one pixel track analytics scorecard

Digite sua busca e aperte enter


Além dos esportes como capoeira, a escola Oton Gomes de Lima oferece música, teatro e aulas de reforço no contra turno das aulas

Imagem:

Compartilhar:

Escola em período integral traz bons resultados em Moju, no Pará

Criado em 01/10/12 12h32 e atualizado em 01/10/12 12h39
Por Ana Aranha/Agência Pública Fonte:Agência Pública

Educação e trabalho infantil no Pará - escola Oton
Alunos jovam vôlei no contra turno da aula na escola integral Oton Gomes de Lima (Foto: Ana Aranha/Agência Pública)

Algumas escolas tentam ocupar mais espaço na vida dos alunos. É o que tenta fazer uma secretária municipal de educação a 260 quilômetros de Belém. Moju, cidade de 70 mil habitantes, também sentiu o impacto dos projetos federais no estado. Lá, empresas foram incentivadas a instalar fábricas para processar o óleo de dendê, atraindo famílias em busca de trabalho. Além disso, pequenos proprietários da zona rural venderam suas terras para fazendeiros interessados em produzir em maior escala, o que inchou ainda mais a periferia da cidade.

“O problema começou a ser visto a olhos nus: muitas crianças na rua vendendo e pedindo, adolescentes nos bares e voltando das carvoarias”, diz a secretária de educação Sandra Helena Ataíde. Dentro das escolas, estouravam os índices de repetência, abandono e atraso.

Para tentar reverter o processo, a prefeitura investiu na construção de uma escola em tempo integral destinada aos alunos em vulnerabilidade. Pela manhã, o Centro Municipal de Educação Integral Oton Gomes de Lima oferece aulas regulares da 5a à 8a série para 150 alunos, enquanto os outros 150 participam de atividades esportivas e culturais, como capoeira, música, teatro, natação e esportes. Depois do almoço, as turmas invertem. Das 7 horas da manhã até às 17 horas da tarde há professores disponíveis para tirar dúvidas ou ajudar na lição de casa.

Para formar as primeiras turmas, em 2009, houve uma triagem em todas as escolas da cidade em busca do público alvo: alunos que trabalhavam, sofriam violência em casa, estavam envolvidos com o tráfico ou outras situações de risco. Em geral, aqueles que mais acumulavam repetência e notas baixas.

“Eu quis desistir no primeiro dia”, Sandra confessa. Uma escola especial para alunos vulneráveis fazia todo sentido na teoria. Na prática, virou um caldeirão explosivo. “Eles brigavam por qualquer motivo”, lembra a diretora  Laurimary Mendonça. “Se esmurravam na fila do lanche, davam soco só porque um olhou pro outro, faziam guerra de açaí. Teve um dia em que registramos 46 ocorrências de brigas e discussões”.

Ao invés de virar uma boa referência na cidade, a escola era o lugar onde os pais não queriam matricular seus filhos. “Diziam que era um centro para menores infratores”, diz Laurimary.

Com o tempo, a escola foi aprendendo que concentrar todos os perfis com problemas não seria sustentável e passou a abrir matrículas para todos os interessados. Hoje, segundo os próprios alunos, a vaga naquela escola é o sonho de muitos adolescentes da cidade.

Não é fácil reproduzir a experiência. A diretora calcula que cada aluno do Oton deve custar cerca de cinco vezes o valor das outras escolas da cidade. “Uma escola ainda é pouco, mas a gente precisava começar, para a sociedade assimilar que é possível”, diz a secretária.

Educação e trabalho infantil no Pará - capoeira na escola Oton
Além dos esportes como capoeira, a escola Oton Gomes de Lima oferece música, teatro e aulas de reforço no contra turno das aulas (Foto: Ana Aranha/Agência Pública)

 

Hoje, percorrendo as salas de aulas, não é difícil achar alunos que ainda trabalham. A maior parte, porém, deixou o serviço na semana e faz bicos aos sábados e domingos.

É o caso de Raimunda*, 17 anos. Ela saiu da casa da mãe na zona rural com 12 anos para trabalhar como doméstica na cidade. Foi quando descobriu que teria de voltar a cursar a 1a série, pois ainda não sabia ler e escrever. Atrasada na escola e cansada do trabalho, foi escolhida para estudar no Oton.

Como Iara, ela sempre foi dedicada aos estudos, mas tinha dificuldade para progredir. Hoje seu esforço é bem melhor aproveitado. Nas últimas provas Raimunda tirou dez em todas as matérias, menos geografia e artes, que ficou com 8 e 8,5.

Nos finais de semana, ela ainda faz bicos como recepcionista em uma churrascaria para ter o seu dinheiro. Mas só depois do final das aulas do curso profissionalizante em administração dado por uma das empresas de biodiesel da cidade. “Eles querem profissionalizar os jovens pra trabalhar lá, eu aproveito, é uma chance de um emprego melhor quando terminar os estudos”.

Andando pela escola, Raimunda transborda autoconfiança. “Não sei explicar por que, mas eu me sinto bem aqui”, diz. Esse ano ela passou na primeira fase da Olimpíada de Matemática. “Eu gosto que posso contar com os professores quando tenho dificuldade. E que posso levar os livrinhos de contos da biblioteca pro meu pai. Ele pede pra me ouvir lendo, acho que tem orgulho”.

LEIA TAMBÉM:
Crianças e adolescentes vão para a escola depois do trabalho no Pará
Meninas se mudam para estudar em Belém e trabalham como empregadas domésticas
Trabalho infantil doméstico é o mais difícil de combater
Um orgulho raro: o futuro da Amazônia
Corrupção prejudica a educação na Amazônia

Creative Commons - CC BY 3.0

Dê sua opinião sobre a qualidade do conteúdo que você acessou.

Para registrar sua opinião, copie o link ou o título do conteúdo e clique na barra de manifestação.

Você será direcionado para o "Fale com a Ouvidoria" da EBC e poderá nos ajudar a melhorar nossos serviços, sugerindo, denunciando, reclamando, solicitando e, também, elogiando.

Fazer uma Denúncia Fazer uma Reclamação Fazer uma Elogio Fazer uma Sugestão Fazer uma Solicitação Fazer uma Simplifique

Deixe seu comentário