Caminhos da Reportagem é finalista do Prêmio AMRIGS de Jornalismo
Episódio sobre doença de Chagas e leishmaniose está entre classificados
O episódio "Doença de Chagas e Leishmaniose: retrato do descaso" do Caminhos da Reportagem , programa da TV Brasil , está entre os finalistas do Prêmio AMRIGS de Jornalismo. Iniciativa da Associação Médica do Rio Grande do Sul (AMRIGS), a premiação tem o objetivo de reconhecer trabalhos jornalísticos que se destacaram no último ano dentro da temática “Crise Sanitária COVID-19: perspectivas para o setor saúde”.
Classificada para a fase final na categoria 'TV', a matéria do Caminhos da Reportagem exibida em abril na emissora pública faz uma viagem até Mato Grosso e Pernambuco para contar histórias de quem convive com leishmaniose e doença de Chagas no Brasil. O anúncio dos vencedores acontece na terça-feira (18), Dia do Médico, em evento às 19h no Teatro AMRIGS.
Formada por jornalistas e médicos, a comissão julgadora considerou qualidade narrativa, tratamento contextualizado, domínio técnico e relevância do tema dos trabalhos. Haverá premiação em dinheiro e troféu para os três primeiros colocados em cada modalidade, e os autores premiados também receberão certificado.
Episódio finalista
Leishmaniose e doença de Chagas são doenças que têm muito em comum: são transmitidas por vetores, por insetos, e são consideradas negligenciadas, ou seja, afetam uma população mais pobre. As duas estão presentes em diversas regiões do Brasil.
Durante o episódio finalista do Prêmio AMRIGS, a médica infectologista e professora da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) Márcia Hueb explica que a leishmaniose é uma doença infecciosa que não é contagiosa, ou seja, não passa de uma pessoa para outra. Existe a leishmaniose tegumentar, que pode causar lesões na pele e também lesões nas mucosas; e a leishmaniose visceral, que acomete vísceras e órgãos internos. “Essa é uma doença que não desperta o interesse da grande indústria, porque ela não vai reverter em lucro. São doenças que acometem populações muito empobrecidas, populações negligenciadas”, destaca.
A matéria também entrevista o aposentado Benedito Cambará, 20 dias internado no Hospital Universitário Júlio Müller, em Cuiabá, em decorrência da leishmaniose, que afetou a mucosa da boca. Alguns dias depois que recebeu alta, a equipe de reportagem do programa esteve na casa dele, em Cáceres, a mais de três horas de distância de Cuiabá. Esta foi a segunda vez que o aposentado realizou tratamento para leishmaniose. Na primeira vez, ele interrompeu a medicação e agora, na segunda, a filha, Aparecida, se encarregou de supervisionar o tratamento do pai.
A leishmaniose é causada pelo protozoário leishmania e transmitida pela picada da fêmea de um inseto popularmente conhecido como mosquito palha. Também transmitida por um inseto, a doença de Chagas é considerada a mais brasileira das doenças tropicais. O transmissor, nesse caso, é conhecido como barbeiro. A transmissão acontece pelas fezes do barbeiro depositadas sobre a pele da pessoa, enquanto o inseto suga o sangue. A picada provoca coceira, facilitando a entrada do tripanossomo no organismo, o que também pode ocorrer pela mucosa dos olhos, do nariz e da boca ou por feridas e cortes recentes na pele. Outras formas mais comuns de transmissão são via oral e transmissão vertical via placenta (mãe para filho).
A reportagem revela que a Casa de Chagas, no Recife, Pernambuco, foi a primeira totalmente dedicada ao tratamento de doença de Chagas no mundo. A instituição é considerada referência no país, e todos os dias recebe em média 60 pacientes, que vão para consultas, exames e para o controle do marca-passo, utilizado por muitas pessoas com a doença. “Aqui no ambulatório são atualmente 850 pacientes cadastrados e a gente vê claramente que a doença predomina nas classes menos favorecidas, e isso é algo também que dificulta o tratamento dessas pessoas, que muitas vezes não tem acesso”, explica o médico cardiologista Wilson de Oliveira, também professor na Universidade Federal de Pernambuco.
Jadel Muller Kratz, gerente de Pesquisa e Desenvolvimento da DNDi, afirma que nos últimos 40 anos menos de 1% dos medicamentos produzidos no mundo foram para as doenças tropicais negligenciadas, como a doença de Chagas e a leishmaniose. Ainda hoje há poucas opções de tratamento e os medicamentos existentes são tóxicos, com muitos efeitos colaterais, e complicados de serem usados em áreas de difícil acesso.
Ainda durante o episódio "Doença de Chagas e Leishmaniose: retrato do descaso", a aposentada Severina da Silva conta que foi picada por um barbeiro contaminado ainda jovem. Hoje, aos 91 anos, ela tem que conviver diariamente com os medicamentos para o coração, afetado pela doença de Chagas. Desde a década de 1980, ela faz trabalho voluntário na Casa de Chagas e ajuda outras pessoas que também têm a doença. “Eu gosto de ajudar e eu me sinto bem quando eu faço qualquer coisa para uma pessoa. Eu acho que estou fazendo aquilo ali para o meu bem, não para o seu bem, porque se eu me sinto feliz eu vou melhorar cada dia mais”.
Ficha técnica do episódio
Reportagem: Ana Graziela Aguiar
Produção: Ana Graziela Aguiar e Tiago Bittencourt
Apoio à produção: Aline Beckstein
Imagens: Alexandre Silva e Sigmar Gonçalves
Apoio às imagens: Ronaldo Parra
Auxílio técnico: Alexandre Sousa
Edição de texto: Flávia Lima
Edição de imagens e finalização: Rivaldo Martins
Artes: Eudes Lins
Sobre o Caminhos da Reportagem
Produção jornalística semanal da TV Brasil , o Caminhos da Reportagem leva o telespectador para uma viagem pelo país e pelo mundo atrás de grandes histórias, com uma visão diferente, instigante e complexa de cada um dos assuntos escolhidos.
No ar há mais de uma década, o Caminhos da Reportagem é uma das atrações jornalísticas mais premiadas não só do canal, como também da televisão brasileira. Para contar grandes histórias, os profissionais investigam assuntos variados e revelam os aspectos mais relevantes de cada pauta.
Saúde, economia, comportamento, educação, meio ambiente, segurança, prestação de serviços, cultura e outros tantos temas são abordados de maneira única, levando conteúdo de interesse para a sociedade pela telinha da emissora pública.
Questões atuais e polêmicas são tratadas com profundidade e seriedade pela equipe de profissionais do canal. O trabalho minucioso e bem executado é reconhecido com diversas premiações relevantes no meio jornalístico.
Exibido aos domingos, às 22h, o Caminhos da Reportagem disponibiliza as matérias especiais no site http://tvbrasil.ebc.com.br/caminhosdareportagem e no YouTube da emissora pública em https://www.youtube.com/tvbrasil. As edições anteriores também estão no aplicativo TV Brasil Play, disponível nas versões Android e iOS, e no site http://play.ebc.com.br.
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Caminhos da Reportagem
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