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A estilista Zuzu Angel

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Zuzu Angel: 37 anos após sua morte, família quer esclarecimento dos fatos

Criado em 14/04/13 12h13 e atualizado em 16/04/13 20h04
Por Leandro Melito Edição:Leyberson Pedrosa Fonte:Portal EBC

Zuzu Angel: 37 anos após sua morte família quer esclarecimentos
Zuzu Angel: apesar do reconhecimento da responsabilidade do Estado brasileiro em 1998, morte não foi totalmente esclarecida (Acervo Instituto Zuzu Angel)

Brasília - Na semana em que a morte da estilista Zuleika Angel Jones, conhecida como Zuzu Angel, completa 37 anos, documentos disponibilizados pelo Wikileaks revelam que a embaixada norte-americana mostrava preocupação com a repercussão do fato na imprensa brasileira e não descartava a hipótese de assassinato. Zuzu Angel morreu em 14/04/1976 em um acidente automobilístico na saída do túnel Dois Irmãos, no Rio de Janeiro.

Um ano antes de sua morte, ela escreveu uma carta ao compositor Chico Buarque e outros amigos dizendo que estava preocupada com a possibilidade de um atentado.“Se algo vier a acontecer comigo, se eu aparecer morta, por acidente, assalto ou qualquer outro meio, terá sido obra dos mesmos assassinos do meu amado filho”, diz um trecho da carta escrita em 23/04/1975 pela estilista.

Outro documento também disponibilizado pelo Wikileaks revela que a mesma embaixada dos EUA  tinha conhecimento do assassinato de Stuart Angel, filho da estilista, por parte de oficiais da marinha, em 1971. Após a morte de Stuart, Zuzu iniciou uma luta intensa para denunciar o assassinato de seu filho.

Em 1998, durante o governo Fernando Henrique Cardoso, a Comissão Especial Sobre Mortos e Desaparecidos reconheceu a responsabilidade do Estado brasileiro na morte da estilista, mas os fatos ainda não foram totalmente esclarecidos.

A morte de Zuzu Angel é um dos casos abordados pela investigação da Comissão Nacional da Verdade. Em entrevista ao Portal EBC, Hildegard Engel, uma das filhas da estilista, diz que vê com “alegria e disponibilidade” a atuação da Comissão, mas considera que o colegiado sofre todos os tipos de pressões.

Ouça o depoimento da jornalista Hildegard Angel sobre a Comissão da Verdade

Creative Commons - CC BY 3.0 -

Neste ano, 37 anos após a morte de sua mãe, Hildegard lembra o esforço de Zuzu para denunciar a morte do filho Stuart. Ela chegou a realizar um desfile de protesto no Consulado brasileiro em Nova York em 1971, ano da morte de Stuart.

Tanto Hildegard quanto sua irmã Ana Cristina Angel eram atrizes de teatro e estavam com 26 e 27 anos, respectivamente, quando sua mãe morreu. Ana reside no exterior desde 1971, ano da morte do irmão. Depois de estudar nos Estados Unidos, ela vive na França há mais de 30 anos. Para Hildegard, a morte da mãe significou o fim da carreira de atriz e o início de uma luta pela preservação da mãe e da memória do irmão.

Ouça o depoimento de Hildegard sobre como abandonou a carreira de atriz

Creative Commons - CC BY 3.0 -

Hildegard afirma que ainda hoje existe uma "corrente obscurantista de direita" que tenta desqualificar sua luta de preservação da memória de seu irmão e sua mãe.

Creative Commons - CC BY 3.0 -

 

Estilista Zuzu Angel
A estilista Zuzu Angel (Acervo Instituto Zuzu Angel)

Revelações

Em depoimento aos jornalistas Marcelo Netto e Rogerio Medeiros para o livro Memórias de Uma Guerra Suja (2012), o ex-colaborador da ditadura militar, Cláudio Guerra fala sobre a morte de Zuzu Angel e dá pistas de um dos possíveis autores: “o acidente da Zuzu tem que ser mais bem investigado. É preciso recuperar e examinar as fotos da imprensa e da perícia na época. As fotos no túnel podem revelar a presença de agentes e oficiais militares superiores que participavam do submundo de nossa guerra”, diz o ex-comandante do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) no Espírito Santo.

Cláudio Guerra aponta a possível participação do coronel Freddie Perdigão Pereira, conhecido como doutor Flávio, e um dos principais articuladores da criação dos DOI-Codis  (Departamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna), onde os presos políticos eram torturados e muitas vezes mortos. “Um tenente de nome Rogério me disse uma vez que o doutor Flávio estava preocupado por ter sido, sem querer, fotografado no local. Ele e várias autoridades foram ver o acidente, para fazer aquela manipulação dos fatos...e ele tinha sido pego na fotografia acidentalmente”, diz ele. Em 1997, aos 60 anos, sem ter respondido ao processo criminal, o coronel morreu durante uma cirurgia de apêndice.

Comissão Especial Sobre Mortos e Desaparecidos
De início, o relator do caso na Comissão Especial recomendou o indeferimento, que só recebeu dois votos contrários. Mas a família de Zuzu decidiu exumar o corpo e entrou com recurso, levando o relator a mergulhar na investigação dos novos dados. A exumação foi realizada por Luís Fondebrider, da Equipe Argentina de Antropologia Forense.

Foram também apresentadas novas testemunhas, entre elas o advogado Carlos Machado Medeiros (filho de um ex-ministro da Justiça de Castello Branco) que trafegava pela estrada Lagoa-Barra da Tijuca e forneceu uma declaração escrita afirmando que : “(…) dois veículos abalroaram o Karmann Ghia azul de uma pessoa que, logo depois, na manhã seguinte, constatei ser Zuzu Angel”.

Com medo de represálias, Medeiros contou apenas aos amigos. Três deles confirmaram integralmente essa declaração perante o relator, Luís Francisco Carvalho Filho, que não conseguiu falar pessoalmente com o advogado Carlos Medeiros -  que também sofreu um acidente automobilístico causador de graves seqüelas e problemas de memória.

Outros depoimentos, recolhidos na segunda fase do processo, foram o da psiquiatra Germana Lamare (a quem Zuzu contou estar sendo ameaçada de morte) e de Marcos Pires, estudante residente na Barra da Tijuca que escutou o ruído do acidente e, ao chegar ao local, já encontrou uma dúzia de carros oficiais, a maioria da polícia, ao redor do automóvel destruído de Zuzu.

As informações foram relatadas em uma carta enviada a Hildegard, filha de Zuzu. Mais tarde, em depoimento prestado a Nilmário Miranda em 12/02/1996, Pires admitiu ter presenciado o acidente:
“Eu só vi um carro saindo (do túnel) e logo em seguida um outro carro que emparelha com esse carro. (…) Eu vi quando o carro que ultrapassa o carro da direita (…) abalroa este carro (…) e faz com que ele caia a uma distância que estimei na hora em cinco metros (…)”. A versão de Marcos Pires contrariava frontalmente o laudo oficial do acidente e praticamente dirimiu todas as dúvidas.

Edição: Leyberson Pedrosa

Creative Commons - CC BY 3.0

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