one pixel track analytics scorecard

Digite sua busca e aperte enter


São Paulo - Cerca de 100 pessoas reivindicam moradia digna, em protesto em frente ao prédio da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano

Imagem:

Compartilhar:

Pesquisa mostra desconhecimento de leis que facilitam acesso à moradia

Criado em 01/09/15 14h41 e atualizado em 01/09/15 15h37
Por Pedro Peduzzi Fonte:

O Brasil tem leis adequadas para amenizar os problemas de moradia e de regularização fundiária. No entanto, o Poder Público, especialmente os servidores dos setores administrativo e judicial, e as pessoas que precisam de casa ainda desconhecem as ferramentas disponibilizadas para ajudá-las a obter esse direito. A constatação é da pesquisa Não Tinha Teto, Não Tinha Nada – Porque os instrumentos de regularização fundiária (ainda) não efetivaram o direito à moradia no Brasil, apresentada hoje (1°) no Ministério da Justiça, durante seminário sobre direito à moradia.

Focado na situação de 10 capitais brasileiras, o estudo investigou a efetividade de instrumentos de direito urbanístico em situações envolvendo usucapião especial coletivo urbano (quando um grupo de pessoas fica de forma pacífica em uma terra e após cinco anos consegue, na Justiça, o direito de propriedade e divide as terras entre si); concessão de uso especial para fins de moradia (quando o poder público dá o título de concessão de uso, mas a propriedade continua sendo da União); e legitimação de posse (quando o Poder Público delimita um terreno e dá direito de posse ao cidadão e, após cinco anos, transforma esse direito em direito de propriedade).

Coordenadora da pesquisa, a professora Arícia Fernandes, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), disse que o estudo tenta entender por que as ferramentas criadas para resolver os problemas de moradia no país não têm apresentado os resultados esperados. Segundo Arícia, o Judiciário tem uma visão muito conservadora dessas questões, o que o torna difícil entender a efetividade social de tais instrumentos. A administração pública não sabe aplicar a legislação, e o beneficiário não sabe o que fazer para ter acesso às ferramentas previstas na legislação, a fim de regularizar suas moradia, resumiu a professora.

“A legislação avançou, mas suas ferramentas são pifiamente usadas”, disse Arícia.“Concluímos que Poder Público e beneficiários desconhecem as ferramentas disponíveis para regularizar moradias e que isso ocorre porque falta publicidade, divulgação e debate sobre o tema, envolvendo tanto o Poder Público quanto os beneficiários. Falta também capacitação [dos atores públicos envolvidos nesse processo], de forma a dar maior clareza para essas políticas”,acrescentou.

De acordo com a pesquisadora, o Judiciário ainda carrega "uma visão do século 18" sobre as questões fundiária e de moradia. “[O Judiciário] precisa melhor conhecer a função social da regularização porque não se trata de dar moradia, mas de uma questão envolvendo direito individual e coletivo, por realizar o interesse público. Há, no Judiciário, muita dificuldade para julgar questões coletivas. Por isso, há uma tendência muito forte de desmembrar as ações em lotes, para tratá-las como usucapião individual."

"As pessoas entendem que a regularização de moradias depende de vontade política, e não como política pública. O desafio é fazer com que o Poder Público entenda que a comunidade não é manancial de votos e que suas decisões não podem ser vistas como favores. Há um direito subjetivo nessa questão, envolvendo o direito à cidadania. Essas pessoas estão lá há anos e têm direito a um endereço”, afirmou Arícia. A pesquisadora destacou ainda a necessidade de as autoridades entenderem que a regularização precisa ir além de uma simples posse e considerar também questões fundiárias, urbanísticas, sociais e ambientais. “É levar a cidade às pessoas, com infraestrutura e serviços. Nesse sentido, o Programa Minha Casa, Minha Vida tem ajudado a dar esse esclarecimento.”

Segundo o secretário de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça, Gabriel Sampaio, ao apresentar diagnósticos, a pesquisa torna-se relevante por "abrir diálogos" com cada um dos atores dos Três Poderes. "[Isso] ajuda a desenvolver os instrumentos já existentes para assegurar moradias aos cidadãos brasileiros e possibilitará ao país um avanço nos direitos fundamentais relativos às cidades e às moradias”.

Iniciada em março de 2014, a pesquisa abrangeu as normativas da regularização fundiária e os entraves da aplicação judicial, administrativa e cartorária em dez capitais: Brasília, Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre.

Creative Commons - CC BY 3.0

Dê sua opinião sobre a qualidade do conteúdo que você acessou.

Para registrar sua opinião, copie o link ou o título do conteúdo e clique na barra de manifestação.

Você será direcionado para o "Fale com a Ouvidoria" da EBC e poderá nos ajudar a melhorar nossos serviços, sugerindo, denunciando, reclamando, solicitando e, também, elogiando.

Fazer uma Denúncia Fazer uma Reclamação Fazer uma Elogio Fazer uma Sugestão Fazer uma Solicitação Fazer uma Simplifique

Deixe seu comentário