressava tudo o que eu pensava e sentia e não tinha com quem falar. Então comecei a freqüentar o auditório da Rádio Nacional e a participar do Fórum”.

Fátima Ferreira Lopes, hoje do movimento “Mães Vítimas de Violência”, fez questão de tirar uma foto ao lado de Mara. A âncora do Viva Maria, afinal, protagonizou uma das passagens mais felizes da sua vida familiar:“Minha nora é uma mulher de muitas posses, muito vaidosa e uma perna amputada. Ela tem uma bela coleção de sapatos, mas só usa o pé direito. Então ficava guardando aquelas bandas de sapatos finos, confortáveis, de marca. Eu contei isso pra Mara, lá no auditório da Rádio Nacional, e ela resolveu fazer a “campanha da Cinderela”, para achar outra mulher também só com uma perna que pudesse usar o pé esquerdo. Acabou achando uma senhorinha no interior de Goiás, que o máximo que conhecia na vida era sandália havaiana. A carta de agradecimento que ela mandou pra gente foi uma das coisas mais emocionantes que já aconteceram na minha família”.

A diretora-presidente da EBC, Tereza Cruvinel, disse, em breve discurso, que Mara Régia foi uma precursora da comunicação pública tal como ela seria definida posteriormente na Constituição Federal e institucionalizada, há apenas quatro anos, com a criação da EBC.“Quando surgiu, o Maria Maria era uma experiência de vanguarda, sem abrigo na legislação. Mara queria fazer comunicação pública, uma comunicação que não era para o Estado nem era um negócio do setor privado. Queria fazer comunicação para a sociedade, com a agenda da sociedade e os protagonistas da sociedade. Por isso ela foi punida. Mas a roda da história girou e hoje temos a EBC, uma empresa pública de comunicação pública, que é uma conquista da democracia, uma conquista de todos nós. Hoje é dia de celebrar Marias e Vitórias”, comemorou Tereza Cruvinel.

Depois da solenidade de abertura e do lançamento do selo comemorativo, o aniversário do Viva Maria teve direito a bolo e parabéns antes das participantes do evento voltarem a  refletir sobre a condição feminina. Mara Régia, a presidente da EBC, Tereza Cruvinel,  a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), a professora Tânia Montoro e a publicitária Nádia Rebouças participaram do debate sobre comunicação e gênero – “A imagem da mulher nos meios de comunicação” .